Neste momento em que não temos certeza de nada e estamos cercados de sensações como ansiedade, insegurança e necessidade de readaptação e resiliência, ficam algumas perguntas: Como ter um retorno saudável a nossas funções profissionais? O que vamos enfrentar em nossas vidas? Este alto grau de insegurança pode levar-nos à desorientação, sensação de controle perdido e até mesmo a distúrbios emocionais

Este artigo pretende ajudar a refletir em como devemos reagir a todas essas sensações que estão presentes em nós nesse momento de crise, onde precisamos descobrir e implementar soluções, estabelecendo prioridades bastante claras e, ao mesmo tempo, tendo uma visão do que está acontecendo e do que vai acontecer no futuro.  A primeira constatação sobre o futuro é que não dá para saber nada sobre ele, uma vez que são tantas as variáveis em jogo, qualquer previsão seria frustrada. A única certeza é a mudança.

Diante disso, vamos pensar no presente, em nós, em como essa crise mexe conosco, em como essa pandemia traz desordens internas que podem ser, ao mesmo tempo, boas ou ruins. Ao olhar para essa situação de um modo positivo, ou seja, pensando no que realmente ela apresenta, será que se consegue descobrir coisas que não se via, ou mesmo não se sabía que existiam? O que podemos realmente aprender com os ensinamentos decorrentes da crise? 

Esse período proporciona uma oportunidade de transformação, provocando mudanças reais em nossas vidas, tirando-nos da inércia, estagnação e nos levando para processos mais evolutivos. Será?

Acreditem! Eu não tenho dúvidas, mas é necessário ter coragem para olhar. E a volta ao “normal” só pode ser diferente se as lições aprendidas forem reconhecidas. Devemos aprender a lidar com nossas características e enxergar de frente o que ficou desse período. Creio que para todos nós, um grande presente desse período é a valorização, seja das pessoas, do relacionamento humano, do que o outro realmente é, como também do trabalho.

O trabalho nunca foi tão valorizado, não só porque traz o sustento, mas principalmente por mostrar a capacidade que temos em sermos úteis. Todo ser humano precisa sentir que é capaz de produzir, de realizar, de ser importante e, quando não consegue trabalhar, percebe quanto essa parte da vida faz falta. 

E trabalho chama a reflexão para algo crucial que é o propósito, seja do próprio trabalho, seja da vida. Pensar e agir em relação a tudo isso é um grande presente que essa pandemia pode trazer, mas, o grande perigo da volta é esquecermos das coisas aprendidas. Mas, por que isso pode acontecer? Porque há o grande perigo da negação. É mais cômodo imaginar que tudo ficará como era antes, que tudo está bem e que é só um momento que vai passar. Com certeza, tudo passa, mas o “novo normal” será diferente em vários aspectos e nós seremos diferentes. 

 

O que muda? No que precisaremos estar preparados?

Ponto 1: Reconhecer o impacto que nossos comportamentos e decisões geram nas pessoas, no ambiente e na comunidade mais próxima. Nada do que se faz é capaz de se manter isolado do todo. Sempre se soube disso, mas nunca se entendeu tanto como agora e isso será cada vez mais sentido nos aspectos econômicos, sociais, políticos e empresariais, da mesma forma que o não uso de máscaras pode afetar o colega que está ao lado. 

Ponto 2: Precisamos ser bem flexíveis para olharmos para novos ângulos, descobrir caminhos e modos de ser diferentes para nos reinventarmos e a maneira de vender, produzir, negociar, liderar e criar. O trabalho foi irremediavelmente contaminado pela tecnologia, o home office veio para ficar, as reuniões online, as aulas a distância e a inteligência artificial são mandatórias e há que se ter inteligência, capacidade, vontade e habilidade para lidar com todas as novas formas e carreiras que começam a surgir.

Ponto 3: Comunicação assertiva, constante e confiança, principalmente na relação entre líder e liderados, uma vez que quando um time está ciente do que acontece e entende os desafios e os objetivos da empresa, tem mais capacidade de reagir às situações que se apresentam. E, nem sempre, e, cada vez menos as equipes estarão por perto, ou seja, a liderança acontecerá cada vez mais à distância. O fato de liderar à distância muda tudo, como por exemplo, o acompanhar da tarefa, o alinhamento de expectativas olho no olho, as correções, os feedbacks em real time e presencial. Sendo assim, a comunicação através de toda tecnologia que dispomos será de suma importância e, mais ainda a confiança em quem está no time, surgindo disso tudo uma visão mais humana, ainda que com foco também nos resultados. Estar presente na distância será um grande desafio.

Ponto 4: Autogestão e a liderança autônoma, baseada na confiança e colaboração. Será necessário desenvolver um ritmo e disciplina interna, foco, atenção direcionada, independentemente da existência de uma liderança presente. Liderar nossos pensamentos, nossas emoções, nossas competências, definir resultados e metas a alcançar, dentro de um tempo e procedimentos definidos será uma grande mudança, já anunciada há algum tempo, mas, nesse momento, indispensável e sinônimo de sucesso dentro dessa nova ordem estabelecida.

Ponto 5: Competências diferenciadas, com o desapego do que sabíamos para a conquista do que não se sabe. Aprender a aprender, a grande oportunidade do momento. Cada novo fato ou situação pode ensinar algo. Quais os modelos mentais que precisamos mudar? Apenas profissionais que tenham competências diferenciadas conseguirão dar conta das necessidades que estão surgindo a todo instante. Que competências são essas? As competências do Líder 4.0, que vão desde a Visão ampla e Multidisciplinar, Execução, Agilidade, Empatia, Inovação, Aprender a Aprender, Conexão, Simplicidade, Inteligência Interpessoal, Inteligência Intrapessoal, Inteligência Interartificial, entre outras. Veja mais no curso online aqui.

Ponto 6: Espiritualidade e Equilíbrio nas áreas da vida como família, trabalho, relacionamentos, aprendendo a nos  respeitar e a respeitar os outros. Aqui reside a sutileza dos reais valores, do encontro com a nossa essência e com o que nos preenche, o propósito pelo qual vale a pena viver. Percebemos que nossa vida é nada, somos passíveis de contágios que terminam em óbito e só conseguimos viver o hoje, o agora e a visão da grande conexão que nos rodeia é o que garante uma vida plena de sentido. A partir deste ponto, surge um outro olhar para a própria vida, mais voltado para o interno do que para o externo, mais essencial e profundo, mais responsável e sustentável.

Finalizando essas reflexões, ao retornarmos ao trabalho, precisamos cuidar da estrutura da casa que nos acolheu. Filhos, animais domésticos, companheiros e companheiras que ficaram ao nosso lado o tempo todo sentirão nossa falta e é importante um cuidado com esses seres que talvez não tenham o mesmo entendimento que temos. Explicações, carinhos, afagos, felicidade no retorno à casa talvez sejam bens maiores que estamos ansiosos em tê-los de volta e, portanto, quando tudo voltar ao “normal”, cabe valorizar cada instante, lembrar da importância de cada momento vivido e dar valor ao que não se tinha e ao que se tem. Nesse momento do texto, o passado, o presente e o futuro se dão as mãos para criar a singeleza do simples humano “ser”.

Por Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.

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