O surto do Covid-19, que iniciou em 2019 na China e rapidamente percorreu o mundo, tem colocado sob quarentena ou isolamento milhões de pessoas pelo mundo. A rotina habitual deixou de existir, planos foram interrompidos, as pessoas se sentem ameaçadas por um inimigo invisível que pode ser letal. Como em outros países, no Brasil a quarentena é um ato administrativo e um dos seus objetivos é proteger o sistema de saúde e garantir a sua manutenção para que as pessoas infectadas possam receber os cuidados necessários. Neste modelo, quem define o tempo de afastamento social são as autoridades o que gera incertezas, ansiedade e insegurança pois não existem parâmetros objetivos e definitivos que permitam prever quanto tempo ela irá durar.

Na pandemia muitas pessoas estão se sentindo cada vez mais solitárias. Pessoas que moram sozinhas e que possuem poucos ou nenhum vínculo significativo com outros. Pessoas que vivem com pessoas com as quais têm pouca intimidade emocional ou não encontram nestas relações espaço para se abrirem e serem autênticas. Casais que se deparam com um abismo que não dá mais para disfarçar. Talvez o pior e mais doloroso tipo de solidão seja a Solidão Acompanhada.

Fomos obrigados a parar, a olhar no espelho e ao nosso redor e a enxergar! Essa parada obrigatória pode ser benéfica e muito bem-vinda. Em um mundo tão cheio de distrações, carecemos de ‘tempo” e disposição para olhar para nós mesmos, nossos sentimentos e como estamos vivendo. Algumas perguntas podem ser muito úteis: Como eu tenho escolhido usar o tempo limitado tão precioso que tenho nesta vida? Quais são os meus reais valores? O quê e quem realmente importa para mim? O que tenho feito para conhecer pessoas e manter meus relacionamentos? Como eu trato meus familiares e colegas de trabalho? O que tenho feito para me tornar uma pessoa melhor para mim mesmo, para as pessoas que convivem comigo, para a humanidade? Estas são perguntas que normalmente não nos fazemos, mas que podem ser cruciais para o nosso crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional.

Paradoxalmente, nesta fase temos a oportunidade de transformar ISOLAMENTO em CONEXÃO

  • Conexão comigo mesmo = posso aproveitar este tempo para conhecer melhor esse “estranho EU” que habita em mim
  • Conexão com as pessoas com quem convivo ou me relaciono = posso aproveitar a quarentena para me conectar verdadeiramente com as pessoas, especialmente as que estão tão perto a ponto de deixarmos de enxergá-las.
  • Conexão com a HUMANIDADE = a pandemia que começou do outro lado do mundo e chegou tão rapidamente, nos coloca diante de uma inexorável verdade – a de que estamos todos conectados, somos todos UM – “Huma Unidade”… Isso impõe uma responsabilidade social e relacional. Por estarmos todos ligados, as escolhas que eu faço e meus comportamentos geram consequências diretas ou indiretas para mim e para os outros.

Todos queremos estar a salvos desta pandemia, queremos ter saúde, sermos amados, que nossos entes queridos fiquem protegidos, um trabalho digno, bons amigos, sermos reconhecidos. Todos estamos sentindo medo, ansiedade e alguma solidão agora. Compartilhamos de necessidades, anseios, desejos, dores e esperanças comuns. Saber que há reações e sentimentos “normais” diante desta realidade “anormal” que estamos vivendo ajuda a lembrar que temos uma Humanidade Compartilhada, não estamos sós!

O que os RHs podem e devem fazer diante disso?

Mostrar que as pessoas não estão sozinhas e estão sendo cuidadas pela empresa! Ajudar quem está trabalhando a enfrentar tudo da melhor forma. Treinar os líderes para acolher, apoiar e motivar as pessoas em trabalho remoto e os que estão em campo. Oferecer Lives de Bate Papo com psicólogos, Webinars de Saúde Mental, Oficinas de Meditação, Coaching de Estresse entre outras opções que instrumentalizem e desenvolvam competências para os colaboradores lidarem com essa fase com menos sofrimento e menos sequelas. Criar oportunidades online de troca, conversa, espaços virtuais onde as pessoas possam ouvir especialistas e falar dos desafios desta fase, trocar experiências, compartilhar o que está funcionando, o que têm experimentado que tem dado certo para lidarem com o estresse, com as mudanças na vida, pensarem juntos o que mais pode ser feito diferente, encontrar soluções emocionais e práticas para algo totalmente inusitado. É um investimento em que todos ganham!

Rosalina Moura é Psicóloga Clínica, Organizacional e Coach. Sócio fundadora da Rumo Saudável, empresa que atua no segmento de bem-estar, saúde mental  e gerenciamento do estresse em Organizações. É um das Colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação.

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