Você já ouviu falar da campanha Janeiro Branco? Ela se iniciou há 8 anos como iniciativa de psicólogos brasileiros e tem como objetivo disseminar informações e conhecimento sobre a importância do cuidado com as emoções e com a saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Há alguns anos vemos a saúde mental conquistar espaço de interesse de vários segmentos, inclusive das organizações. Quando comecei a trabalhar com programas de gerenciamento do estresse e saúde mental em empresas há mais de 20 anos o tema era de extremo tabu e os RHs evitavam incluir nos programas qualquer palavra que pudesse fazer alusão a ele, era necessário “disfarçar”. Ainda não podemos dizer que não há mais preconceito, mas vamos nessa direção. A pandemia do Novo Coronavírus e seus impactos devastadores na Saúde Mental deu um impulso nesse processo.
Um estudo recente realizado pela Organização Mundial da Saúde identificou que o Brasil é o país número 1 no ranking mundial de ansiedade e o quinto em depressão. Em muitos segmentos já é a principal causa de afastamento do trabalho gerando impactos sociais e financeiros significativos, diretos e indiretos.
Estes dados alarmantes revelam a importância de as empresas abordarem com seriedade e consistência o tema em seus programas de saúde e qualidade de vida com foco na prevenção primária, secundária e terciária. Além disso é necessário que faça parte do planejamento estratégico e se desenvolva uma cultura de cuidados com saúde mental dentro das empresas. Algumas possibilidades nessa direção:
- implementar um Programa de Saúde e Bem-Estar baseado na realidade, necessidades e interesse das pessoas
- mapear e rastrear a saúde mental da sua população
- abordar e trabalhar os temas relacionados à saúde e doença mental de forma contínua e consistente
- capacitar os líderes
- orientar e informar sobre os sinais do estresse excessivo e das doenças mentais comuns
- garantir acesso a tratamento mental de qualidade e monitorado
- instrumentalizar as pessoas para lidarem com problemas, conflitos, relacionamentos, estresse e desenvolver resiliência
Além destas estratégias é preciso fomentar um ambiente de trabalho saudável e eliminar as toxicidades. É preciso identificar as condições de risco psicossocial relacionadas à dinâmica e Organização do Trabalho. Destaco:
- falta de clareza do seu papel no trabalho
- baixo controle decisório e baixa autonomia
- excesso de trabalho, cobranças e pressão incompatíveis com a capacidade de atender a essa demanda
- competição excessiva e desleal
- metas impossíveis
- reuniões exaustivas e desnecessárias
- mensagens contraditórias e não claras
- falta de cultura de feedback
- líderes despreparados para lidar com pessoas e com conflitos
Quando pensamos em saúde mental no trabalho os líderes têm um papel fundamental pois são influenciadores e multiplicadores. Pela sua posição têm o poder de maximizar ou minimizar o estresse das equipes. Além disso sofrem altos níveis de estresse e desgaste, muitas vezes sem recursos e treinamento suficiente para lidar com pessoas e conflitos e sem conhecimento de como ajudar a sua equipe e promover saúde mental no trabalho.
Se a sua empresa quer começar por algum lugar a cuidar da saúde mental de seus colaboradores eu recomendo que comece conhecendo a sua realidade, as condições de saúde mental das pessoas, suas forças e suas necessidades. E como intervenção, invista na capacitação dos líderes para que aprendam a gerenciar o estresse pessoal e a gerenciar o estresse das suas equipes.
Rosalina Moura é Psicóloga Clínica, Organizacional e Coach. Sócio fundadora da Rumo Saudável, empresa que atua no segmento de bem-estar, saúde mental e gerenciamento do estresse em Organizações. É um das Colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação.