O programa de recrutamento exclusivo para afrodescendente e o velho dito popular “o inferno está cheio de boas intenções”. Apesar da boa intenção de proporcionar uma oportunidade a quem tem sido discriminado, alimentou o sectarismo destrutivo dos que consideram esse segmento vítima da sociedade branca, e acirrou o racismo inverso.

Não se contesta que a libertação dos escravos sem criar mecanismos de viabilidade econômica produziu um grande contingente de párias deixados à própria sorte. As dificuldades enfrentadas pelos libertos foram enormes, agravadas pela base cultural muito distante da cultura europeia.

No Brasil, a segregação racial foi menos acintosa do que em outras partes do mundo, mas não se pode dizer que foi menos cruel, nem que já acabou. Todavia, a inclusão social sem restrições não se obtém por imposição legal, mas por afinidade e acomodação a longo prazo. Os 130 anos da libertação produziu avanços, mas não há como negar que não foi suficiente para igualar as oportunidades. Todavia, é necessário cautela e equilíbrio para avançar nesse sentido sem criar mais problemas, ou criar confronto improdutivo.

Infelizmente, na esteira desse processo, logo surgiram as “entidades de defesa das minorias”, lobbies políticos, cobrando tratamento especial, e propugnando por leis para criminalizar qualquer sinal de preconceito, mas cujo objetivo real é conquistar adeptos e obter votos através desses movimentos que mais antagonizam do que harmonizam os diferentes segmentos sociais.

As iniciativas para promover uma sociedade igualitária são de extrema importância, mas é um erro grosseiro visar exclusivamente os brasileiros afrodescendentes, quando as carências atingem indistintamente uma significativa parcela da sociedade. Convém considerar que o nó górdio para a verdadeiro inclusão social não é a cor da pele, mas a deficiência educacional no mais amplo sentido.

Como aplicar o programa oficial de Educação Infantil, Pré-escola e Ensino Fundamental, estabelecido por lei como obrigação dos pais e dever do Estado, em famílias inviáveis economicamente falando? A evasão escolar para suplementar a renda familiar é uma realidade visível. O despreparo para atividades mais bem remuneradas e progresso nas carreiras profissionais é a verdadeira barreira.

A meu juízo, as políticas governamentais postas em prática como o estabelecimento de quotas nas faculdades e a oferta de outras vantagens compensatórias não corrigem a causa, e mais humilham do que ajudam, além de incentivar a busca de vantagens sem mérito, o que não garante sucesso futuro.

 

Como a iniciativa privada pode ajudar?

A conquista da cidadania plena se consolida com a viabilidade econômica, razão pela qual acredito que as atividades produtivas podem e devem exercer importante papel na inclusão social dos que ainda vivem abaixo da linha de pobreza, implantando programas para promover o desenvolvimento pessoal e profissional, alinhadas às oportunidades de emprego e carreira, dedicando especial atenção aos filhos de seus colaboradores.

Os programas de aprendizado e de estágio são os meios mais eficientes para esse fim. Bolsas de Estudo podem ser concedidas a funcionários e familiares com boas perspectivas de sucesso. Outra opção que anda meio esquecida são os Projetos de Voluntariado que se desenvolvem junto às comunidades menos favorecidas, visando formar profissionais para a própria empresa.

A verdadeira igualdade social não pode estar fundada em excepcionalidades de qualquer espécie, e deve ocorrer naturalmente, sem alardes, através das lideranças tratando a todos com equanimidade.

Os líderes influenciam o comportamento do grupo, e o comportamento do grupo se impõe naturalmente a eventuais desvios individuais, equalizando as atitudes de todos os seus participantes de forma natural. A harmonia entre todos os agentes produz o prazer de pertencer ao grupo e o engajamento natural que sustenta um clima organizacional de elevado nível.

Por Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.