O sucesso e o insucesso é um tema bastante intrigante, uma vez que nos remete a dores e vitórias iniciadas na nossa mais tenra idade e é preenchido por expectativas alcançadas ou não dos pais e mães de todas as gerações, focadas sempre no desejo de progresso dos filhos.

No entanto, não há quem viva apenas de sucesso, da mesma forma que é impossível passar a vida acumulando fracassos. Você já passou por sucessos profissionais/pessoais? Você já passou por insucessos?

Antes que responda a essas perguntas, surge uma outra indagação que vale a pena colocar na roda: Afinal, o que é sucesso?  Vamos refletir um pouco. Temos muitas definições, mas ao analisar a etimologia da palavra, vemos que vem do latim successus e também succedere. O que é succedere? Succedere quer dizer movimento, um deslocamento, algo que acontece, independentemente de ser bom ou não.

Imagine que apenas no século XV o sucesso passou a ter a conotação que tem para nós, ou seja, algo positivo. Até então, sucesso era movimento, fato esse muito interessante, porque vemos que o modelo mental que temos hoje é diferente. Às vezes consideramos sucesso o que nos coloca no pódio, ou em primeiro lugar. Só tem sucesso aquele que consegue algo ou é alguém a mais, com uma grande vantagem em relação aos outros, cujo salário e bônus são maiores, ou ainda quem está  numa posição de destaque.

Alguém que apenas faz um caminho consistente não é visto como uma pessoa de sucesso. Ou seja, uma vida bem-sucedida é a de quem chegou no pódio e ficou por lá …. o que significa que se não está no pódio não tem sucesso, ou seja, o que sobra é o insucesso ou o fracasso. Será?

Outro ponto a ser considerado é a relação entre o ser e ter, pois entende-se sucesso pela quantidade e qualidade do que se tem e não pelo que se é. Exemplificando, alguém tem sucesso porque tem uma linda casa, um carro considerado de luxo, ou seja, bens materiais que, de alguma forma, comunicam que aquele indivíduo é alguém de posses, de sucesso. Aí observa-se também a necessidade do reconhecimento social.

Desta forma, sucesso é algo externo e não interno e nesse ponto da análise cabe uma reflexão, pois se o sucesso é  algo externo, é sempre necessário correr atrás dele…. está do lado de fora. Isso pode ser desesperador, pois se é necessário correr sempre atrás do que não se possui, é possível que passemos a vida correndo, algumas vezes conseguindo e outras perdendo, mas nunca sendo “dono do que não se é”.

Mas a chave é olhar o sucesso de forma diferente. Quando se olha o sucesso como o que se “é”,muda-se completamente a visão. Com isso, não defendo a zona de conforto, muito pelo contrário, sucesso é colocar-se na zona de expansão, tendo como base o que se “é” e não o que “não se é” ou “o que se tem”.

Ser uma pessoa de sucesso, a partir do “ser”, parte do princípio do reconhecimento dos recursos internos, das competências e de conseguir potencializá-las em benefício de um determinado caminho escolhido. O autorreconhecimento permite que se viva um caminho com altos e baixos, com facilidades e dificuldades, típicas do que se conhece como vida, no ritmo pertinente de reunião e expansão, sem classificar a reunião, movimentos mais lentos e difíceis como insucesso e, também, sem categorizar a expansão e o pódio como sucesso.

Nessa perspectiva, sucesso é o movimento que se faz, de um lugar para outro, no caminho que se trilha, que pode ser lateral, vertical, ou mesmo de retorno. Talvez o que se pode entender como insucesso é ficar parado no mesmo lugar, sem movimento, sem ação.

Nesse momento singular que vivemos, estamos em agosto de 2020, muitas pessoas diminuíram seus rendimentos, tiveram perdas materiais, mas são os que persistem caminhando e apostando nas suas competências, os que podem ser considerados como bem-sucedidos. Os que se adaptam, os que se flexibilizam, os que buscam novas formas de pensar e agir são os que continuam no suceder dos passos da grande caminhada que se chama vida. Entendo que esta forma de entender o sucesso é muito mais verdadeira e consciente.

Quando o sucesso está no “ser”, não faltam recursos, uma vez que as competências podem sem ampliadas e renovadas. Se  o sucesso está no “ter” e, por força das condições, os bens materiais se vão, o insucesso e o fracasso são os companheiros da viagem.

Assim, quanto mais se sabe quem se é, mais é possível caminhar e reconhecer que o sucesso é uma grande estrada eternamente em construção.

Lembrando a fala de Joaquim Phoenix, ao receber o Oscar de melhor ator no filme Coringa, pode-se reconhecer que o sucesso não é o pódio, mas, sim, o caminho que se faz em direção a melhorar a condição humana. Ele disse: ”Não sou melhor do que ninguém. Olha, eu sou igual a todos vocês. O que nos une é o nosso amor pelo cinema. Muitas vezes a gente acha que o sucesso é tão importante que nos sobe à cabeça.  É olhar para o sucesso e ver que você não é melhor do que ninguém.” Ele fala ainda: “como artista o sucesso é poder dar voz a quem não tem voz.” Ou seja, o sucesso é importante quando se consegue fazer algo para a humanidade, algo que tenha valor, um legado.

Talvez agora caiba a pergunta: Como você lida com o sucesso? Se lida com prepotência, com vaidade, se acha que o sucesso é apenas seu, talvez esteja distorcendo o valor desse lindo caminho. Por outro lado, se olha para o sucesso como um um movimento, algo que aconteceu, acontece e vai acontecer, o sucesso é natural, é simplesmente a expressão do seu ser, sem travas.

O insucesso, às vezes, é caminhar por onde os pais quiseram que se caminhasse, cursando uma formação indesejada, apenas por dificuldade de escolha. Ser o que não se é talvez seja o maior dos insucessos.  Sucesso é a expressão do próprio ser, quando seu ser é disponibilizado para algo que está a serviço da humanidade. E aqui quero deixar claro que o sucesso pode estar em quem se dedica a faxinar casas, escrever livros, dar aulas, pintar e consertar casas, fazer planilhas de excel, liderar pessoas, enfim, tudo é possível desde que não se contradiga a própria essência.

Mas, assim como o sucesso é algo natural, o insucesso como conhecemos vulgarmente também o é. Há pessoas que acumulam muito sucesso durante um tempo e depois a vida dá uma guinada, muda de direção. Parece que o que se conquistou é perdido em um movimento de retração e fica uma sensação de fracasso. Essa sensação precisa ser revista, repensada e ressignificada.  A vida é esse movimento de expansão e retração, assim como os ciclos da natureza, como as ondas do mar, as correntes aéreas. Portanto, a vida pessoal e profissional passam por esses movimentos, os altos e baixos, a reunião e expansão.

Se há o entendimento da naturalidade desse processo, pode-se aproveitar um momento de retração (considerado vulgarmente como insucesso), uma oportunidade de ajustar questões internas, apostar em desenvolver competências novas, ir para o novo, uma vez que o velho caminho já se fechou e aprender, acima de tudo, desenvolver-se, capacitar-se, para trilhar novas estradas.

Como acompanho a vida de profissionais, com quem faço mentoria e desenvolvimento, posso observar que o que se considerou insucesso em um intervalo de tempo, torna-se a mola propulsora para o que se entende por sucesso em outro momento, abrangendo  inclusive outras áreas da vida.

Explicando melhor, por vezes temos expansão em apenas uma área da vida e, quando há a retração nessa área, as outras começam a ser lembradas. E, com o passar do tempo, a retração diminui e retorna o movimento de expansão.

Especificamente nestes nossos dias de desafio, face à pandemia e à consequente crise econômica, muitas pessoas estão em casa, com seus salários diminuídos, mas afirmam, em alguns casos, terem expandido suas relações familiares e observam que podem viver com menos, trilhando outras maneiras de viver.

O que se entende como insucesso talvez seja uma parada de movimento, ou uma diminuição de ritmo para uma reavaliação e reconquista de forças para fazer novos movimentos.

Ou seja, o movimento de reunião, retração, esvaziamento é muito importante para todos, por isso é natural. Caso nunca acontecesse, talvez tivéssemos uma espécie de inundação. Vamos comparar com o mar: imagine se fosse somente para frente, só expandindo… talvez inundasse toda a terra. Por vezes, quando uma pessoa fica só na expansão de alguma área da sua vida, às vezes provoca uma enchente na família, afoga algumas pessoas, amigos, ou outros aspectos, por não reconhecer o momento de recolher sua energia da área em questão.

Assim, o que percebo é que o que se entende como insucesso é, na verdade, parte de um caminho maior, e, dependendo do olhar, pode-se lidar com ele de um modo muito mais natural e focado em um grande crescimento.

O sucesso e o insucesso fazem parte de um mesmo caminho.  Se  o insucesso é olhado como fracasso ou incompetência, o impacto na autoestima é grande, gerando, inclusive, problemas físicos e emocionais. Assim, tendo a plena consciência da necessidade de mais e mais discussões sobre o tema, deixo aqui algumas poucas dicas que ajudam a lidar com esse caminho de sucessos e insucessos, altos e baixos, expansão e retração … que se chama … vida:

  • Estabeleça metas diárias e curtas
  • Valorize o caminho que trilha e não só o resultado
  • Não se compare a ninguém
  • Invista em autoconhecimento
  • Entenda o sucesso como algo natural
  • É natural ter sucesso em algumas áreas da vida e em outras não
  • A retração é tão natural quanto a expansão
  • Aproveite o momento de retração para expandir áreas da vida que estavam paradas
  • Sempre aprenda
  • Olhe para sua vida como se estivesse do alto de uma montanha, vendo o todo
  • Reconheça algum insucesso que se tornou base para sua força atual
  • Aproveite o caminho, valorizando cada passo e reconhecendo os recursos que possui.

Por Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.