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    Nos embalos da campanha Setembro Amarelo, que conscientiza a população a respeito dos cuidados com a saúde mental e sobre a prevenção do suicídio, diversas empresas mergulham fundo em iniciativas que promovem bem-estar e acolhimento a seu time de trabalho.

    Com a chegada da pandemia, então, a preocupação com o emocional da equipe se tornou maior e cada vez mais organizações investem em benefícios e numa comunicação mais próxima entre líderes, RHs e empregados para compreender as dificuldades que a rotina pandêmica impôs às pessoas. No entanto, não é incomum que, mesmo em meio às variadas iniciativas, alguns problemas preocupantes ainda assim passem despercebidos, como a produtividade tóxica.

    Mas o que é isso?

    Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 70% dos brasileiros afirmam que sua carga de trabalho aumentou em 2020 e 2021. A adoção de muitas empresas ao home office trouxe a discussão referente ao chamado modelo híbrido se tornar uma tendência pós-pandemia, contudo, nem todos os negócios e colaboradores se adaptaram da melhor forma ao trabalho a distância.

    Sem horário certo para iniciar e encerrar o trabalho, a falta de limite para as atividades profissionais tem levado os profissionais brasileiros à sobrecarga. “A exaustão mental está cada vez mais presente na população economicamente ativa. Fatores como medo de adoecimento, redução de convívio social, ausência de separação do local de trabalho e da moradia, estão entre os que estão mais relacionados ao aumento da exaustão, e essa carga emocional forte pode acarretar problemas sérios tanto para saúde física como para a psicológica”, afirma o Dr. Lucas Tiso, coordenador médico da Amparo, healthtech de telemedicina.

    De acordo com a psicóloga Denise Queiroga, a produtividade ganha contornos de toxicidade à medida que muitas pessoas se definem por ela ou se sentem obrigadas a entrar em um ritmo intenso de produção. Não é à toa, por exemplo, que a ISMA-BR (International Stress Management Association) identificou em pesquisa que 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho já sofreram alguma sequela ocasionada pelo estresse. Do total, praticamente um terço enfrentou ou ainda convive com a Síndrome de Burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional) e 92% da população com o distúrbio segue trabalhando. É válido destacar, também, que segundo o estudo, somente o Japão tem mais casos de Burnout do que o Brasil.

    “Atuo como psicóloga há quase 20 anos e estou, aos poucos, diminuindo o ritmo para entrar em um período sabático de estudos e relaxamento no ano que vem. Ouço meu corpo e ele pede para eu parar um pouco. Porém, essa possibilidade é um luxo, muitas pessoas encaram jornadas que vão de domingo a domingo. Mais do que nunca é necessário as empresas olharem para essas pessoas e criarem um ambiente confortável para que elas possam frear. É claro que para muitos gestores, quanto mais rápido, intenso e produtivo um colaborador for, melhor, mas o olhar resumido aos números faz com que as pessoas tenham o seu emocional fragilizado. Todos têm um limite. Falta para o mercado de trabalho um olhar mais humanizado e menos automatizado. Ninguém é uma máquina, um número ou se resume a produzir. Inclusive, é quando se sente bem, motivado e saudável que o colaborador realmente traz resultados positivos ao negócio e a sua carreira”, pontua.

    Como combater a produtividade tóxica?

    A pandemia colocou muitas pessoas sob pressão. Embora o home office possa ser encarado até como um ganho de tempo para que, por exemplo, as horas dedicadas à ida e à volta do trabalho sejam distribuídas em estudo, meditação, lazer ou afins, na prática nem sempre é assim. Pressionados para demonstrar serviço, os colaboradores a distância elevam o seu ritmo e se sentem na obrigação de estar à disposição em cada momento do dia. Diante disso, muitos líderes, talvez pela não percepção do problema, enviam mensagens, e-mails e demandas fora do horário de trabalho, o que só aumenta a ansiedade do empregado.

    “Trabalhar em casa trouxe autonomia, tempo com a família, mas também estresse. As pessoas sentem culpa, sentem que estão perdendo algo, que não estão integradas nas reuniões, no dia a dia da empresa. Em um ambiente presencial você se sente mais no controle, tem uma noção maior do que está acontecendo, enquanto em casa parece ser mais incerto e você se vê na obrigação de mostrar serviço a todo instante. Além disso, muitos RHs, líderes e gestores não estão adaptados a essa rotina e também se perdem na pressão que se impõem. É extremamente necessário ter uma comunicação poderosa para que todos estejam alinhados e dentro daquilo que podem oferecer”, pontua Denise.

    Além disso, a psicóloga destaca que não é necessário a organização criar estratégias mirabolantes para cuidar do bem-estar. Para ela, é fundamental promover uma mudança de cultura que, vale ressaltar, não está só no ambiente de trabalho. As pessoas se sentem mal por parar por alguns momentos e relaxar. É socialmente bem-visto produzir a todo instante – o que inclui afazeres domésticos e pessoais – e segundo a especialista tal visão precisa mudar.

    “Já que estamos no Setembro Amarelo, aqui vão algumas dicas às empresas. Ao invés de concentrar todos os esforços em yoga online, terapias e afins, o que é muito bom, não estou dizendo o contrário, trabalhe um ambiente de trabalho que acolha. Pague salários justos, permita que as pessoas possam se sentir vulneráveis, se comunique, busque ouvir suas preocupações e mostre desejo de ajudar, respeite o horário de trabalho, procure entender se o colaborador está dando conta do ritmo, se ele está feliz, se não se sente frustrado ou sobrecarregado. Hoje, empresas que não têm a capacidade de promover bem-estar, de se preocupar com a saúde mental das pessoas, tendem a perder competitividade. Precisamos combater essa cultura workaholic, de vício no trabalho, de culpa, de medo. Apague o famoso ‘trabalhe enquanto eles dormem’ da sua rotina. Trabalhe, durma e se valorize. As pessoas não se resumem ao trabalho, ao que produzem”, finaliza Denise.

    Por Bruno Piai

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