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maio 19, 2021 às 12:35 am #9010AnônimoConvidado
O “S” da questão: a Saúde Mental no plano tático e foco estratégico das organizações. A sigla ESG (Environmental, Social and Governance) tomou o cenário das discussões das empresas no ano de 2020 e em 2021 o tema ganhou força. Ela se refere a como as empresas e líderes devem se posicionar nesse novo cenário global e as repercussões disso na imagem organizacional, na visão de valor e nos negócios. Cada uma das dimensões representadas pela sigla engloba diversos aspectos.
Na definição de cada letra, o E (Environmental) se refere às práticas sustentáveis, quando as empresas e a sua produção levam em conta questões como o uso da energia e da água, as emissões de carbono e reciclagem, entre outros. O S (Social) relaciona-se ao impacto da empresa na força de trabalho e na comunidade na qual está inserida. Inclui questões como saúde mental, diversidade, equidade de gênero, direitos dos trabalhadores e ações de apoio à comunidade. Já o G (Governança) refere-se a como a empresa é comandada, a composição das mesas diretoras, a interação com seus acionistas e sua remuneração e direitos.
Saúde Mental no foco estratégico das organizações
O papel estratégico das áreas de Recursos Humanos e da Saúde e Segurança Ocupacional está justamente no “S” da questão, onde diversas ações relacionadas à saúde mental podem ser implementadas, tanto para os trabalhadores, quanto para seus dependentes e comunidades.
A crise pandêmica exacerbou quadros de adoecimento mental. Conforme dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho houve um aumento de 26% na concessão de aposentadorias por invalidez e auxílios-doença, devido a transtornos mentais e comportamentais, a maior alta já registrada. Esse recorde revela o impacto nocivo da crise do coronavírus na saúde mental dos trabalhadores e nos negócios.
Neste contexto, a avaliação dos fatores psicossociais do trabalho não é apenas um imperativo legal, porque o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) através de suas Normas Regulamentadoras (NRs) exige essa avaliação para trabalhadores que atuam em ambientes periculosos, como por exemplo ambientes confinados, altura, operação de máquinas, entre outros. Com a crise, passou também a ser uma necessidade, diante do intenso sofrimento da força de trabalho e um diferencial competitivo para os negócios.
Os riscos psicossociais do trabalho decorrem de interações entre contexto e condições de trabalho, aspectos organizacionais e conteúdo do trabalho, características individuais e familiares dos trabalhadores. Ou seja, são multicausais. Por isso, o rastreio deve ser realizado através de método confiável e alinhado com boas práticas internacionais. Alguns exemplos desses riscos são as altas cargas de trabalho, carga mental/cognitiva, assédio moral, pressão por prazos, desequilíbrio entre vida pessoal e trabalho, carga cognitiva, falta de autonomia e participação na tomada de decisões que afetam o colaborador, entre outros.
Além de causar estresse, que é um perigo por si só, os fatores de risco psicossociais podem levar também ao adoecimento físico. Por exemplo, pode haver mudanças no corpo relacionadas ao estresse (ex. risco cardiovascular). Portanto, os fatores físicos e psicossociais precisam ser identificados e geridos – de forma preditiva, não apenas reativa, para garantir a saúde e a segurança no trabalho.
As ações relativas ao “S” de social devem abranger a “Saúde Mental” como um desdobramento tático As ações devem ser planejadas e executadas considerando os indicadores obtidos no diagnóstico, alinhadas com as reais necessidades dos colaboradores, não só como um benefício oferecido aos trabalhadores ou através de ações isoladas e “descoordenadas”. O tema da saúde mental não pode mais ser negligenciado, afinal, ele já está na agenda de executivos e investidores. Diante disso, a sustentabilidade não pode ficar restrita a projetos sociais financiados pela empresa, deve incluir ações sistêmicas, que estejam na estratégia do negócio. Sem pessoas psicologicamente saudáveis não há engajamento, alta performance e produtividade.
Para se manterem competitivas, as empresas terão de repensar a forma como interagem e apoiam tanto seus trabalhadores, quanto sua comunidade e o planeta. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU também enfatizam o papel das empresas e seu compromisso real com o futuro. Portanto, a preocupação com os fatores psicossociais do trabalho também está alinhada com isso. Sem dúvidas saúde mental é o “S” da questão.
Por Dra. Ana Carolina Peuker, CEO da Bee Touch. Especialista em Psicologia Clínica, realizou Pós Doutorado no Grupo de Estudos Avançados em Psicologia da Saúde – GEAPSA (UNISINOS).
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