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setembro 21, 2021 às 12:58 pm #15488AnônimoConvidado
O tempo é agora: para dizer basta ao preconceito, discriminação e a todos os “ismos”: etarismo, capacitismo, sexismo, machismo, negacionismo…
Basta, porque o que temos como consequências:
- Um país com mais de 569 mil mortes por COVID-19, em 16.09.2021. Luto.
- Desemprego, que no trimestre de fevereiro a abril de 2021 se manteve em 14,7%, o maior índice desde o início da série histórica do IBGE, em 2012.
- Aumento de moradores de rua, que, em março de 2020, eram estimados em 222 mil, e que tendia a aumentar com a crise econômica acentuada pela pandemia. Moradores de rua e em situação de rua, por falta de renda e por desumanidade, quando retroescavadeiras avançam sobre as casas com todos os pertences, tornando-os pó, em ações de reintegração de posse, em plena pandemia.
- O futuro sem ensino no presente. Iludiram-se os que achavam que o ensino a distância seria acessível a todos. Iludiram-se duplamente, pois, além de retirar o acesso ao ensino, também foi retirado o acesso à alimentação, à merenda escolar, que para muitos era a melhor refeição do dia.
- Mais de 130 mil crianças brasileiras de até 17 anos de idade ficaram órfãs por causa da Covid-19, entre março 2020 e abril deste ano.
Quantos anos pagaremos por esses ônus?
Sabemos que, neste país, cor e classe social são fatores de alto risco, sempre. Agora a pandemia trouxe à tona essa realidade.
Os protagonistas pobres e miseráveis são, quantitativamente, pretos e pardos.
Estão em um contexto, a maioria moradores em zonas periféricas, sem infraestrutura, transporte, ensino, trabalho, renda, acesso à serviços de saúde.
Estudos recentemente publicados pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde Pública da PUC-Rio de Janeiro e o Instituto Polis apontam que: dos contaminados, quase 55% dos pretos e pardos vão a óbito.
Evidenciam- se a ineficiência e ineficácia das instituições públicas brasileiras, idealizadas para assistir aos pobres e miseráveis e mantê-los nesses patamares, pobreza e miséria, sem qualquer intenção de desenvolvimento, reparação histórica ou de combate ao racismo estrutural e por consequência, racismo institucional.
Desigualdade Racial é um Risco Social Gerador de Mortes
A diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Clarissa F. Etienne, fez um clamor pedindo que as autoridades brasileiras tratassem o tema da desigualdade racial como ponto central e urgente no contexto de combate à pandemia. Clamou em vão. O alerta não impediu que as ações fossem em sentido contrário a todas as recomendações; nacionais e internacionais.
Enquanto isso, a “caravana da morte” foi a Manaus em 15 de janeiro de 2021, e só agora chega ao conhecimento público, por causa da CPI da COVID-19.
Médicos dessa caravana foram até Manaus para identificar possibilidades de ajuda. Como alguns médicos locais foram contrários ao uso da medicação preventiva, a sugestão de ajuda foi a de construir tendas, nas quais médicos e enfermeiros atenderiam e caberia ao doente, a escolha do medicamento.
Essas notícias importam a quem?
A reação do 2º Setor
Temos oportunidades vindas de empresas privadas, via ação de seus CEOs.
Se nos EUA, “CEOs criam iniciativa para gerar 1 milhão de empregos para americanos negros” com uma coalizão reunindo 35 companhias, tais como a Merk, IBM e Nike, para apoiar o desenvolvimento profissional e oferecer postos de trabalho, no Brasil surge o “Pacto de Promoção da Equidade Racial”, firmado em 08 de julho de 2021.
Pacto de Promoção da Equidade Racial
O Pacto é uma iniciativa que propõe desenvolver um “Protocolo ESG Racial” para o Brasil, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais, multinacionais e da sociedade para o tema.
Por que?
Somos 56 % dos brasileiros, consumimos 1.9 Trilhões/ano.
Porquê,
Somos 74% das pessoas que constituem as classes sociais D e E , temos salário igual a 50% do valor do salário dos não negros e … somos pessoas, cidadãos, cidadãs.
O Porquê do ESG Racial
Os critérios ESG são, hoje, os parâmetros internacionais mais importantes que orientam investidores institucionais quanto a questões ambientais, sociais e de governança.
O Índice ESG de Equidade Racial
Reconhece o nível de sustentabilidade dos investimentos. Sustentabilidade, rentabilidade e a demanda crescente do setor privado e, em especial, do mercado financeiro, pela adoção de tais parâmetros e a fiscalização sobre seu cumprimento.
O Protocolo ESG Racial será regido por regulamentação específica, concebida por diversos especialistas do Brasil.
A adesão é voluntária, de empresas interessadas em atender às demandas sociais por maior equidade racial, consciência social e transparência.
A meta para 2024/2026, segundo Jair Ribeiro (concepção do projeto), é ter de 500 a 600 empresas brasileiras aderentes ao Pacto e investindo em equidade racial.
O Pacto tem na presidência do Conselho, o Prof. Dr. Helio Santos, ativista do movimento negro desde a década de 1970 e um dos intelectuais mais ativos no combate à desigualdade racial. Fundador e diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade IBD, o Prof. Helio Santos coordenou nos anos 1990 o grupo que colocou as ações afirmativas na agenda pública do governo federal. Nessa época, tive a honra de atuar como diretora adjunta no IBD, a convite do Prof. Helio.
“O pacto marca um ponto de inflexão. Sempre se entendeu que as ações afirmativas seriam resolvidas apenas pelo campo público e agora temos uma política que vai movimentar o campo privado, que ao mesmo tempo valoriza a mão de obra negra e investe em educação”, diz Helio Santos.
Considero que estamos saindo de alternativas de acesso desigual às oportunidades, passando pelo uso de ferramentas e assistência uniformemente distribuídas e entrando na era da equidade com o uso de ferramentas customizadas, que identificam e corrigem a desigualdade e finalmente, nos aproximando da justiça: correção do sistema para que ofereça igual acesso tanto a ferramentas quanto a oportunidades.
Os apoiadores iniciais do Pacto foram o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, da Localiza, Eugenio Mattar, do Google, Fabio Coelho, e da Suzano, Walter Schalka, além de Carlo Pereira, do Pacto Global da ONU. E entre os investidores institucionais estão Luis Stuhlberger, do Fundo Verde, Fabio Alperowitch, da Fama, Florian Bartunek, da Constellation, e representantes dos grandes bancos, como Itaú, Bradesco e BTG.
IEER – Índice ESG de Equidade Racial– Etapas
1ª
- Diagnóstico da situação da empresa em relação à desigualdade racial, ponderando o quanto da massa salarial interna vai para negros e o quanto vai para brancos e versus a composição da população economicamente ativa da região onde ela atua.
2ª
- As empresas que aderirem podem se comprometer a adotar ações afirmativas, tais como : processos seletivos exclusivos ou com cotas para negros , políticas de equidade racial para seleção, exclusão de parceiros e fornecedores.
3ª
- Investir, efetivamente, em equidade racial, fora dos muros da empresa, por exemplo, investindo em projetos de educação pública ou privada, ou em organizações e empresas lideradas por negros que trabalhem com inclusão e qualificação para o mercado de trabalho.
O protocolo estabelece um valor indicativo do quanto cada empresa deveria aportar para fechar seu próprio gap racial, com base em dados do quanto custa formar alunos nos ensinos fundamental, médio e superior.
O acréscimo no rating é tanto maior quanto mais próximo o investimento ficar do valor indicativo, que tem como teto R$ 30 milhões por ano.
A construção das ações afirmativas e dos investimentos que podem ser qualificados como de equidade racial foi feita em conjunto com diversos coletivos negros e validada pelo Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT)., Dra. Maria Aparecida Bento.
A adoção deste Índice pelas empresas é mais uma oportunidade para os profissionais de RH demonstrarem a efetividade de sua ação estratégica, lembrando aqui a importância da sua competência como educador, começando pela alta direção das empresas e na defesa da tão falada humanização do trabalho , sem abrir mão, é claro, da demonstração de retornos aos investimentos feitos em desenvolvimento de pessoas.
Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.
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