Temos barreiras visíveis na sociedade que se estendem ao ambiente corporativo, tentando brecar o acesso aos direitos e oportunidades decorrentes da incorporação de atitudes e comportamentos que propiciem a Diversidade, a Inclusão e a Equidade nas organizações.

Woke

Do ambiente externo às organizações, vem a demonstração de posicionamento ora apresentado como positivo por uns, ora como opressor por outros, denominado – Woke (acordei, significado literal da palavra).

O termo surgiu nos EUA em 1860, época em que o presidente era Abraham Lincoln, mas a sua popularização ocorreu nas discussões atuais, ressurgindo na comunidade afro-americana, significando “estar alerta para a injustiça racial”, relacionado ao movimento Black Lives Matter.

Este posicionamento está trazendo à tona e ampliando espaços ainda maiores, para que evidenciemos questões por vezes veladas, tais como preconceitos, racismo e consequente discriminação estrutural e institucional.

Woke ressalta, também, o fenômeno do “cancelamento”, pois algumas pessoas questionam: até que ponto essa sensibilidade extrema à ofensa influencia a liberdade de expressão e a autenticidade cultural? Será que o medo do cancelamento está restringindo a criatividade e a expressão individual? E no âmbito empresarial, até que ponto a autocensura é benéfica ou prejudicial?  

A percepção da cultura woke como defensora dos direitos humanos

No turbilhão das discussões atuais sobre justiça social, a cultura woke surge como um fenômeno que vai além da sua origem afro-americana para se tornar um movimento global de conscientização sobre as diversas formas de opressão. Esta cultura é frequentemente associada à vigilância contra as injustiças raciais, mas seu escopo se expandiu, alcançando uma variedade de questões sociais e políticas, incluindo o sexismo, a homofobia e a desigualdade econômica.

Anti-Woke

Woke - IMG I

“O termo Woke também é usado como desaprovação a alguém politicamente liberal, em temas como justiça racial e social, especialmente de forma considerada insensata ou extremista” (Dicionário americano Merriam-Webster).

Para algumas pessoas, ser “woke” é ter consciência social e racial, questionando  paradigmas e normas opressoras, historicamente impostos pela sociedade.

Para outras, o termo descreve “hipócritas que acreditam que são moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais”. Para essas pessoas, woke representa a desaprovação, por pessoas que pensam que outros se incomodam, muito facilmente, com assuntos relacionados à justiça social, racial.

Neste contexto, algumas empresas passaram a ser atacadas nos últimos anos ao adotarem mudanças que são interpretadas — para o bem ou para o mal — como woke.

Gillette fala sobre assédio em novo comercial, mas os homens não gostaram

A Gillette, em 2019, gerou polêmica com uma publicidade chamada “o melhor que os homens podem ser“, criticando comportamentos masculinos tóxicos, como o bullying, o assédio sexual e o sexismo.

O anúncio foi aplaudido por muitos, mas também chegou a tornar-se um dos vídeos mais reprovados do YouTube, provocando um boicote contra a marca.

O golpe econômico sofrido pela dona da empresa, a Procter & Gamble, levou à criação de um meme que se popularizou entre a política de direita: “Get woke, go broke” (“vire woke, vá à falência”).

Woke – Brasil: Como, e o Quanto, esse Movimento é percebido no nosso Dia a dia?

Woke - IMG II

 Uma pessoa postou no Instagram:

“O recuo da agenda woke é motivo de comemoração”, citando uma matéria publicada na Revista Veja que ela classificou como ‘o relato mais interessante que já li sobre a ascensão e a (tomara) queda da agenda identitária que prega a lacração woke’.

A repercussão imediata apresentou centenas de comentários favoráveis e a cada um desses comentários, acrescentavam-se mais centenas de apoiadores.

Dos comentários (por uma questão de espaço nesta matéria), trago apenas estes exemplos :

  • “Odeio esse povinho” e “treinamentos antirracistas não servem para nada”.
  • “Deus abençoe suas palavras!!! E gente bonita de volta a moda SIM!”
  • “Sim, graças a Deus muitas dessas tragédias não estão se sustentando mais. E feliz também, pois vimos nessas eleições que o Brasil é um país conservador.”
  • “Lamentável; tem cota até nos concursos públicos.”
  • “Muito bom saber desse declínio da agenda woke. Atualmente, vivemos sob a condição do nada pode (para nós) e tudo pode (para a minoria)… Não vamos consumir produtos de empresários que ridicularizam a família!”
  • “Vou mostrar (esta postagem) aos meus netos.”
  • “Adorei, vou encaminhar a várias amigas de RH que precisavam engolir a seco essas ideologias!”

Discriminação Estrutural e Institucional? Presente!

Quero destacar agora a nossa responsabilidade para assumir o posicionamento adequado frente a essa questão. De que lado vamos ficar?

A discriminação sistêmica está presente no mundo do trabalho quando as organizações tem em posições C-Level pessoas que discriminam, reproduzindo a hierarquia racial que aprenderam a respeitar e da qual fazem parte. Hierarquia criada pela “ideia falaciosa” da superioridade branca.

Reitero a minha fala: Precisamos falar sobre Branquitude para Respeitar a Negritude!

Racismo estrutural e sistêmico persistem porque, ainda hoje, as pessoas que discriminam não tomaram consciência que estão pautando suas vidas e a de outras pessoas por histórias falsas que servem apenas para manter privilégios, desigualdade e despesas rateadas, inclusive, entre os que discriminam.

Mulheres Negras, pretas e pardas: 34,7% da população em idade ativa no Brasil. Onde elas estão?

O ambiente externo às organizações, em nosso país, está pleno de ameaças que podem vir a ser oportunidades de melhoria; são questões que precisam ser eliminadas:

  • Impunidade ao racismo: precisamos exigir celeridade, fiel cumprimento da lei para todos os infratores, independendo de suas características identitárias.
  • Avanço da destrutividade: nossa sociedade está sob o manto da crença da Supremacismo, Negacionismo, Machismo, LGBTQI+fobia, Capacitismo, Etarismo e Crimes de Ódio, com reflexo no ambiente de trabalho.
  • Epistemicídio: da potência negra e de toda a contribuição dada à sociedade ao longo dos séculos e na atualidade.

Estereótipos negativos ficam posicionados na mente das pessoas privilegiadas, que ainda estão nos assentos de decisão nas organizações: a visão sobre a pessoa negra é ainda estereotipada negativamente, para justificar o injustificável.

Luzes vindas do Fim do Túnel

1ª) ENEM 2024:

O tema para redação, “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, desafia a qualidade do ensino em escolas públicas e privadas, desafia a preparação dos professores e o monitoramento da aplicação da Lei 10.639 de 9 de janeiro de 2003.

2ª) Intencionalidade reversa:

Argumentação sobre a queda da prática ESG não se sustenta frente à exiguidade de comprovação, fazendo que a intencionalidade negativa não avance.

3ª) Saber consolidado:

Atualmente, o conhecimento é realimentado a cada instante e, graças à nossa aprendizagem autônoma, conseguirmos discernir e adotar a verdade.

Soluções – Ações Para:

Sociedade: Ensino Antirracista

Trabalho: Eliminar as barreiras de entrada

  • Recrutamento & Seleção que valorize a equidade.
  • Onboarding – Teste do pescoço revelando Proporcionalidade e Representatividade.
  • Imagem estética não se sobrepondo à ética: Roupa, cabelo, adereços e cores livres de julgamento.

Desnaturalizar:

  • Discriminação ocupacional: questionamento da capacidade para executar tarefas mais complexas e veto mesmo estando capacitado.
  • Discriminação salarial: desvalorização do trabalho por meio de remuneração inferior para as mesmas tarefas mais bem pagas a outros.
  • Discriminação pela imagem: criação de um ideal estético excluindo/oprimindo os “diferentes”.

Nessa trajetória, fiquemos atentos, pois conviveremos com gerações perdidas, constituída por pessoas que:

  • Estão entre muros; são aquelas que não tem a menor disposição para mudanças;
  • Estão em trânsito; demonstram disponibilidade, mas carecem de Informação, conscientização;
  • São construtoras de pontes: são aliadas, corresponsáveis e são a minoria.

Por Jorgete Lemos, CEO da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria Organizacional. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.