Embora muitas pessoas tenham amadurecido ao ponto de aceitarem que precisam de direcionamentos externos vindos de outras pessoas para que possam focar e executar suas tarefas, para muitos o tema da autonomia é muito importante.
Uma recente pesquisa informal na Apple, publicada pela tecmundo.com.br, mostra a insatisfação por uma determinação, pós intensa pandemia, da grande Maça quanto à obrigatoriedade de presença física nos escritórios. A partir de setembro de 2021 seus funcionários terão de atuar três dias presencialmente.
“A aposta em um modelo híbrido desanimou muita gente, principalmente quem afirma que, sem autonomia nesta definição, prefere se desligar da companhia.” Trecho extraído do site.
A tese que defendo aqui e sobre a qual lhe convido a refletir tem a ver com o significado de seu trabalho e o senso de realização atingidos, seja ele em um trabalho híbrido ou não.
Em suma, trabalho híbrido trata da atuação profissional em momentos e lugares distintos, bem como nas possíveis diferentes formas de sua execução. Eu, pessoalmente, adotei este formato com minha equipe desde 2009, tendo então já vivido muitas experiências sobre este tema. Enquanto escrevo esta coluna, por exemplo, não estou nem em casa, nem em um escritório (até porque este fechamos há 12 anos. Escrevo de um quiosque no condomínio em que vivo, rodeado por galinhas D’Angola).
Esta mobilidade traz a desejada autonomia ao mesmo tempo que nos obriga a entender o valor do Estado adequado para realizarmos o que devemos realizar. Escolhi este ambiente para a redação deste texto, pois aprendi que nele acesso um estado de espírito mais livre, mais criativo e integrado com a inspiração da natureza.
Escrever em um escritório gelado, barulhento e cinzento não traz o mesmo efeito, você deve imaginar, certo? Com isso, a decisão sobre o onde, o quando e o como fazermos o que devemos fazer exige uma ponderação importante constituída dos seguintes elementos: Clareza sobre aquilo que irá fazer, a condição necessária para entregar o seu melhor e os recursos à sua disposição.
Clareza sobre o que precisa ser feito trata da capacidade de escolher e com ela de priorizar suas atividades. Seja presencial ou remotamente você faz o que faz para entregar algum tipo de resultado. Este resultado pode ser determinado pela sua chefia/liderança, por um contexto mais amplo como o da visão e missão da empresa, implicando em uma visão de mais longo prazo e seu fracionamento em tarefas menores para conclusão em tempos mais imediatos ou por um consenso sobre o que precisa ser feito e de quem deve ser a responsabilidade sobre qual parcela das tarefas.
Aqui entra uma pergunta importante: Independentemente do processo pelo qual foi definida sua prioridade ou em muitos casos a sua urgência, qual o nível de significado encontrado no que você está fazendo? Sim! O quanto aquilo que você fará no momento à sua frente conversa diretamente com seus sonhos, ambições, legados, desejos? Se não conversar com nenhum destes aspectos particulares de sua vida será uma tarefa vazia, daquelas que se faz por não ter escolha sobre o que mais fazer. A chefia mandou, então eu faço, mesmo que não faça sentido. Em um cenário como este, seja em casa, no quiosque ou na empresa, tanto faz o local, a atividade continuará vazia e isso lhe afastará do estado adequado para a execução. Claro que aquilo que não faz sentido, feito em um lugar mais agradável, pelo menos lhe traz menos sofrimento, mas não significado.
Entretanto, quando claro estiver o significado de sua tarefa você poderá buscar entender qual o melhor lugar e condição para fazê-lo. Por vezes, um call resolverá, sem a reunião presencial. Por outras, o olho no olho será fundamental. Em alguns casos, o silêncio e um ambiente fisicamente agradável lhe acolherá para promover melhores condições para aquele momento de reflexão sobre um projeto. Aquilo que você faz com sentido, determina o sentido do que você fará.
Por fim, o “onde” escolhido deve também considerar os recursos necessários: internet, acesso ao sistema da empresa (que em muitos casos somente pode ser feito dentro do escritório), temperatura adequada para que você não fique enrijecido(a) e tenso(a), sinal do telefone (muitas vezes ele deve ser inexistente para você não ser atormentado(a)), silêncio como um recurso essencial para muitos conseguirem fazer a introspecção necessária e por ai vai.
Ao sairmos da visão de híbrido e partirmos para uma visão integrada, em que significado, ação e condições se unem para potencializar sua performance, você terá a chance de se encontrar no seu melhor, naquele momento. Sabe algo que acontece? Seu nível de engajamento aumenta, sem que um líder precise colocar a cenourinha à sua frente ou uma ameaça atrás de você.
Engajar-se e entregar o seu melhor dependem muito mais de você do que dos outros, seus pares e lideres. Delegar a construção de um engajamento aos outros é ficar refém da competência dos outros se engajarem e então você poderá se encontrar em uma situação muito delicada e sem saída. Coloque no seu colo aquilo que é de sua responsabilidade e busque, antes de tudo, o significado para o que você faz, caso contrário qualquer lugar, qualquer quando e qualquer como continuarão vazios e a culpa continuará sendo dos outros, que por sinal você não controla e assim sua condição de pessoa e profissional estará sempre longe da capacidade de se ver plenamente realizado(a).
Experimente a Vida por um novo olhar!
Sucesso! Vida Longa!
Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.