O propósito deste artigo é trabalhar a importância da Confiança para cada um de nós, apesar da dualidade e da liquidez do mundo em que vivemos. Confiar e ser confiável é a chave para sustentarmos a energia vital de que tanto precisamos.

Entendendo o que é Confiança

Confiança é a capacidade de acreditar nos outros, em nós mesmos, nas nossas atitudes e na vida como um todo.

A palavra confiança vem do latim CONFIDENTIA, CONFIDERE, acreditar plenamente, com firmeza.

Podemos também entender a palavra confiança, desmembrando-a em ConFiar, ou seja, a capacidade de fiar, de tecer com. E, quando se tece com alguém, tem-se a segurança de colocar um fio sobre o outro e acreditar totalmente no apoio mútuo, entrelaçando e entrecruzando cada fio para a sustentação do que é construído.

A confiança, em geral, é estabelecida quando se faz o que se fala. Isso possibilita o desenvolvimento da confiança mútua, que nada mais é que a conexão verdadeira, a fé no outro ou na situação, a certeza de poder contar com.

Confiar em alguém é ter fé, é acreditar que a pessoa, situação, produto, ou seja lá o que for, não vai decepcionar. Confiamos para construir laços, para nos fortalecermos psicológica, intelectual e emocionalmente.

A confiança supõe uma suspensão, pelo menos temporária, da incerteza relativa às ações do outro. É a convicção que se consegue prever as ações e os comportamentos daquele em quem se deposita a confiança.

Sendo assim, a confiança pode simplificar as relações sociais o que, neste momento em que vivemos, neste mundo digital presente totalmente nas nossas vidas, é um elemento fundamental e extremamente sério, porque, nós, seres humanos, somos por natureza muito desconfiados. Uma das causas relacionadas a essa ausência de confiança são problemas relacionados ao passado que vivemos ou que nossos antepassados viveram e que nos ensinaram a desacreditar.

Ao mesmo tempo em que precisamos confiar uns nos outros, incertezas e dúvidas abalam a estrutura da confiança. Duvidamos de verdades o tempo todo e questionamos tudo o que não conhecemos.

Mas, antes de pensarmos nos outros, talvez fosse interessante responder a algumas perguntas; será que sou uma pessoa confiável? Será que confio nas outras pessoas?

O que faz com que eu confie ou não nas pessoas? Por vezes confia-se em alguém pelo background que tem, pela formação, pelo currículo, o que pode ser um grande engano, uma vez que a confiança acontece quando se estabelece certo grau de conexão e intimidade.

Por outro lado, podemos ser confiáveis para algumas pessoas e para outras não. Por que? Porque, entre outras coisas, a confiança relaciona-se às expectativas que se tem, às vezes definida apenas pela afinidade, fator insuficiente para a sustentação de um vínculo. Além do mais, a confiança pode ser destruída se as expectativas não forem claramente alinhadas. Pode-se estabelecer como base da confiança algo não dito. Portanto, deixar claro as expectativas e defini-las como possíveis ou não de serem concretizadas facilita em muito a construção da confiança, o que ultrapassa os limites da afinidade.

Demora-se muito para construir uma relação de confiança e quando essa confiança é traída, a reconstrução é às vezes impossível. Tenho uma prima que diz ser a confiança comparável a um vaso de cristal que, quando quebrado, não se coloca mais no centro da sala, por mais que seja colado. É possível passar por cima de algumas situações, mas depois que a confiança se rompe, não é mais aceitável acreditar na outra pessoa. Isso piora ainda mais quando a exigência é muito acentuada, pois a confiança em tudo e em todos tende a desaparecer.

COMO CONSTRUIR A CONFIANÇA?

É possível trabalharmos em dois níveis: um deles é a autoconfiança. A autoconfiança importa para a saúde e bem-estar psicológico, pois quando vivencia-se o acreditar em si mesmo, há maior disposição para tentar coisas novas e se colocar em situações sem medo.

Por outro lado, o excesso da autoconfiança pode levar à centralização e à arrogância: “ninguém é tão bom ou tão capaz quanto eu!!”. Nesse caso, o excesso da autoconfiança destrói a confiança que pode ser construída com “o outro”.

Quando o assunto é liderança, por exemplo, a confiança é vital. Como fazer para ser um líder confiável? Seguramente um líder precisa ter uma autoconfiança equilibrada com suas vulnerabilidades, mas precisa ser o que fala, jamais deixar sua equipe sem apoio ou sem acolhimento, defender cada profissional, tendo certeza das competências, interesses e valores que suportam sua ação. Por outro lado, o colaborador precisa mostrar-se confiável, comprometendo-se, fazendo o que precisa ser feito, respeitando e honrando os valores, a empresa e a liderança. Para isso, a comunicação, o que torna uma ação comum, é o elemento vital e indispensável. Assertividade, feedback, comunicação não violenta são apenas aspectos de uma estrutura básica para a construção da confiança.

CONFIANÇA E ENEAGRAMA

Paralelamente aos conceitos básicos sobre confiança, sabemos que cada pessoa tem um jeito de se manifestar no mundo, de confiar em pessoas, produtos ou situações. É a personalidade que define essa maneira de comportamento. E, para entender isso, existem milhares de tipologias comportamentais, mas, de acordo com os meus quase 20 anos de estudo, o que mais ajuda a entendermos nossas diferenças é o Eneagrama, milenar sabedoria descoberta por Gurdjieff.

Então, o fato de se confiar ou não, com maior ou menor facilidade, está muito ligado à personalidade. Cada pessoa tem um olhar diferente sobre outra pessoa e, quando está muito preso à personalidade, tende a confiar nas pessoas que sejam parecidas com essa sua máscara, a persona.

Quem quiser conhecer um pouco mais os tipos do eneagrama, sugiro que baixe o ebook.

O Eneagrama explica que há quem confie pelo instinto, que são os tipos 8, 9 e 1.

O tipo 8, conhecido como Patrão, é muito direto e objetivo, confia ou não confia. Tende a confiar muito mais nas pessoas fortes, decididas e que sabem o que querem.

O tipo 9, conhecido como Mediador, sente confiança nas pessoas harmoniosas, que não compram muita briga, enfim que sejam boas de coração.

O tipo 1, o Perfeccionista, confia em quem é organizado, detalhista e tem posicionamentos mais justos e claros.

Já os tipos emocionais, 2, 3, e 4, não conseguem aceitar uma traição porque o coração dói, isso não só ocorre no nível pessoal como no profissional também.

O tipo 2, conhecido como Doador, antecipa-se aos desejos dos outros, coloca os outros sempre em primeiro lugar e gosta de ajudar, mas precisa ser muito amado. Confia nas pessoas que reconhecem seu bom coração.

O tipo 3, reconhecido como Desempenhador, deixa de confiar em alguém quando essa pessoa não se dedica, não se compromete, não entrega resultados. Confia nos que trabalham duro e entregam resultados.

O tipo 4, o Romântico tende a confiar demais e se perder quando é valorizado e reconhecido e se torna vingativo quando essa confiança não atende às suas expectativas.

Terminando a trilogia, temos os tipos 5, 6 e 7 que são mentais e confiam no intelecto, em dados e em fatos. As explicações emocionais não fazem o menor sentido, precisam de provas.

O tipo 5, o Observador, é a pessoa que gosta de ficar mais à distância, tende a não confiar por não querer se entregar ao relacionamento, mas, confia na sua mente e em mentes inteligentes.

O tipo 6, conhecido como Cético Leal é uma pessoa crítica, que vive questionando, sendo um tipo extremamente difícil de confiar em alguém. No entanto, depois que confia, é extremamente leal.

O tipo 7, o Epicurista tem um otimismo muito grande, baseado no mental. Confia até quando vale a pena confiar, pois se algo acontece e perde a confiança, tem muita dificuldade em confiar de novo.

CONFIANÇA NOS DIAS DE HOJE

Neste momento de pandemia, vivemos uma dicotomia: não acreditamos em quase nada e em ninguém e, ao mesmo tempo ouve-se falar que agora é o momento de confiança absoluta. Que dualidade!!

Trabalha-se em home office onde é fundamental confiar e, por outro lado, a confiança se desgasta pela incerteza do amanhã, uma vez que tudo pode acontecer.

Nada é passível de planejamento, uma vez que mudanças rápidas povoam cada dia e, o que era confiável, passa a ser duvidoso. Aberturas e fechamento de comércio, número de óbitos, formas de cura, pronunciamentos políticos têm informações contraditórias. Ou seja, a certeza desaparece e fica a confiança ou a desconfiança.

Mas é a confiança que nos traz a energia vital, a força de continuarmos seguindo em frente e esse artigo tem esse objetivo:  entendermos a importância da sua construção, uma vez que, nesse momento precisamos mais do que nunca criar relacionamentos de confiança.  Se antes dessa mudança era preciso uma confiança básica, hoje é necessário que ocorra em níveis muito mais profundos, seja em empresas, comunidades, vizinhanças, familiares ou amizades.

Somos humanos e sobrevivemos como espécie pela construção de confiança, pelo trabalho conjunto, pela união e colaboração. O isolamento nos deprime e nos rouba a energia vital. O isolamento nos torna menos criativos, mais vulneráveis. A proposta, então, é, mais do que nunca investirmos na construção da nossa própria confiabilidade e aprender a confiar, com critérios e discernimentos, sem a paixão da nossa personalidade, mas com os valores essenciais da vida, para construirmos um caminho que valha a pena ser trilhado.

Por Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.