O que as empresas podem fazer pela saúde mental de seus colaboradores, que se tornem ações recorrentes e não sejam apenas, para fazer alguma “graça no Setembro Amarelo”, mês da campanha brasileira de prevenção ao suicídio? É esta indagação, feita pelo time de redação do RH Pra Você, que procurarei responder.

Tais ações deverão estar embasadas em dados. E os dados apontam a seguinte predominância quanto à incidência dos casos de suicídio:

  • Brasileiros negros do sexo masculino com idade entre 10 e 29 anos têm uma probabilidade 45% maior de cometer suicídio. A explicação está relacionada ao “sofrimento psíquico provocado pelo racismo estrutural”. O dado é do Ministério da Saúde.

E o que é o Racismo?

É o preconceito contra pessoas a partir do seu tom de pele e traços físicos, que remetem a uma raça que é marginalizada, vista como inferior e desvalorizada.

Em nosso país, após três séculos de escravização, não houve o planejamento de condições necessárias para que os negros fossem considerados cidadãos após a abolição, o que possibilitou que a discriminação criasse raízes na sociedade brasileira e se aprofundasse ao longo dos séculos seguintes.

O racismo é aprendido em família, reforçado pelos exemplos vividos na escola, sociedade e diversos grupos de convivência que normalizaram a discriminação, para que o status quo seja mantido e pessoas privilegiadas não percam seus poderes. É o medo de perder o poder.

As práticas racistas são diversas, vão de insultos até agressão física e crimes de ódio, impactando a autoestima, a saúde mental e a vontade de viver das pessoas vitimadas.

Todos sofremos as consequências desses crimes e por longo tempo, pois instala-se a Dor Social, para a qual não há cura medicinal.

Trajetória da Dor Social

Mulheres Mães Negras e de Baixa Renda

Esse sofrimento pode começar ainda na concepção do novo ser, passando pelo nascimento, período em que as mulheres negras de baixa renda, sofrem a conhecida violência obstétrica, apoiada na ideia falaciosa de que a mulher negra é uma mulher forte, guerreira, podendo suportar até a dor insuportável.

Infância

Quantas crianças negras, de classe social baixa, já demonstraram estranheza por não serem chamadas para as festinhas na casa de colegas ou não terem sido escaladas para os eventos escolares?

Essas ocorrências vão confirmando a percepção de que elas são diferentes do “padrão normatizador”, o que é reforçado quando não se vêm representadas em todos os ambientes, mesmo fazendo parte da maioria da população brasileira.

Na adolescência: o caso do jovem negro, gay, pobre e bolsista

Aos 14 anos, um jovem negro, estudante que frequentava o Colégio Bandeirantes, escola de elite na zona sul da cidade de São Paulo, tirou a própria vida em 13 de agosto de 2024, após sofrer bullying rotineiramente na instituição de ensino.

Antes de cometer o suicídio, no dia 12 de agosto, o adolescente enviou um áudio para a mãe e para os estudantes do colégio, descrevendo os ataques verbais que os alunos faziam contra ele. Segundo a família, o jovem era hostilizado por ser gay, negro e de origem humilde. Ele pediu “socorro”, mas foi tarde demais.

Após a morte do aluno, o Colégio Bandeirantes disse: “toda a comunidade escolar está profundamente abalada com essa perda irreparável”. A instituição afirma ter oferecido “apoio e solidariedade” à família e aos amigos do adolescente.

O Colégio “avalia cancelar a parceria com a ONG para bolsistas que faz a ponte entre adolescentes de baixa renda e unidades de ensino de elite”.

Juventude e Idade Adulta

No ambiente de trabalho

O que as organizações podem fazer pela saúde mental de seus colaboradores evitando a ocorrência do suicídio? Ir além de políticas de prevenção, via:

Educação e Sensibilização

  • Comunicação aberta;
  • Programas de saúde integral, não só de saúde mental;
  • Treinamento em habilidades de escuta ativa;
  • Disponibilidade de recursos de apoio.

Ambiente não Tóxico

  • Identificar se há no cotidiano do trabalho uma rotina que vulnerabilize a saúde mental ou que impeça a participação na tomada de decisões que envolvam o trabalho diário de cada colaborador.
  • Criar espaços de escuta, com profissionais aptos para compreender conflitos internos como produto das relações institucionais e individuais.
  • Ter espaços de escuta transdisciplinar com a participação do profissional da área social, realizando atendimento e acolhimento social, e do profissional da psicologia, para sua intervenção específica no âmbito psicossocial..
  • Avaliar o quanto o ambiente é genuinamente inclusivo e possibilita o sentimento de pertencimento.
  • Desenvolver ações, monitorar e avaliar continuamente.

Ref. adaptada: Fundacentro. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Artigo “Considerações sobre trabalho e suicídio: um estudo de caso”.

Por Jorgete Lemos, CEO da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria Organizacional. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.