Ao iniciar este estudo, minha primeira pergunta foi: Como podemos entrecruzar o silêncio com a liderança? Por que devemos desenvolver a arte do silêncio?
Nesse período de pandemia, com todas as restrições, tivemos que nos aquietar e nos aprofundar na arte do silêncio. Mas por que será que as pessoas estão, de um modo geral, muito mais agitadas do que antes?
Essa agitação pode nos trazer consequências, tais como o estresse, a insônia, o nervosismo, a falta de paciência, entre outros.
Precisamos cultivar o silêncio, pois ele é capaz de nos libertar de nossos pensamentos, medos e desejos, dissipando as tensões do passado e as expectativas em relação ao futuro. Temos que ter consciência de que somente no presente podemos descobrir quem realmente somos.
Mas somos um povo barulhento. Isso pode ser observado até mesmo no mundo virtual, onde há diversos tipos de sons que funcionam para nos alertar o tempo todo.
Estamos acostumados a explicar demais, fugimos do silêncio como se precisássemos constantemente de barulho e movimento.
Há pessoas que têm uma dificuldade imensa de não falar. O silêncio é a privação, voluntária ou não de falar, de publicar, de escrever, de pronunciar qualquer palavra ou som, de manifestar os próprios pensamentos. É o momento em que você se priva de falar e descobre o silêncio interno.
O silêncio é um bem muito apreciado porque nos permite pausar e ponderar antes de agir ou falar.
Precisamos cuidar de nosso ambiente para que não entre barulho excessivo, embora muitas vezes busquemos no silêncio o refúgio por medo de sermos julgados ou questionados.
Observe com atenção tudo em sua volta e deixe em você marcas das coisas boas. Aprenda com elas. O que for ruim jogue fora. Somente o silêncio proporciona a experiência da observação e do aprendizado.
A maturidade nos leva a um silêncio ainda maior, um amadurecimento profissional e pessoal.
Não há nada melhor na vida do que estar calmo e tranquilo consigo mesmo.
Mas como as pessoas entendem o silêncio, ou como o definem, de maneiras diferentes, existe uma séria dubiedade na sua interpretação.
Ao mesmo tempo que entendemos que é algo que nos aquieta, também pode nos deixar taciturnos e tristes. O silêncio sempre é subentendido como um problema interno.
Em muitos casos no universo empresarial, ficar em silêncio pode ser visto como algo negativo, pois, atualmente, temos que estar o tempo todo em evidência.
Obviamente que a pessoa tem de se posicionar, mas, a depender da situação, o silêncio é bem-vindo e talvez seja a atitude mais adequada.
Por que silenciar? Quando estamos em silêncio ficamos presentes no aqui e agora. É como se o ser se encaixasse no silêncio, pois não se distrai com nada, vive o presente, é como estar e ser o presente.
Fica, então, muito fácil entender e afirmar que o passado e o futuro não existem. Quando o futuro vier a existir, este será o aqui e agora e, quando o passado existiu, naquele momento, estava sendo o presente também.
O silêncio e o isolamento social
Durante o isolamento social, temos mais condições de ficarmos quietos, observando, em estado de contemplação, o que é diferente de estar fechado em si mesmo, triste ou ausente.
Nas interações, precisamos ser pontuais naquilo que vamos falar e, para isso, é fundamental treinarmos o silêncio, mesmo que dure somente alguns minutos, porque possibilita que falemos o que fará diferença.
Às vezes, podemos nos surpreender ao valorizar o silêncio. Por exemplo, quando estamos quietos e, em seguida, nos posicionamos em algum determinado assunto, as pessoas ao nosso redor começam a prestar atenção no que estamos dizendo.
No entanto, não devemos confundir silêncio com falta de senso de urgência.
O silêncio não significa falta de iniciativa ou apatia. A segunda nada mais é do que a falta de sentimentos, como se o indivíduo estivesse sem emoções e percebesse que nada importa, uma completa falta de motivação aos estímulos externos.
Quando se está em silêncio, mas presente, com certeza sabe-se o momento certo de falar, a hora exata de acrescentar algo e contribuir para dar um passo em direção ao resultado.
Silêncio e liderança
Por que o silêncio é importante para a liderança? Neste momento de profundas modificações no estilo de liderar, é fundamental desenvolvermos o hábito do silêncio, pois nos concentramos melhor no que o outro diz, ouvimos primeiro e elaboramos a resposta de modo oportuno e produtivo.
Ao aprender a silenciar, o líder tem vários ganhos:
- Aprende a escutar e abre uma porta que dá acesso ao interior da outra pessoa. Escutar é uma arte porque nos dá a oportunidade de conhecer outras realidades e de explorar outras emoções. Se não aprendemos a nos silenciar, não conseguimos desenvolver a escuta. É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos forem silenciados.
- Quando o líder silencia, ele consegue fazer a análise do todo e ter uma percepção muito mais aguçada da situação.
- Reconhece o seu estado emocional. O silêncio permite que o indivíduo entre em contato consigo mesmo e com tudo que o rodeia. Quando o líder está em silêncio, ele reconhece o que não é dito e fortalece sua presença.
- O silêncio reforça a intuição. Só conseguimos tocar na intuição se nos silenciarmos. Intuição é aquilo que você não explica, é a sabedoria da alma. A partir do momento que consegue tocar nessa sabedoria, você encontra soluções completamente diferenciadas, toma decisões não só com base em aspectos racionais e lógicos, mas faz com que as coisas fluam, estando completamente presente.
- O silêncio também pode evitar a perda de energia. Ele nos ajuda a não gastarmos energia com aquilo que não se deve, concentrando-a em nós mesmos. Ele nos alimenta quando o trazemos para dentro de nós.
Hoje, o líder precisa aprender a trabalhar com o silêncio, pois, mesmo estando em ambiente barulhento, pode e deve continuar alinhado com seus objetivos, com todos os órgãos de sentido muito despertos.
A ausência do silêncio não deixa o indivíduo definir prioridades, não permite que faça um raciocínio adequado, transformando tudo em uma grande confusão.
Podemos definir, também, que um grande passo para a empatia é a escuta. A empatia é a capacidade de entender o outro a partir do seu quadro de referência e não do nosso.
A escuta é uma ferramenta que nos ajuda a sentir e a demonstrar empatia, prestar atenção ao que a outra pessoa está falando, mostrar que estamos ouvindo e emitir opiniões sobre a fala.
A competitividade nos ambientes de trabalho é um fator perigoso, já que muitas vezes o indivíduo se vale do silêncio de maneira negativa e acaba se fechando num mundo só dele, olhando o outro como uma ameaça à sua felicidade.
O silêncio também é uma dádiva do tempo, é a sabedoria da nossa alma e que dá auxílio às pessoas que passaram por traumas e decepções.
Às vezes, coisas que precisam de atenção surgem quando estamos em silêncio.
Por que o silêncio é tão importante para a liderança 4.0?
A liderança 4.0 consiste em uma nova mentalidade de gestão que requer constante capacitação e desenvolvimento.
Estamos vivendo em um mundo volátil, incerto e complexo e, se neste momento, não aprendermos a silenciar, não conseguimos escutar e compreender a liderança, ficamos completamente perdidos.
Além de toda essa movimentação, temos a necessidade de desenvolvermos competências como a intrapessoal – que é a capacidade do indivíduo de identificar as próprias emoções e sentimentos, orientando-se de maneira favorável para lidar com as situações e necessidades, permitindo ter domínio sobre seu comportamento e tomada de decisões.
Outra competência da liderança 4.0 é a inteligência interpessoal, ou seja, a facilidade em entender pessoas a partir de suas motivações, intenções e ambições.
Há também a conexão como competência e, para construir a conexão, é preciso estar em silêncio, pois só então consegue-se enviar e receber as mensagens do outro indivíduo.
Se eu não silencio, não aprendo a ser simples. E a simplicidade é a característica de quem é capaz de silenciar. A pessoa simples fala o que tem que falar, não complica, é uma virtude maravilhosa e, infelizmente, rara. Ser simples indica nobreza e maturidade.
Um líder que se silencia desenvolve a visão, enxerga além e pode assumir riscos de forma inteligente e direcionada. Começa a olhar para o mercado, para a concorrência, observa como serão as coisas no futuro. Enfim, toda visão exige um grau de vulnerabilidade.
Líderes inspiradores incomodam as pessoas que estão na zona de conforto. É uma questão de poder olhar para frente estando no presente. Sem ansiedade, mas com nível de presença.
Competências da liderança 4.0
Outra palavra de ordem para o líder 4.0 é a presença, pois terá que conduzir seus colaboradores para garantir uma adaptação rápida, integrando gerações e, ao mesmo tempo, observando as características essenciais para conquistar a confiança dos seus liderados.
Isso nem sempre significa que ele vai acertar, mas certamente, vai estar presente em sua vulnerabilidade, articulando uma visão compartilhada para assumir riscos de forma inteligente e direcionada.
Uma outra competência fundamental é a colaboração. A realidade corporativa exige uma liderança focada em conhecimento, transparência e colaboração mútua.
Aprender a aprender também é uma competência muito importante. Então, como posso aprender se não consigo me silenciar? E, além de aprender a aprender, tenho que ensinar.
Enfim, aprender a silenciar é um instrumento fundamental para um líder 4.0 em qualquer coisa que ele faça.
Mas como aprender a silenciar? Em primeiro lugar, tenho que aprender a praticar. Procure ficar alguns minutos por dia em total silêncio, escutando os batimentos de seu coração, escutando a sua respiração. Aos poucos, passe para três minutos você vai ouvir respostas ou observações ou intuições que te ajudam a se posicionar.
Mas, cuidado! O silêncio não significa voar, mas aterrissar. E isso precisa ser desenvolvido, aprendido e praticado várias vezes ao dia, começando aos poucos com a respiração.
O silêncio nos permite passar um tempo conosco e abre espaço para que nossos pensamentos cresçam em criatividade e se conectem com nossas emoções, diminuindo a velocidade e reconhecendo o que está ocorrendo internamente, sem reagir aos estímulos externos.
Ajuda você a produzir mais e melhor, e com mais resultados. Procure escutar sem julgar as pessoas, observar o mundo à distância. Aguce os órgãos do sentido e, no final, sentirá o prazer em apenas ser.
Líderes precisam estar atentos a qualquer mudança e aprender a ser e sentir o outro. As práticas contemplativas, nesse sentido, trazem vários benefícios, pois aumentam a percepção dos batimentos cardíacos, melhoram a habilidade da fala e do estado emocional e nos ajudam a cuidarmos melhor de nós.
“Quem fala muito, diz pouco.“
Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.