Se alguém lhe perguntasse neste momento, você quer ser líder? Qual seria sua resposta?
Se essa pergunta fosse feita a alguns anos atrás, acredito que não haveria uma centelha de dúvida. O SIM soaria magicamente e automaticamente. Até porque, antigamente, um cargo como esse poderia oferecer a tão sonhada estabilidade.
Viriam pensamentos automáticos como: enfim serei respeitado, vou ter uma sala, uma secretária só pra mim, agora posso formar uma família, dessa vez eu compro minha casa própria, agora eu consigo aquele carro que sempre quis.
Mas hoje, quando essa pergunta é entoada, muitas pessoas param para se perguntar? Porque eu? Como se a pessoa estivesse sendo penalizada.
Até porque, atualmente, ao assumirmos um cargo de liderança, não necessariamente ganharemos mais, teremos uma sala própria ou mesmo mais status. Às vezes é o contrário de tudo isso.
E ainda tem o problema do TEMPO. Com a velocidade que o mundo tem girado, passamos, dia após dia, a desejá-lo freneticamente.
E quando nos soa a pergunta: Você quer ser líder? Soa um sino bem alto em nossa cabeça: menos tempo ainda.
Mas tudo isso tem um por quê: enquanto antigamente desejávamos ter uma vida estável, hoje desejamos ter uma vida de propósito. Sem tempo para fazer o que amamos, não conseguiremos viver a vida que desejamos.
Mas então qual pode ser a saída para tudo isso?
A saída para tudo isso seria você ser apaixonado pelo que faz.
Se você verdadeiramente se apaixonar pelo seu trabalho, você não perceberá seu tempo ir em vão. Você agirá dia após dia contribuindo com seu propósito.
Pense comigo: Quando você escolheu sua profissão, qual era o seu sonho?
Ganhar bem, ser reconhecido, comprar uma casa, um carro, viajar, formar uma família…sei lá, tantos podem ser os motivos.
Eu mesma, sempre fui uma pessoa que buscou ser reconhecida, por isso, sempre me dediquei quase sempre mais que a maioria das pessoas a minha volta. Inevitavelmente esse meu “jeito de viver” me abriu muitas portas.
No começo da minha carreira, por exemplo, e eu não sinto nenhuma vergonha em lhe falar isso, eu não tinha um sonho profissional, eu tinha uma necessidade, a de trabalhar para sustentar meu filho, pois aos 17 anos eu já era mãe. Mas eu não queria apenas sustentá-lo, eu queria oferecer a ele tudo o que eu não tinha tido na minha infância (algo soa familiar para você?)
Então eu trabalhava em dois, três, às vezes quatro empregos, simultaneamente, com o objetivo de oferecer ao meu filho uma vida melhor.
E advinha o que aconteceu? Eu consegui oferecer essa vida a ele.
A primeira coisa que buscamos quando queremos oferecer algo bom para nossa família é ter uma: casa. Com menos de 20 anos eu já morava numa casinha de menos de 50m2, e eu era muito feliz lá.
O segundo objetivo na época era pagar uma escola particular para meu filho. E, mais, eu queria levá-lo para escola todos os dias com um lancheira cheia de coisas gostosas. Sabe porque? Esse era meu principal sonho quando criança: eu queria que meus pais me levassem para escola, como faziam os outros pais dos meus colegas.
Eles chegavam até o portão, davam um beijo no filho e ficavam esperando até o último minuto para irem embora. Mas como meus pais precisam trabalhar, eu tinha que ir aos 6 anos de idade sozinha para escola.
Mas o pior para mim não era ir sozinha para escola, o pior para mim era o horário do intervalo, onde as crianças abriam suas lancheiras e tiraram coisas deliciosas de lá, enquanto eu pegava a fila da merenda, pois nem lancheira eu tinha.
Com esse monte de emprego, eu consegui matricular meu filho numa escolinha particular. Todo dia de manhã eu pegava o ônibus com ele, o deixava na escola e ia para o meu primeiro trabalho. Ah…a lancheira dele ia recheada de coisas que eu sempre quis comer quando criança.
Mas ao chegar na escola, às vezes molhados da chuva, com os pés cheios de barro, pois nosso quintal ainda era de terra….ou suados pelo forte sol, eu percebi que queria mais: eu queria um carro.
E neste momento eu percebi que os meus motivos estavam mudando, à medida que eu atingia meus antigos desejos. Por isso entenda que o que te movia lá atrás, não necessariamente continua te movendo agora.
Qual é seu motivo agora?
Nunca perca de vista seus motivos, pois eles irão te ajudar a seguir em frente, mesmo quando todos já teriam desistido se estivessem em seu lugar.
Aprenda a ter um diálogo franco com o Universo, com Deus, enfim, com algo além das suas forças…chamo isso de fé. Aprenda a declarar aquilo que você deseja. E quando eu falo declarar, eu falo verbalizar mesmo aquilo que está em seu coração.
Mais ou menos assim: “Deus, oi, você está aí?” (às vezes ele responde, às vezes não. Mas não se preocupe, ele está te ouvindo mesmo assim). “Então… já estou a alguns dias para te pedir uma coisa, mas eu não queria que me interpretasse mal. Então, eu sei que estamos aí, vivendo tantas dificuldades…a pandemia…mortes…. mas quero, mesmo assim, te fazer um pedido. Pode ser?”
Nem espera ele responder e já sai pedindo….
“Eu queria muito ,sabe, que tivessem centenas de pessoas no Congeheri deste ano…eu queria que tivessem centenas de pessoas me adicionando no LinkedIn e me seguindo no Instagram….”
Nesse momento de pura harmonia com o divino, vem uma voz em sua mente (pra mim a resposta de Deus) e te diz: “Mas, Tati, não era só um lanchinho no intervalo da escola que você estava querendo?” Nesse momento a ficha cai…e você percebe que está pedindo mais do que deveria!
Brincadeiras à parte, mas de vez em quando Deus me dá uns esporros mesmo…
Durante a minha vida eu descobri que para ter tudo aquilo que deixava meu coração feliz, eu precisava trabalhar muito. E descobri no trabalho uma das grandes paixões da minha vida. E quando digo trabalho, não pense que é esse que você está vendo agora de Palestrante… eu gosto de qualquer trabalho.
Já fui vendedora de 1,99, monitora de educação infantil, telefonista, entregadora de cestas básicas, garçonete, babá…enfim…já fui muita coisa. Não me lembro de em nenhum desses empregos eu fazer algo pela metade. Sabe por que? Porque eu sempre soube o que me fazia feliz. Eu sempre soube que o poder de realizar tudo o que eu queria estava única e exclusivamente em minhas mãos. E toda dificuldade era apenas uma passagem para me aproximar ainda mais dos meus sonhos.
A solução para minha – ou a sua vida – está no DESPERTAR.
Independentemente da idade que temos, precisamos nos apaixonar novamente pelo que fazemos, e, então, assumir o protagonismo de nossas vidas, em busca de nossos sonhos.
Com um propósito inabalável de fazer as pessoas viverem suas vidas com paixão, eu reuni toda minha experiência, somada ao meu inconformismo, e entrevistei grandes líderes de nosso País, como Luiza Trajano, Geraldo Rufino, Chieko Aoki, José Luiz Tejon, Rodrigo Pimentel… ao total foram mais de 20 líderes, de todas as idades, que me ajudaram a reunir as oito competências essenciais para a liderança contemporânea. Que eu apresento nesse momento para vocês.
Líder desperto
O Líder Desperto é um profissional que acordou para a realidade como ela é e tem curiosidade para entender como navegar e prosperar nesse novo mundo. Ele já entendeu e já aceitou que não dá para aplicar regras e práticas antigas aos desafios do dia a dia atual.
Com a coragem e a resiliência de quem está em permanente construção, o líder desperto torna-se naturalmente mais competitivo e atrativo para o mercado, pois não sente necessidade de estabilidade. Ao não ter a pretensão de saber tudo nem de saber mais que os outros, torna-se mais compatível com mundo atual.
Ao romper a inércia e a monotonia, o líder desperto faz do próprio exemplo um manifesto de como é possível se reinventar e construir um futuro sustentável para si, para a organização da qual faz parte.
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Digital
O líder desperto com competência digital tem a capacidade fazer conexões, criar redes, pensar e desenvolver sistemas colaborativos. Sabe que não é possível controlar a velocidade da transformação digital e isso lhe dá abertura para testar novas soluções, novos apps, novas práticas, novos métodos. O líder desperto, com essa característica digital, coloca-se voluntariamente nessa condição de aprendiz de novas ferramentas, em um eterno looping de aprendizado.
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Empático
O líder desperto com competência de empatia consegue se colocar a serviço do outro e usar todos os seus recursos para auxiliá-lo. Não tem haver com passar a mão na cabeça, ser bonzinho, mas, sim, desconectar das suas necessidades e das suas demandas para se plugar nas necessidades e nas demandas da sua equipe. Não é o time que se adequa a ele, é ele quem se adequa a cada integrante, respeitando suas características, suas limitações e seus talentos.
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Sagaz
O líder desperto com atitude sagaz é, de certa forma, um idealista pé no chão, um sonhador realista, com uma capacidade grande de realização. Ele é ousado, um tomador de riscos curioso, ainda que meticuloso. Por mais que esteja sempre em busca de dados e estatísticas, para dar mais segurança às suas decisões, o líder desperto é sagaz ao ponto de saber que não existe uma verdade única. A incerteza e a volatilidade fazem parte do jogo e é por isso que ele segue sua intuição, rompe padrões e analisa vários cenários, situações e pontos de vista.
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Próspero
O líder desperto se sente próspero porque entende que a sua riqueza não depende somente do que tem no banco, da casa onde mora ou do carro que dirige. Ele atraí as mais diversas riquezas e, compartilha-as com pessoas ao seu redor. Para ele, ser próspero é também ser ecológico, ou seja, ser capaz de atrair pessoas e ideias do seu entorno com propósitos comuns, gerando colaboração, construindo engajamento e despertando aquele sentimento único de significado e realização em todos os envolvidos.
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Ético
O líder desperto tem seus valores pautados na ética, ou seja, ele pratica, na sua vida pessoal e profissional, tudo que diz e defende. Nunca foge de uma DR, porque é coerente e transparente. Tem um senso de justiça muito apurado e compreende o peso da responsabilidade de estar frente a um time diverso com opiniões e valores diversos.
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Regenerador
O líder desperto com habilidades regeneradoras ajuda as pessoas a viverem com paixão seus sonhos. Ele entende o equilíbrio entre o dar e receber. Sabe que as pessoas são abastecidas de diferentes formas e usa isso a seu favor. Esse líder sabe bem a hora de parar e recolher-se, com o objetivo de voltar a se centrar, recuperando a energia para voltar à campo e entregar o seu melhor.
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Tenaz
O líder desperto é tenaz, ou seja, tem capacidade de suportar a pressão, de ter firmeza, persistência e obstinação. O líder desperto com essa característica é o protagonista da história, aquele que inspira a todos não pela posição conquistada, mas pela capacidade de superar desafios, de não desistir, de se reinventar, de inspirar com energia. Ele tem vitalidade, pique, brilho nos olhos. Seu exemplo contagia qualquer um.
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Oportuno
O líder desperto percebe oportunidades onde todos estão percebendo ameaças. Ele é uma pessoa distante da sua zona de conforto. É uma pessoa inquieta, inconformada, ligada na tomada.
“Ah Tati, mas eu não sou tudo isso que você disse. Na verdade eu não nasci para liderar.”
Para já com esse papinho de que líder nasce líder. Isso não é verdade. A verdade é que quando um desejo brota do seu coração, você consegue qualquer coisa…. mas apenas SE QUISER.
Acredito que logo-logo, você tenha que fazer uma escolha importante: desenvolver essas oito competências para, no mínimo, assumir a liderança de sua própria vida.
Vou voltar na pergunta inicial que fiz lá traz e vou perguntar para você novamente: quando você escolheu sua profissão, qual era o seu sonho?
Independentemente de qual seja seu trabalho hoje, compreenda que ele pode te ajudar a realizar todos os seus desejos. Mas, Tati, você não entende, eu ganho muito pouco.
Preste muita atenção, pode doer, mas eu preciso lhe falar isso: todos nós recebemos o que merecemos HOJE. Mas isso pode mudar. Mudou na minha vida, e eu não tenho nada diferente de você. Vai funcionar na sua vida também.
Busque seu desenvolvimento, busque fazer as coisas na sua vida com vontade, retome a paixão pelos seus sonhos e lute pelo que você deseja!
E quando voltarem a te perguntar: QUEM QUER SER LÍDER?, eu tenho certeza que já terá uma resposta formada na sua cabeça.
Tatiane Souza, palestrante, consultora em RH e autora do livro “Quem quer ser líder?”. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.