Como é difícil! Veja se para você também. Imagine, neste exato momento, o quanto suas preocupações e suas ocupações dão conta dos males sofridos pelo meio ambiente! E quanto aquela pessoa realmente necessitada, ao semáforo de uma grande cidade, quem sem máscara e sem cara lavada lhe vem pedir um trocado, para o qual acenamos muitas vezes em sorrisos amarelos, estes atrás das máscaras.
Se considerarmos que praticamente metade do tempo não estamos com nossas mentes focadas no momento presente, dando saltos ao passado e voos ao futuro, vale ao menos nos provocarmos sobre onde estão estes pensamentos. Será que no passado, estão resgatando aprendizados para nos ajudar com o momento presente e, no futuro, elaborando planos para resolver os problemas crônicos que farão deste planeta um lugar apenas para ser lembrado?
Minha tentativa, neste texto, é a de conectar nosso mundo mais pessoal, individual e singular ao mundo coletivo, planetário.
“Em 2004, o documento Who Cares Wins criado pelo Pacto Global da ONU em conjunto com o Banco Mundial provocou as 50 principais instituições financeiras do mundo a refletirem sobre formas de integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. E foi assim que nasceu o conceito ESG.” (Texto de Introdução ao Relatório da Rede Brasil do Pacto Global e da Stilingue.)
Perceba que se trata, o ESG, de um movimento mundial, que portanto visa acomodar efeitos positivos sobre três pilares essenciais e que nos envolve como em um grande tecido. Somos parte deste tecido social, ambiental e de governança.
Mas, o que está por trás disso? A provocação que quero lhe trazer, unindo então sua individualidade à coletividade planetária, diz respeito aos seus motivos. Trato aqui da motivação, não daquelas encontradas em palestras nos eventos de celebração e sim dos motivos diários que colocam você e o mundo em movimento.
Certo que os motivos podem ser os mais variados, afinal cada um é um. Contudo, independente de qual seja o seu motivo, o do governo e das empresas, há que se olhar para o correto alinhamento entre motivo e meio. Para lhe explicar isso, quero que você pense no seguinte: Por que alguém faria o bem? A resposta mais adequada é porque deve ser feito. Não é?
Trata-se de algo que em si mesmo é meio e fim. Caso tenhamos a inclinação de dizer que fazer o bem é justificável pelos efeitos que gera, faria algum sentido também. Olhamos, nesta perspectiva para os frutos do bem feito. Ao ser gentil, como diria o poeta, geramos gentileza, um fruto potencialmente natural desta nobre atitude. Contudo, se almejo ser gentil para ser “gostado”, para ter mais likes, para “ficar bem na fita,” mas não sinto em mim mesmo uma verdade genuína, que me impulsiona a ser gentil, porque é o que se deve fazer, então estou caindo no risco que o ESG cai.
Por que ser sustentável? Por que ter um olhar social? Por que cuidar de uma governança que promove inclusão, equilíbrio e justiça? Se a resposta for “porque tem que ser feito” estamos no caminho certo. Contudo, há uma tendência a acreditarmos que o motivo real não é o “uso” destes termos e orientações porque são importantes por si mesmos, e sim porque é uma nova “onda,” um novo meio de se manter em pauta as mesmas motivações de sempre. Veja, tais motivações foram as geradoras da necessidade de se criar o ESG. A professora de filosofia Lúcia Helena Galvão, da Nova Acrópole, nos desafia a buscar o mal em sua profundidade, aquele que entremeia o tecido social e corporativo. Lá, segundo ela, o que encontraremos é o egoísmo.
Destruímos o planeta em prol do avanço tecnológico, da produção de riquezas e sua pífia distribuição. Este movimento, dentre outros, como a sede pelo poder, que em si tem o dinheiro como parceiro inseparável, também corrói as engrenagens enferrujadas da máquina sócio corporativa.
Se atender à demanda ESG porque é necessário, mesmo que isso nos custe lucros e dividendos e assim for feito, temos alguma boa chance de estabilizar o mal feito. Contudo, se mantivermos a motivação que gerou os problemas que o ESG sugere resolver, usaremos aquilo que é fim em si mesmo como meio para manter o status quo e mais uma vez teremos feito de uma boa ferramenta uma arma letal à salubridade do planeta.
Yuval Noah Harari, historiador que se tornou famoso com suas obras “Sapiens,” “Homo Deus” e “21 Lições para o Século 21” já trouxe sua parcela do alerta ao qual estamos expostos. Diz ele:
“Infelizmente, não estamos fazendo muita coisa para pesquisar e desenvolver a consciência humana. Estamos pesquisando e desenvolvendo habilidades humanas principalmente em função das necessidades imediatas do sistema econômico e político, e não de acordo com nossas necessidades de longo prazo como seres conscientes. Meu chefe quer que eu responda aos e-mails o mais rápido possível, mas tem pouco interesse em minha capacidade de saborear e apreciar a comida que estou comendo. Consequentemente, eu verifico meus e-mails durante as refeições, enquanto vou perdendo a capacidade de prestar atenção às minhas próprias sensações. O sistema econômico me pressiona a expandir e diversificar minha carteira de investimentos, mas me dá zero incentivo para expandir e diversificar minha compaixão. Assim, eu me esforço cada vez mais para entender os mistérios da bolsa de valores, e cada vez menos para compreender as causas profundas do sofrimento.”
Você e eu, em nossa individualidade, podemos fazer algo quanto a isso. O primeiro passo é realmente refletir o quanto, em nosso íntimo, estamos realmente preocupados e motivados a fazer algo para a sustentabilidade como um todo. Se não estivermos, que culpa poderemos atribuir às empresas e ao governo?
Sucesso em sua jornada.
Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.