Apesar de sua alta prevalência e de seus impactos amplamente documentados, a obesidade segue sendo uma condição marginalizada no ambiente corporativo brasileiro. Dados populacionais indicam que mais de um quarto dos adultos no Brasil é obeso, realidade que transcende as estatísticas ao afetar profundamente a qualidade de vida, o bem-estar emocional e a produtividade dessas pessoas. Ainda assim, a resposta das empresas frente a esse desafio permanece tímida, quase inexistente. Não há campanhas institucionais robustas, tampouco se criou um “mês colorido” – tão comuns para outras causas de saúde – para dar visibilidade ao tema. A obesidade, enquanto problema de saúde pública e corporativa, precisa ser reconhecida como prioridade estratégica nas organizações.
O impacto da obesidade nas empresas vai além do aumento de custos assistenciais e previdenciários. Pesquisas apontam que indivíduos com obesidade têm maior risco de desenvolver doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão e distúrbios osteoarticulares, além de apresentarem maior absenteísmo, presenteísmo e dificuldades de socialização e autoestima no ambiente de trabalho. Isso sem mencionar o peso do estigma e da discriminação, que muitas vezes afetam mais o emocional do colaborador do que a própria condição física. O silêncio institucional sobre o tema aprofunda esse sofrimento.
Parte do problema está na forma como a obesidade é percebida socialmente: como uma questão de responsabilidade individual, associada à falta de disciplina ou autocontrole. Essa visão reducionista ignora a complexidade da condição, que envolve fatores genéticos, ambientais, comportamentais, emocionais e sociais. Empresas que desejam promover saúde de forma efetiva e inclusiva precisam romper com essa visão limitada e adotar uma abordagem mais ampla e compassiva, baseada em evidências científicas e apoio multiprofissional.
A atuação das empresas deve começar pela prevenção, promovendo ambientes que favoreçam escolhas saudáveis. Isso inclui desde a oferta de alimentação equilibrada e espaços para atividade física até campanhas educativas que incentivem a mudança de hábitos com respeito e empatia. No entanto, é essencial ir além da prevenção. A realidade é que muitos colaboradores já convivem com a obesidade e precisam de suporte estruturado para tratamento. Programas esporádicos ou ações pontuais não são suficientes. É necessário desenvolver programas contínuos, com duração de algumas semanas, que envolvam uma equipe multiprofissional – médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos – e que considerem as singularidades de cada indivíduo.
Nesse sentido, é fundamental que as empresas ampliem o acesso a tratamentos eficazes. O uso de medicações inovadoras, como os agonistas do GLP-1, tem demonstrado resultados promissores no controle do peso e na melhoria de parâmetros metabólicos. A inclusão dessas terapias nos programas corporativos, seja de forma subsidiada ou não, pode representar uma virada na forma como a obesidade é tratada dentro das organizações. Da mesma forma, a correta indicação das cirurgias bariátricas – quando bem acompanhadas por equipes especializadas e dentro de protocolos clínicos adequados – deve ser considerada como uma alternativa terapêutica. Para isso, é essencial que haja uma integração efetiva entre as empresas e os planos de saúde contratados, utilizando a rede credenciada de forma estratégica, a fim de evitar desperdícios, garantir a qualidade do cuidado e potencializar os resultados em saúde.
Além disso, incluir a obesidade na agenda estratégica da saúde corporativa implica também em revisar políticas internas para combater o preconceito, garantir a acessibilidade dos espaços e adaptar benefícios de saúde para contemplar tratamentos eficazes. A cultura organizacional precisa ser um espaço de acolhimento, e não de julgamento.
Ignorar a obesidade como tema relevante no ambiente de trabalho é fechar os olhos para um problema que compromete o presente e o futuro das empresas. Cuidar das pessoas em sua integralidade é não deixar nenhuma condição de saúde à margem. Chegou a hora de dar à obesidade o mesmo espaço e atenção que outras campanhas corporativas de saúde recebem.
Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.