Vivemos um tempo em que tecnologia e pessoas não competem, se complementam. No entanto, para que o uso da tecnologia seja realmente vantajoso, as empresas precisam investir não só em novas ferramentas, mas também nas pessoas para que estejam preparadas para usá-las. É nesse ponto que o RH assume um papel inegociável: promover o empoderamento digital das equipes, tornando a tecnologia acessível, compreensível e aplicável no dia a dia de profissionais de todas as áreas. De acordo com o relatório “Next stop, next-gen” da Accenture, empresas que usam tecnologias de ponta em seus processos são 23% mais lucrativas.
O conceito de empoderamento digital vai muito além de treinamentos técnicos ou capacitações pontuais. Trata-se de criar uma cultura organizacional que incentive a curiosidade digital e ofereça acesso a conteúdos atualizados. Reforço: isso não deve ficar restrito aos cargos mais altos ou diretamente relacionados à Tecnologia e Inovação. A transformação digital, para ser verdadeira, precisa alcançar todos os times, do chão de fábrica ao setor financeiro.
Um exemplo positivo dessa prática vem da Suzano, uma das maiores produtoras de celulose do mundo. Em parceria com a Koru, em 2025 a empresa decidiu rodar o programa “Empoderamento Digital”, que tem o objetivo de democratizar o acesso à tecnologia entre seus colaboradores. Pessoas de áreas tão distintas quanto operação industrial, logística e comercial passaram a aprender sobre Ciência de Dados, Inteligência Artificial e automação de processos, aplicando esse conhecimento diretamente em suas rotinas de trabalho. O programa foi desenhado no formato Work-Based Learning (WBL), ou seja, aprendizado aplicado a situações reais, com o acompanhamento de mentores. Incentivados pela Suzano, os colaboradores já têm projetos para o desenvolvimento de chatbots para atendimento interno/ao público e sistemas de predição de falhas.
Nesse processo de empoderamento digital, a função do RH é mapear as competências tecnológicas necessárias para o futuro da empresa, dando acessibilidade a elas, e buscar formas de valorizar o esforço dos colaboradores que se dedicam a essa evolução. O reconhecimento do envolvimento de um empregado pode vir em forma de bolsa para um curso avançado, prêmio de destaque, ingresso para um evento de inovação, bônus financeiro, entre outros, a depender da cultura da empresa.
Além disso, o RH deve ajudar a desconstruir a relutância e o medo que muitos profissionais ainda sentem diante das novas tecnologias, promovendo uma cultura de aprendizado inclusivo. Uma pesquisa da Opinion Box e CX Brain, com entrevistas realizadas entre abril e maio de 2025, mostrou que a faixa etária é um fator que pesa nesse quesito. No Brasil, utilizam produtos ou serviços que envolvem IA, diariamente, 52% da Geração Z, 47% dos Millennials, 40% da Geração X e 36% dos Baby boomers.
A pesquisa também mostra como as fontes de informação sobre IA e suas ferramentas ainda estão fora do trabalho: 63% dos brasileiros se informam pelas redes sociais, 52% por vídeos e tutoriais online e apenas 41% por cursos e treinamentos. Por outro lado, ter como fonte cursos e treinamentos deu um salto de 2024 para 2025, tendo aumentado 12%, o que indica que mais empresas vêm buscando ou investindo nessas habilidades. Ficam atrás sites e blogs especializados (33%), artigos e publicações acadêmicas (29%), eventos e conferências (15%) e podcasts (6%).
Se a tecnologia avança em ritmo acelerado, o desafio das organizações é garantir que ninguém fique para trás. E esse deve ser, acima de tudo, o papel do RH.
Raissa Florence é cofundadora e diretora de Growth da Koru. Com uma carreira dinâmica e especialização em princípios da liderança na Harvard University. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.