Quando falamos sobre o Futuro do Trabalho, muitas vezes, as pessoas imaginam um cenário extremamente distante, quase uma ficção científica à lá “2001: Uma Odisseia no Espaço”, filme de Stanley Kubrick. No entanto, o debate é sobre como os acontecimentos e ações de hoje vão moldar o nosso futuro. Como nos últimos anos temos passado por grandes e rápidas transformações sociais e tecnológicas, podemos ter certeza de que estamos mais próximos desse “futuro” do que pensamos. É fundamental, portanto, entendermos essas mudanças agora, pois elas já estão moldando o presente.
Esse é um debate que abrange diversos aspectos, e começo com os direitos trabalhistas, que estão em reavaliação em todo o mundo sob uma intensa polarização política. Experimentos com a semana de trabalho de quatro dias mostram benefícios claros para os colaboradores ao reduzir a ansiedade e outros problemas ligados à saúde mental. Por outro lado, existe uma pressão mercadológica por competitividade e produtividade. A Grécia, por exemplo, acaba de aprovar a legislação para a semana de seis dias de trabalho. Retrocesso ou eficiência? Nesse contexto, o papel dos Recursos Humanos (RH) é fornecer dados e insights para que as empresas tomem decisões informadas, na busca de um equilíbrio entre bem-estar e a continuidade do negócio o que, para mim, são conceitos muito próximos e nada antagônicos.
A pandemia nos fez repensar onde e como trabalhamos. Passados alguns anos da experiência remota, o modelo híbrido emergiu como uma solução popular. Pesquisas indicam que a maioria das empresas está adotando essa abordagem, ajustando a presença no escritório para dois ou três dias por semana. A chave aqui é a plasticidade na escolha do melhor modelo para cada organização, inclusive para cada momento da organização. Deve-se reconhecer os benefícios de ambos os formatos: o presencial fortalece vínculos e a confiança entre os colaboradores, enquanto o remoto oferece flexibilidade e foco. Cada cultura e cada ambiente se ajustam a um formato, mas a verdade é que dadas as experiências recentes, não há motivo para abrir mão de qualquer um deles, dado que podem coexistir. Poucas vezes na vida podemos ficar com todas as opções, e esta é uma dessas ocasiões.
A escalada dos conflitos geopolíticos, a exemplo da guerra na Ucrânia e o isolamento comercial da Rússia, assim como a guerra entre Israel e Hamas em Gaza (Palestina) que já envolve outras nações do Oriente Médio, também estão influenciando o Futuro do Trabalho. Os países não querem mais depender do comércio internacional para questões estratégicas e estamos vendo uma onda de nacionalização das cadeias de suprimentos. Basta ver o investimento dos EUA na produção local de semicondutores, que é de cerca de 200 bilhões de dólares.
Se cada país deverá ser o mais autossuficiente possível, isso significa que devemos investir nas indústrias locais, e isso exige desenvolvimento contínuo de habilidades e competências das pessoas. Os países que estão se descolando da precarização do trabalho são aqueles que investem massivamente em tecnologia. Então, dentro do RH, tenho que pensar: quais são as oportunidades de desenvolvimento do meu time? Formar pessoas faz parte do futuro que queremos construir.
Entrando no campo tecnológico desse tema, atualmente é impossível não falar sobre a Inteligência Artificial (IA). Embora ainda estejamos explorando os limites dessa tecnologia, é evidente que ela terá um impacto profundo nas nossas rotinas de trabalho. A missão do RH é mapear as funções e atividades dentro da organização, imaginando como seriam em um mundo ideal e desenhando esse futuro de forma proativa. Ao invés de esperar que a tecnologia dite as mudanças, os líderes de RH devem ser protagonistas na integração dessas inovações, para que elas sejam parceiras da produtividade e da satisfação dos colaboradores. Inclusive, já tem máxima viralizada: “eu não quero que a IA substitua o meu trabalho, quero que faça as tarefas menos especializadas para que eu possa fazer o que gosto, inclusive no meu trabalho”.
Vejo, por tudo isso, dois movimentos imprescindíveis para o RH. Primeiro, é necessário ser protagonista no debate sobre o Futuro do Trabalho. Isso envolve questionar e redefinir as funções e habilidades necessárias à organização, alinhando-se com a direção estratégica do negócio. O segundo ponto é a fundamentação em dados. Decisões embasadas em fatos são essenciais para convencer e engajar todas as partes envolvidas.
Já dizia o escritor, professor e consultor administrativo, Peter Drucker: “A melhor forma de prever o futuro é criá-lo”.
Daniel Spolaor, sócio e CEO da Korú. Cofundador e CEO da Universidade Corporativa Korú. Se dedica a gerar empregabilidade combinando ferramentas de HRTechs e Edtechs. um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.