Em uma época de transformações aceleradas, muito se discute sobre a extinção do modelo de liderança baseado em "comando e controle", mas a realidade, como um alerta silencioso, mostra que essa modalidade ainda se mantém presente e ativa nas organizações. Essa tensão entre o novo e o "velho" modelo é a fonte de uma pressão significativa sobre as novas gerações de líderes.

Durante a preparação para uma turma do curso de Liderança Criativa na Miami Ad School, onde atuo como professor, ouvi da coordenadora, Cecilia Pinaffi, que o perfil dos alunos era de pessoas "machucadas". Curioso, apliquei uma pesquisa anônima com 56 alunos, fazendo apenas três perguntas com resposta em uma única palavra, buscando capturar a primeira impressão:

  1. Como descrevo a liderança na minha empresa em uma palavra?
  2. Como descrevo a minha forma atual de liderar em uma palavra?
  3. Como descreveria a minha forma desejada de liderar em uma palavra?

O alerta silencioso dos números

Os resultados reforçam a percepção de que a liderança ainda está em um momento de transição e conflito:

  • Liderança na Empresa: Quase 90% das respostas descreveram a liderança atual nas empresas com uma palavra negativa ou desfavorável. Isso aponta para uma liderança confusa e desequilibrada, presa ao modelo de comando e controle, o que gera sobrecarga.
  • Liderança Pessoal (Atual): Em contrapartida, quase 80% das respostas sobre a própria forma de liderar vieram com palavras de conciliação ou colaboração. Esse dado sugere que as novas lideranças estão sob uma enorme pressão, tentando conciliar as práticas consideradas obsoletas impostas por seus superiores com as expectativas por modelos mais abertos e participativos das novas gerações.
  • Liderança Pessoal (Desejada): A diferença entre a forma atual e a desejada de liderar confirma essa pressão, especialmente nos níveis médios das empresas. O "miolo" de lideranças em formação demonstra um claro apetite por serem mais inspiradoras, engajadoras e equilibradas.

No entanto, esses líderes em formação esbarram em um "muro de velhas práticas" e exemplos das lideranças anteriores, que demonstram grande desconforto em "soltar um pouco mais a corda" do controle.

O peso do "comando e controle"

Não é coincidência que, nesse contexto, os problemas de saúde mental têm crescido, levando o Brasil a ser, segundo a OMS, o 2º país com mais pessoas ansiosas e o 5º com pessoas em depressão no mundo.

Em situações desafiadoras, nossa tendência comportamental é emular o que foi aprendido e que "funcionou". Uma aluna, por exemplo, relatou estar sobrecarregada pela baixa qualidade e proatividade de sua equipe. Ao ser questionada sobre o motivo de não dar mais autonomia, respondeu: "se dou autonomia, preciso refazer quase tudo. Raramente, recebo algo com qualidade". Repare que essa é uma prática de comando e controle aprendida e executada como garantia de um trabalho bem-feito.

O grande erro está em como a autonomia é percebida. Dar autonomia não significa esperar que o trabalho seja feito "à nossa maneira", mas que o resultado esperado seja entregue. A tendência de aplicar os nossos filtros de qualidade leva ao microgerenciamento e às "refações". Ao nos colocarmos como filtros, desmotivamos e “desempoderamos” nossas equipes. Ao constatarem que tudo que fazem será revisado e corrigido, os liderados passam a devolver "qualquer coisa", numa dinâmica de perde-perde e desmotivação.

A liderança como maestria

Para quebrar esse molde construído por décadas, é preciso dar espaço a novas formas de fazer, colaborar e liderar, evitando a manutenção de espaços de pressão e insatisfação.

Gosto de analogia da liderança ao maestro de uma orquestra. Enquanto no passado o maestro era obrigado a dominar todos os instrumentos para corrigir a forma de tocar de qualquer instrumentista, hoje ele precisa ter a capacidade de extrair o melhor som e talento de seus músicos. O líder inspirador, como o maestro condutor, dá autonomia aos instrumentistas para tocarem de sua maneira, respeitando a partitura ou plano.

O letramento emocional como saída

Em um cenário de agendas infinitas, estruturas enxutas e recursos escassos, a liderança se encontra fragilizada, tendo que lidar com o aumento do absenteísmo por saúde mental nas equipes, ao mesmo tempo em que lida com sua própria saúde mental.

Acredito que uma possível saída para esse dilema é falar sobre emoções e seu impacto nas relações organizacionais. O letramento emocional é fundamental para reconhecer e lidar com as emoções da forma correta e deve ter mais espaço de discussão.

Admitir as vulnerabilidades e saber lidar com elas é o primeiro passo para diminuir a sensação da falta de um modelo que substitua o comando e controle.

Convido você, leitor, a responder às três perguntas de nossa pesquisa como um exercício de reflexão sobre como você é liderado, lidera e gostaria de liderar.

Alexandre Waclawovsky, o Wacla, liderou marketing, vendas e inovação no Brasil e América Latina. Atualmente, é CRO no Fretadão. Reconhecido por sua contribuição ao empreendedorismo e transformação de negócios. Mentor de startups e consultor associado na HSM. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.