De acordo com o Global Burden of Disease (GBD) que se constitui no principal repositório de dados em saúde populacional, no Brasil o principal fator de risco de morte e incapacidade combinados é a presença de índice de massa corpórea elevada. Consequentemente as principais causas de morte em nosso país são as doenças cardiovasculares e o derrame cerebral.
O estudo VIGITEL, do Ministério da Saúde, mostra em sua última edição, que 61% dos brasileiros estão com excesso de peso e quase uma quarto deles são obesos. Nos Estados Unidos, dois a cada três adultos são obesos e a prevalência de obesidade vai superar a de sobrepeso, sem indícios de melhoria ou estabilização.
De acordo com a pesquisadora finlandesa Sylvain Sebert, a crise da obesidade se trata de um epifenônomeno da era antropocênica onde o genoma humano converge com o ambiente obesogênico culminando numa emergência planetária.
Mas, como as empresas, o sistema de saúde, o governo e a sociedade como um todo reagem a este cenário ?
Certamente que a adoção de políticas públicas e o enfrentamento dos determinantes sociais, econômicos e políticos de saúde é fundamental. Neste campo se incluem a criação de espaços seguros para o lazer e deslocamento saudável, a taxação dos alimentos ultraprocessados e o acesso a alimentos saudáveis a custos acessíveis, por exemplo.
No campo individual, a abordagem continua sendo em silos. A abordagem, em geral, se inicia com um médico, especialista ou não, que solicita exames laboratoriais e pode prescrever um medicamento ou um tratamento cirúrgico.
Recentemente, os agonistas dos receptores de glucagon-like peptide-1 (GLP1), particularmente a semaglutida tem trazido resultados muito positivos para o tratamento da obesidade. Além disso, demonstrou-se a redução no risco cardiovascular, um melhor controle do diabetes e boa tolerabilidade.
No entanto, muitas vezes a prescrição do medicamento não vem acompanhada de um suporte profissional de mudança de estilo de vida e os sistemas de saúde não podem se limitar a abordagens em atenção secundária e limitada às repercussões da obesidade.
Neste contexto, os pesquisadores Ross Arena, Nico Pronk e Carl J. Lavie publicaram um artigo na edição de dezembro de 2024 da revista Mayo Clinic Proceedings em que propõem uma abordagem semelhante à reabilitação cardiovascular que denominaram “pharma-cise”. Os pacientes são convidados a participar de programas com duração pré-determinada, de doze semanas, por exemplo, com a participação multiprofissional, em especial de especialistas em mudança de estilo de vida que elaboram um plano individualizado inclusive no que se refere a atividade física (exercício físico, menos tempo sentado, maior número de passos dados ao dia).
Com isso, evita-se as orientações vagas, em geral dadas pelos médicos em seus consultórios, sem um plano de cuidado bem estabelecido, em sinergia com outros profissionais.
Apesar da relevância do tema, do ponto de vista epidemiológico e as suas consequências para a saúde da população, não conheço a existência, em nosso país, de programas integrados, aliando o tratamento medicamentoso ou cirúrgico a uma abordagem científica da mudança de estilo de vida, que seja oferecida por empresas a seus empregados ou pelas operadoras de saúde para seus beneficiários.
Acredito que a sugestão de se adotar um programa adaptado, semelhante à reabilitação cardiovascular, pode ser uma boa inspiração para uma ação integrada e efetiva para o enfrentamento da obesidade.
Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.