Este artigo não é uma dica, ou um passo a passo.

É uma provocação.

Uma reportagem da Forbes traz em seu primeiro parágrafo: “À medida que as sociedades ocidentais envelhecem em ritmo acelerado, qualquer tipo de preconceito contra idosos provavelmente terá consequências graves para a economia. O problema foi enfatizado por um estudo da Escola de Saúde Pública de Yale, que estimou que o custo do preconceito contra pessoas mais velhas pode chegar a US$ 63 bilhões, apenas em termos de custos de saúde e apenas nos Estados Unidos.”1

Um estudo da Universidade de Berkeley-Haas mostra que as professoras são mais mal avaliadas após os 30 anos, enquanto os professores são mais bem avaliados conforme envelhecem2. E um dos motivos é de que com a idade elas corresponderiam menos ao estereótipo de serem “mais comunais (altruístas e preocupadas com os outros) e menos agressivas (autoafirmativas e motivadas a dominar) do que os homens3

E a cereja do bolo é a manifestação de jovens contra uma estudante de 40 anos: “Estudantes debocham de colega de 40 anos: “Não sabe o que é Google4

E o cenário foi montado na “comemoração” do dia da mulher, que acabou virando mês da mulher.

A pergunta é, no nicho empresarial, o que efetivamente as empresas estão fazendo quanto a isso?

Saiu na mídia a discussão sobre igualdade salarial ente homens e mulheres. Não adianta haver uma lei, a cultura precisa ser modificada.

Quando você se depara com meninas imaturas, achando que o que se fala num grupo privado não tem importância, significa que “eu posso ser preconceituoso desde que escondido”.

Quando isso não gera uma gritaria geral, que geraria algo contra muitas outras minorias, mostra-me que o etarismo — em qualquer gênero — não importa. E que o etarismo contra a mulher não importa, nem mesmo, para outras mulheres.

Empresas com mulheres na liderança são mais lucrativas… isso é repetido pelo menos desde 20165, em 20196, em 20227… E é verdade. Por que, então, a ausência de mais mulheres em cargos mais altos.

Eu ouvi de uma pessoa em um evento sobre etarismo, que uma mulher, parente sua, trabalhava em uma empresa da indústria da moda, e que na pergunta sobre idade de candidata, ela (de RH) disse que não contrataria, porque “Não é o perfil do mundo da moda” (a pessoa mais velha). E eu fique aqui pensando na Coco Chanel, no Karl Lagerfeld, no Giorgio Armani, na Íris Apfel, Donna Karan… (aqui caberia um emoji pensativo).

De novo: o que as empresas e os departamentos de recursos humanos, governança… estão fazendo com o ESG, a diversidade? Ou o assunto está só no departamento de marketing?

O “mês da mulher” deve servir, não de comemoração, mas de análise real da situação da mulher no mercado de trabalho e na sociedade.

As empresas, ainda que atinjam parte da sociedade, podem agir de diferentes formas, e algumas perguntas que deveriam ser respondidas com honestidade por elas são:

  • O que você faz com seus KPIs?

  • Por que as mulheres são mais mal avaliadas com a idade?

  • Quais campanhas de diversidade são realmente inclusivas? Quantas delas não têm uma inclusão preconceituosa com a defesa só de “algumas bandeiras”?

  • Quanto do seu programa de ESG é real?

  • Você tem programas parentais não voluntários para pais? Homens têm licença parental mandatórias como a das mães?

  • A empresa mapeou preconceitos em seu ambiente, especialmente, neste mês, quanto às mulheres e às mulheres após os 40 anos?

  • Em que funções a empresa tem a maioria das mulheres? A empresa divide funções femininas de não femininas?

  • A empresa já mapeou as oportunidades da lei 14.457/22?

Espero que a coluna de hoje leve essa provocação e que, quem sabe, alguém tente fazer algo mais concreto em relação ao trabalho feminino em sua empresa.

Hoje, fica só a provocação.

2 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0749597822000796?via%3Dihub

3 https://www.scholars.northwestern.edu/en/publications/gender-stereotypes-stem-from-the-distribution-of-women-and-men-in-2

4 https://www.metropoles.com/sao-paulo/estudantes-debocham-de-colega-de-40-anos-nao-sabe-o-que-e-google

5 https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/23/economia/1456237183_008329.html

6 https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2019/06/empresas-com-lideres-femininas-tem-resultados-ate-20-melhores-diz-onu.html

Maria Lucia Benhame, advogada e sócia do escritório Benhame Sociedade de Advogados, especialista em gestão trabalhista. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.