Já no final da tarde, depois de ter enviado um material com dicas de como fazer reuniões remotas, como iniciar um projeto, como cobrar um funcionário e como enfrentar a ansiedade no trabalho, ele me ligou e disse assim: “Aquele manual que você nos mandou está interessante, mas creio que apenas para pessoas mais júnior ou em início de carreira mesmo. Já para profissionais experientes, executivos, essas dicas do manual são muito primárias!”

Ouvi com carinho e um tanto surpreso. As orientações realmente poderiam parecer simples até um tanto óbvias, mas imaginei que diante de tantas mudanças aquelas dicas seriam interessantes para o processo que estávamos começando com este cliente.

O envio do manual fez parte do início de uma jornada com o objetivo de ressignificar a vida pessoal e profissional daqueles executivos, cinco, no caso. Um processo consultivo, com cuidados especiais no atendimento das demandas deste cliente. Depois de enviado o manual e recebido aquele feedback, partimos para a nossa primeira reunião de diretoria da empresa.

Mantendo em mente as dicas e orientações contidas no manual, mergulhei na reunião com os olhos atentos aos detalhes daquilo que era supostamente óbvio aos olhos daquele executivo.

Depois de mais de uma hora de reunião, e minhas notas todas tomadas em uma das páginas de meu caderno de anotações, desligamos a chamada. Fiquei pensativo sobre o que havia transcorrido. A reunião foi boa, sim, afinal são 4 diretores e 1 CEO que já se conhecem de longa data, mas, mesmo assim, havia um abismo metodológico para o que havia acontecido. A grande parte das orientações contidas no manual não foram cumpridas e me peguei pensando sobre a distância entre aquilo que achamos que sabemos e aquilo que de fato sabemos colocar em prática para o bem de melhores resultados, maior produtividade e, acima de tudo, melhor relacionamento humano, pois afinal uma empresa, por mais tecnologicamente avançada que seja, depende das relações entre seus funcionários e principalmente destes com seus lideres. Lá estava eu acompanhando os 5 principais líderes da companhia.

Para minha surpresa, alguns minutos depois da reunião recebo novamente a ligação daquele mesmo executivo que antes havia partilhado seu feedback. Nesta nova ligação, disse ele: “Petreca! Gostaria de retirar o feedback que lhe dei anteriormente! Realmente as orientações de como fazer uma boa e produtiva reunião remota, embora me parecessem óbvias, estão longe da minha verdadeira prática. Depois que nossa reunião acabou percebi o quanto eu perdi por não seguir as instruções, por assumir que eu já sabia!”

Depois que falamos um pouco mais sobre este tema, desligamos e sai com uma sensação de realização importante. O choque inicial vindo da negativa sobre as orientações passadas havia se transformado em um forte convite para persistir na caminhada em prol de melhorar as relações humanas para que a empresa e seu ecossistema, que vão além de stakeholders, possam usufruir do melhor serviço e do melhor produto.

Deste dia em diante, uma lição para mim também! Sabemos muita coisa, contudo boa parte deste saber não se torna uma prática efetiva. Somos reféns de nossos hábitos. Como diria Fiódor Dostoiévski, filósofo russo: “O Homem é a criatura que pode se acostumar a tudo…” valendo aqui acrescentar “E isso não é necessariamente bom.”

Claro que o contexto de 2020 exigiu de nós adaptações importantes, como a própria reunião remota, o trabalho remoto, quase tudo por um tempo, remoto. Contudo, algumas coisas básicas não mudam em sua essência, independentemente do contexto. Na verdade, tem se mostrado muito mais necessárias no tempo presente. O Velho e bom (bom mesmo) Marco Filosófico das companhias: Visão, Missão e Valores (Para alguns mais adiantados, crenças também), mostram sua verdadeira força em poucas empresas de fato. Você sabe disso, não sabe? Você também sabe que se a base sobre a qual nos sustentamos não for “sobre a pedra” desmoronaremos.

Justamente neste saber que pecamos profundamente. Ao lidar com temas abstratos, difíceis de serem tangibilizados, como o próprio marco filosófico, partimos para nossas respostas mais naturais como seres humanos, como a busca pela segurança, a sobrevivência em si. Natural, claro!

Mas, se somos desejosos por evoluir e não apenas “existir” há esforço consciente a ser colocado em ação. Se desejamos seguir um caminho de propósito, ele não será natural. Se queremos defender valores, ele não será natural. Se queremos construir um legado, ele não será natural. Se o desejo é de apenas sobreviver, pagar as contas e chegar do outro lado do rio apenas respirando, embora com o corpo e a alma em frangalhos, tudo o que falei aqui não vai fazer muito sentido mesmo e talvez até seja tomado como óbvio e assim deixado, naturalmente, de lado.

Mas, para quem entendeu que uma crise do porte da que estamos enfrentando seja talvez o maior convite que multi gerações receberam ao mesmo tempo, seu olhar e seu interesse repousarão sobre temas fundamentais, pois entendeu que somente sobre eles a humanidade terá uma verdadeira chance de viver e não apenas sobreviver.

Talvez então você pergunte: “Que temas fundamentais são esses?” Minha resposta: “Você sabe, não sabe?” Coloque em prática!

“Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida.” Viktor Frankl, Neurologista Austríaco sobrevivente do holocausto e criador da Logoterapia.

Pra você que chegou até aqui no texto, algumas dicas.

Caso você tenha interesse em conhecer o manual que cito neste texto, basta me pedir diretamente [email protected]

Dica de leitura: “Em busca de sentido” – Viktor Frankl.

Dica de série na Netflix: “The Umbrella Academy”, para o qual a sugestão é assistir com um olhar sobre o tal sentido da vida.

Dica de Músicas para aquecer: Visite a pasta “Músicas Integradoras” no Spotify.

Por fim, se você é atuante e deseja ressignificar o (seu) mundo venha para o Canal Integradores no Telegram.

Sucesso ao viver sua vida e que não seja uma mera existência!

Por Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.