Por muito tempo meu desafio tem sido falar e atuar sobre o básico! Sim, conseguir olhar para o
“arroz com feijão” de forma a entender seu verdadeiro potencial, não é jogo fácil. Uma das maiores resistências está no fato de que sobre o básico todos pensamos saber muito e diante dessa, que achamos ser uma situação já dominada, negligenciamos seu verdadeiro valor. Acontece com todos. Quanto mais vejo impérios se erguendo, mais clara fica a importância de se olhar para baixo. Não em menosprezo, na verdade, bem ao contrário. Trata-se de olhar para a base! Trata-se de ser capaz de buscar saber algo novo sobre aquilo que já se sabe. Este olhar se aplica ao tema do EX (Employee Experience) ou traduzido, Experiência do Empregado.

Para começarmos a jornada neste tema, creio fundamental entender que sempre teremos experiências, basta estar vivo. Assim, o que queremos mesmo é boas experiências, aquelas que sejam capazes de construir o que mais desejamos quando se trata dos empregados: que possam exercer o seu melhor potencial. Creio ser essa a principal razão para se pensar no tema do “EX”, se não for, preocupa-me este tema ficar reduzido a comidinhas, benefícios e “diversões” no ambiente de trabalho.

Pense em um triângulo. Cada lado representa uma vertente base para que seja possível construirmos um ambiente em que o potencial de cada empregado possa encontrar as condições adequadas para seu pleno exercício.

A primeira vertente, a horizontal

Por isso a base deste triângulo refere-se ao espírito que os dirigentes de uma organização precisam adotar. Para ilustrar este espírito relato um episódio do seriado “As aventuras de Merlin” disponível na plataforma Netflix. Neste episódio, Uther Pendragon, o rei em questão e, também, pai do futuro Rei Arthur, foi enfeitiçado por uma Troll, que escondeu sua monstruosidade atrás da beleza da Lady Catrina. Enfeitiçado pela cobiça e egoísmo daquela Troll, Uther resolve aumentar os impostos de seus súditos em Camelot. Arthur é contra, resiste, mas se rende ao fato de a decisão ter vindo de seu pai e rei! Contudo, a ganância da “fake” Catrina leva Uther a decidir por mais um aumento dos  impostos, situação para a qual o futuro rei Arthur se coloca contra veementemente! Em tons de autoridade conversam, quando Uther diz a seu filho que o povo é seu servo e que devem tudo ao seu rei. Arthur retruca, em mais um momento que demonstra seu coração nobre, e defende que os
súditos são a razão de ser de Camelot e que poder e riqueza dos Reis existem para que possam
melhor servir seu povo.

O servo aqui é o Rei! Esta é a primeira vertente do triângulo da boa experiência do empregado!

Uma vez assumido este espírito, os portões mágicos de Camelot (situação esta criada como
ilustração, por este que escreve a coluna) podem ser ativados. Esses portões filtram quem fica e
quem entra em Camelot. Eles podem ler as digitais de cada pessoa encontrando sua identidade e
ler os olhos daqueles que por eles passam, encontrando sua alma. Com o espírito servidor de
Arthur começa então um processo de alinhamento, no qual o rei deve buscar conhecer seus colaboradores, conhecer o legado que desejam deixar, suas ambições, sua paixão e valores.

A segunda vertente do triângulo – conhecer a quem se serve

É a segunda vertente do triângulo da boa experiência do empregado!
Lembrando que aqui, quem está servindo é o Líder.

Vencidas estas duas etapas, chegamos à terceira vertente deste triângulo:

A Relação Terreno e Semente

Somente aqui e, somente neste momento, será adequado pensar no que será feito para os  funcionários. Somente aqui e, neste momento, deveremos lembrar da equação proposta por W.
Timothy Gallwey: Performance = Potencial – Interferência. A redução das interferências levará a um melhor exercício do potencial de cada colaborador e não há nada mais gratificante do que saber que se está dando o seu melhor em um lugar que sabe acolher tal potencial. Assim, deve-se pensar nesta terceira vertente sobre a relação Terreno e Semente, na qual os dirigentes animados pelo espírito de Arthur, cientes da individualidade de seus colaboradores, poderão identificar o que de fato é necessário fazer para diminuir ao máximo as interferências que impedem a expressão máxima do potencial humano.

O “terreno” deve ser analisado em três elementos, como sugere o autor Jacob Morgan:
Experiências Físicas, Tecnológicas e Culturais.

As físicas, tratam dos espaços, do local habitado pelos funcionários, incluindo o trabalho remoto.
As tecnológicas, tratam dos ferramentais necessários para que o trabalho seja feito. E as experiências culturais, tratam dos aspectos identificados nos portões de Camelot, que devem se traduzir nas práticas, hábitos e rituais da empresa, que se traduzem na sua proposta de existência, que são visíveis em suas regras e métricas.

Neste contexto, até podem caber mesas de Ping Pong, escorregadores, snacks à vontade, clima
de festa “constante,” pois caso tais ofertas sejam lançadas aos empregados sem que as três vertentes aqui apresentadas sejam respeitadas, será muito parecido com a filosofia de tiranos, que para dominar seu público lançavam mão do “pão e do circo” mantendo um mundo de faz de
conta, relegando o verdadeiro EX para os contos de fada.

Somente quando os elementos de cada lado do triângulo se encontram se pode realmente pensar em um contexto cuja as experiências serão de fato, idealmente boas em um nível de consistência que mantêm a performance alta.

Experimente a Vida por um novo olhar!
Sucesso! Vida Longa!

Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.