Dia 01 de outubro é o Dia Nacional da Terceira Idade.
E como anda essa “melhor idade” no mercado de trabalho?
A pesquisa da Robert Half e da Labora, de 2023, sobre “Etarismo e Inclusão da Diversidade Geracional nas Organizações”, trazia alguns dados preocupantes:[1]
- Pesquisa realizada em junho de 2023 com 258 empresas.
- A diversidade etária é crucial para inovação e crescimento sustentável.
- 52% das empresas não possuem programas de diversidade geracional.
- Apenas 5,6% das contratações nos últimos dois anos foram de profissionais 50+.
- A interseccionalidade agrava a exclusão de grupos vulneráveis.
E apontava algumas medidas urgentes:
- Necessidade urgente de ações concretas para inclusão de talentos seniores.
- Manuais e políticas anti-etarismo estão começando a ser implementados.
Em 2024, a pesquisa foi repetida, e os dados não são sequer alentadores:
Pesquisa sobre Etarismo e Diversidade Geracional-2024[2]
- Realizada com 387 empresas, profissionais empregados e em busca de recolocação.
- Sinais de preocupação com a retenção de talentos seniores aumentam.
- Diversidade geracional ainda não é prioridade nas empresas.
- Profissionais 50+ continuam sub-representados, especialmente mulheres.
- Apenas 30% das empresas têm métricas para avaliar iniciativas de inclusão.
Tanto é verdade que em fls. 9 do relatório encontramos:
“Em uma a cada quatro empresas respondentes, profissionais 50+ representam até 5% da força de trabalho. Apenas 13,3% das empresas têm profissionais acima de 50 anos que constituem 25% ou mais do quadro de pessoas colaboradoras. No levantamento do ano passado, essa proporção era de 12,50%, indicando que os números permanecem estáveis, sem uma tendência clara de mudança.”
Além de constatar que há uma necessidade de mais conscientização sobre etarismo no ambiente de trabalho, o relatório traz alguns exemplos de atitudes etaristas (fls. 7 do relatório.). Ao analisá-las, vemos claramente que elas derivam de preconceito e desconhecimento.
Eu nunca vou me esquecer de quando em um seminário, um dos participantes, já perto dos seus 80 anos, comentou que a filha que trabalhava na indústria da moda disse que não o contrataria porque ele era “velho” e que para a “indústria da moda” o ideal era ter até 35 anos.
E eu fiquei pensando que a seleção dela ia jogar no lixo o currículo do Giorgio Armani, do Karl Lagerfeld!
No Brasil, o etarismo, ou preconceito contra pessoas com base na idade, é uma discriminação frequentemente subestimada, mas tem impactos profundos na sociedade e no ambiente de trabalho.
O etarismo pode se manifestar de várias formas, desde piadas e comentários depreciativos sobre a idade, até práticas mais graves como a dificuldade de conseguir emprego ou promoção. As empresas muitas vezes favorecem funcionários mais jovens, presumindo serem mais inovadores ou capazes de lidar com novas tecnologias, como o Armani recusado pelo nosso exemplo acima.
Presente no relatório citado acima (fl. 7): “Atitude: Assumir que pessoas mais velhas têm dificuldades com novas tecnologias, ou que as mais jovens são naturalmente mais habilidosas com tecnologia.”
Então o resumo é que tudo decorre de desconhecimento e preconceito, e as pessoas têm que ter coragem, e as empresas, já que feitas por pessoas, de enfrentar esse tema, e ver que realmente são preconceituosas, e então, combater com conhecimento.
Quando seu processo de seleção feito pela IA mais moderna repete incessantemente a atitude de descartar currículo no primeiro momento de recepção baseado na idade, isso diz tudo sobre sua empresa e você.
Para combater o etarismo, as empresas precisam tomar diferentes atitudes com um envolvimento multidisciplinar, e alguns exemplos são:
- Políticas de Diversidade e Inclusão: Implementar políticas claras que promovam a inclusão de pessoas de todas as idades. Isso inclui a criação de comitês de diversidade e a realização de treinamentos para empregados de todos os níveis hierárquicos. De verdade, ok? Nada de coisa para site bonitinho…
- Recrutamento e Seleção: Desenvolver processos de recrutamento que eliminem vieses etários. Anúncios de emprego devem ser redigidos para não descartar candidatos mais velhos e as entrevistas devem focar nas competências e experiências, não na idade. Uma possibilidade é o “blind selection” em que o currículo da pessoa que se candidata não contém dados que a possam identificar até final seleção.
Há um estudo interessante sobre o tema, que verificou uma melhoria no ambiente diverso, que derivou desse tipo de seleção[3]. Pode não servir para todo momento, como mostra esse artigo no Harvard Business Review[4], especialmente quando se quer ter uma ação afirmativa, mas é um bom caminho inicial.
P.S. tire o preconceito do treinamento da sua IA, por favor, programe-a para não buscar características pessoais e idade nos currículos. Ela precisa ser bem-educada, ok? Sem desculpas, por favor!
- Ambiente de Trabalho Inclusivo: Promover um ambiente onde todos se sintam valorizados e respeitados. Isso inclui combater piadas e comentários depreciativos, e garantir que todos tenham acesso a oportunidades de desenvolvimento e promoção.
- Educação e Conscientização: Investir em programas de conscientização sobre etarismo.
- Mentoria e Desenvolvimento: Estabelecer programas de mentoria que encorajem a troca de conhecimento entre gerações
- Flexibilidade e Adaptação: Oferecer opções de trabalho flexível que atendam às necessidades de diferentes faixas etárias. Isso pode incluir horários flexíveis, trabalho remoto e adaptações no local de trabalho.
- Avaliação e Monitoramento: Implementar mecanismos para avaliar e monitorar as práticas de diversidade e inclusão. Isso inclui a coleta de dados sobre a idade dos funcionários e a análise de como diferentes grupos etários estão sendo impactados pelas políticas da empresa.
Combater o etarismo não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia inteligente para as empresas. Estudos mostram que equipes diversificadas em termos de idade são mais inovadoras e produtivas e geram mais lucro[5].
Em conclusão, o etarismo é um problema significativo no Brasil e que requer atenção urgente das empresas.
As empresas devem combater o preconceito etário e criar um ambiente onde todas as faixas etárias se sintam valorizadas e incluídas.
Ao fazer isso, não apenas promovem a justiça social, mas também melhoram a produtividade e a inovação no local de trabalho.
E, combatendo e evitando o etarismo, cumprem a lei, já que é “crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa":
II–negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou trabalho;
Ah e lembrete, para que um órgão como o MPT desconfie de algo, basta olhar suas contratações e demissões nos últimos anos e as faixas etárias existentes…
Ops, vamos ter uma diversidade de verdade?
Maria Lucia Benhame, advogada e sócia do escritório Benhame Sociedade de Advogados, especialista em gestão trabalhista. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.