Estamos vivendo sob a égide da pandemia gerada pela COVID-19, com todas as mudanças por ela impulsionadas, tais como o isolamento social, pessoas perdendo seus empregos, empresas fechando suas portas, economia incerta, de poder no ambiente político, entre outros e diante desse cenário, a grande mídia tem nos bombardeado com dados estatísticos sobre o número de contaminados, quantos morreram de ontem para hoje ou desde o início da calamidade, quantidade de covas abertas em cemitérios.
Tudo isso gera, além das informações tristes e preocupantes da própria doença, uma grande ansiedade na população que, por sua vez tem que ficar em casa, preocupada com seu ganha pão e alarmadas pela incerteza diante de um contexto catastrófico que se avizinha e se aproxima mais e mais das nossas famílias. Ontem mesmo soube do falecimento de um amigo, Hugo Caccuri, que contraiu o Coronavírus, teve que fazer uma cirurgia, mas não resistiu.
Diante disso, resolvi resgatar parte de um livro que escrevi “Quem não Comunica Não Lidera”, pois tem a ver com o necessário fortalecimento do nosso espírito para enfrentarmos as agruras do atual momento.
Acredito na espiritualidade como sendo a base da sustentação do nosso equilíbrio, da nossa fé, da força para superarmos quaisquer dificuldades e, por essa razão precisa ser resgatada e nos servir de bússola para a retomada, do nosso equilíbrio emocional, da nossa fé, da nossa esperança e do nosso otimismo.
Gosto de destacar que a espiritualidade não é sinônimo de religiosidade. Aliás, o conceito da espiritualidade tem sido utilizado há vários anos no seu sentido mais amplo em todas as áreas do conhecimento, inclusive na psicologia e psiquiatria. Hoje, seus benefícios são reconhecidos para nossa saúde mental e equilíbrio, pois ela une o significado do nosso propósito da vida com o sentimento de pertencermos ao universo.
Importante é lembrar que a religiosidade baseia-se em crenças e possui normas a serem seguidas, diferenciando-se de cultura para cultura. Religiões do Ocidente são diferentes das praticadas no Oriente, e mesmo dentro de cada horizonte geográfico apresentam diferenças muitas vezes de comunidade para comunidade. As religiões possuem orações próprias para que os seus seguidores entrem em contato com Deus ou o Criador.
Já a espiritualidade, no sentido que abordamos aqui, aborda um caminho comum a todas as pessoas e alerta para princípios universais, válidos em qualquer cultura ou religião, como a fraternidade, a compreensão, a compaixão, o perdão etc. O objetivo é provocar uma transformação interior, obtida por meio de uma prática de desenvolvimento mental, como a meditação ou a busca do silêncio interior, por exemplo.
Nesse contexto, enquanto a religiosidade ocorre de fora para dentro, a partir de crenças e cultos que passamos a conhecer e apoiar, a espiritualidade é fruto de uma experiência pessoal, ou seja, ocorre de dentro para fora e pode ser vivida a partir de uma religião ou não.
Os benefícios da espiritualidade têm sido reconhecidos também dentro das organizações, que encontram nessa dimensão um ponto de convergência humana, que nenhum outro recurso pode oferecer.
Concordo com o que diz Andreas Ubierna, especialista argentino em liderança pessoal e organizacional: “Não se pode ser melhor profissional do que a pessoa que você é”. A atuação profissional, em especial dos que assumem papéis de liderança, está baseada nos exemplos, na comunicação transmitida por seus comportamentos e atitudes. De nada adiantam os discursos sobre ética, comprometimento e respeito ao outro, se não espelhamos esses valores por meio da nossa atuação.
Antes as empresas eram apenas conhecidas pelos seus produtos; de uns tempos para cá, passaram a refletir as pessoas que nelas trabalham e suas conquistas vêm da sua capacidade de criar um “espírito próprio”, ou seja, de fazer valer a sua identidade, a sua marca, o seu conceito.
As mudanças e desafios enfrentados pelas organizações e na vida em geral têm dado lugar a um novo paradigma de comportamentos baseado em conceitos como a visão, o compromisso, a atribuição de capacidade e a responsabilidade pelos próprios atos, conforme destaca a consultora Dorothy Marcic. Ela cita cinco virtudes, baseadas em conceitos filosóficos e espirituais que muito se encaixam nas condições geradas pela pandemia do Covid19:
– Confiabilidade: envolve honra, ética e relações com clientes baseadas em integridade.
– União: é baseada na visão compartilhada, no compromisso e na reciprocidade. Significa buscar unanimidade nas decisões importantes, satisfazer os clientes e deixar de controlar para, ao contrário, ensinar.
– Respeito e dignidade: forma a base da verdadeira atribuição do poder. O líder escuta, atua como instrutor e mentor, cria equipes com poder de decisão, aceita contribuição dos colaboradores e os recompensa.
– Justiça: tratar a todos com equidade elimina barreiras que impeçam a igualdade de oportunidades, proporciona remuneração justa e participação nos lucros.
– Serviço e humildade: servir aos colaboradores e aos clientes.
Cada vez mais o mundo empresarial está interessado em melhorar os resultados econômicos de maneira sustentável e sabe que isso tem muito a ver com o desenvolvimento espiritual de seus colaboradores, daí a importância da consonância em viver em harmonia com esses conceitos.
Dessa forma, entendemos que uma empresa é formada por pessoas e, consequentemente, a espiritualidade vai além do espaço onde trabalhamos, das crenças particulares, das divergências; conecta o indivíduo com o universo e com a humanidade como um todo, transformando-o, portanto, em um ser universal. O ser universal vive o seu significado globalmente – é um cidadão preparado para ver no homem, o humano na comunidade, no mundo.
Todos somos, em princípio, dotados de espiritualidade, e quem procura desenvolvê-la vive sob o manto da reciprocidade: respeita o outro porque sabe que faz parte de um todo e assim, respeita a si mesmo; perdoa porque tem consciência que também erra; é generoso porque deseja ser digno de generosidade; tem compaixão por que tem compreensão do que é ser “ser humano”; é ético porque preserva valores e é pelos valores que o mundo flui em harmonia.
Individualmente a espiritualidade nos ajuda a desenvolver valiosas fortalezas internas, dentre as quais destaco:
– Maior autocontrole, autoestima e confiança;
– Capacidade de controlar a vontade;
– Recuperação mais rápida diante de situações difíceis;
– Melhores relacionamentos – consigo mesmo, com o outro, com a natureza e o criador;
– Um novo significado da vida, com consciência e paz de espírito;
– Maior capacidade de resolver problemas e seguir em frente;
– Intuição, pois a percepção se torna mais aguçada;
– Criatividade, característica típica das mentes livres;
– Comunicação clara e objetiva, porque prioriza a verdade.
Essas características internas favorecem a atuação no trabalho e na nossa vida como inovação, decisão e ação, além de comprometimento e visão, por essa razão, a espiritualidade diante da realidade da pandemia demanda novos atributos e exigências de natureza mais sutil, como o autodesenvolvimento, uma avaliação externa e interna, a consciência de aprendermos a lidar conosco mesmos e com a situação, com as pessoas do nosso meio, a sabedoria para discernirmos interesses legítimos de tentativas de manipulações, de sabermos lidar com o que está e com o que não está sob o nosso controle, mantendo-nos firmes e fortes diante das duras provações e da nossa crença de que fazemos parte das soluções e não dos problemas.
Por Reinaldo Passadori, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.