Durante um intervalo de aulas da Fipecafi, instituto onde desenvolvo um curso de Comunicação e Liderança como professor convidado, uma aluna do curso de Pós-Graduação em Direito Tributário me fez a seguinte pergunta: professor, é fácil ser palestrante?

Imediatamente, respondi que, como tudo na vida, quando aprendemos a fazer alguma coisa e praticamos fica fácil, como andar de bicicleta ou dirigir um carro. Naquela hora ela ficou satisfeita com a resposta e eu tranquilo por ter falado o que falei. No entanto, pensando depois um pouco melhor e com mais tempo, tenho agora uma resposta mais bem elaborada que é tema central deste artigo do qual tenho imensa honra de sua leitura.

Apesar de parecer difícil dirigir um carro ou andar de bicicleta que exigem uma certa habilidade mecânica e muita prática para se estabelecer, a partir da repetição, ações rápidas e condicionadas e até, em situações novas, a tomada de decisões e algum procedimento diferente do programado, como  fazer uma frenagem rápida diante de um obstáculo ou uma fechada de um outro automóvel e, no caso de bicicleta, tentar manter o equilíbrio em um piso escorregadio.

A prática de repetir ações específicas e pré-determinadas cria o automatismo dos movimentos necessários ao dirigir como pisar no pedal da embreagem, engatar a marcha correta, pisar no acelerador, soltar o pedal  da embreagem, girar a direção conforme o lado que se quer ir, observar tudo, rua, calçada, outros carros, sinais de trânsito, pedestres, bicicletas, enfim, um mundo de ações que precisam ser praticadas para se gerar o condicionamento e as imediatas respostas diante das situações em que elas são necessárias.

No campo das palestras, a grande diferença é que não é um processo repetitivo, pois cada situação é nova. Diante de um mundo de possibilidades relacionadas ao mercado de palestras e formação de palestrantes, vou apresentar um estudo sobre estratégias para o desenvolvimento do conteúdo de uma apresentação. Esse estudo é resultante de muita observação de palestras, algumas que eu mesmo criei e outras que aprendi lendo livros especializados sobre oratória no Brasil e em outros países em diferentes épocas da história.

A pergunta a ser respondida é: como desenvolver uma estratégia e respectivo conteúdo a fim de conduzir a audiência a um objetivo específico e esperado? Antes de falar sobre o desenvolvimento do conteúdo para a elaboração de uma palestra, alguns passos são necessários, tais como ter o tema definido, ou seja, saber sobre o que se irá falar, qual é o tipo de apresentação, se é informativo, persuasivo, motivacional, entretenimento, qual é o público alvo, desde quantidade de participantes na plateia presencial ou virtual, nível de conhecimento, se é um grupo homogêneo ou heterogêneo, o tempo destinado para a apresentação do conteúdo e a clareza do objetivo, ou seja, o que se pretende com a apresentação, por exemplo, motivar, esclarecer, impulsionar, propor reflexões, mudar atitudes e comportamentos ou tornar as pessoas mais esclarecidas sobre um determinado assunto.

Agora é que entra esse assunto que quero compartilhar com vocês: qual é a estratégia mais adequada ou quais podem ser as formas para eu atingir o meu objetivo?

Cada caso é diferente, e pode ser que uma dessas maneiras pode ser a mais adequada naquele contexto e em outro, talvez outra forma seja a mais apropriada. Vamos a elas:

Linha do tempo – considera que tudo acontece em um determinado período. Se hoje estamos em um momento presente é porque tivemos um passado e temos uma perspectiva de futuro e, desse modo, posso falar sobre um tema, apresentando como era há um tempo atrás, que pode ser um longo período histórico, alguns anos ou uma semana, não importa, o que aconteceu de lá para cá e posso subdividir o tempo em séculos, anos, dias, como houve transformações nesse período, quais foram e chego ao momento presente, no qual falo sobre as condições atuais, o que foi conquistado, erros e acertos do passado e o desenho para novas ações no futuro, passo a passo até atingir um determinado objetivo. Bem provavelmente você assistiu a muitas aulas e palestras que tinham esse jeito de tratar dos assuntos em uma linha do tempo.

T.A.S. – Costumo brincar, dizendo que é o demônio da Tasmânia, aquele boneco dentuço, caracterizado dos cartoons para a vida real com base em um animal que tem um comportamento agressivo durante a alimentação e por emitir grunhidos que podem lembrar um diabo. Mas isso é só para lembrar o nome, porque T.A.S., na verdade significa três etapas em uma apresentação. A primeira T: Tese, na qual o orador levanta uma questão e apresenta um ponto de vista. Depois, A: Antítese que é o contraponto, uma tese contrária à que foi apresentada inicialmente, com pontos de vista e argumentos opostos aos apresentados. A terceira letra, o S, significa a síntese, ou seja, o orador irá fortalecer sua argumentação sobre sua tese, refutar os argumentos da antítese e apresentar, na síntese sua proposta.

F.A.L.A.R – Essa é a nossa metodologia, criada e registrada pela nossa empresa é facilitadora para qualquer processo a ser desenvolvido, incluindo uma apresentação. Cada letra tem um significado, formando um acróstico, cujo significado é: F- Finalidade, A – Análise, L – Lapidação, A – Avaliação e R – Resultado e, dessa forma, nessa sequência posso abordar qualquer tipo de assunto. Pela sua praticidade e simplicidade pode ser facilmente aprendida e utilizada, pois define o objetivo a ser atingido, na análise, se avaliam os pós e contras, na sequência, na lapidação, o que precisa ser feito, ao final se propõe ou se estabelece a avaliação e ao final o resultado esperado é a meta a ser atingida pela exposição.

STORYTELLING – Consiste em uma metodologia que usa histórias para se desenvolver uma linha de pensamento ou se fazer analogias, podendo ser única ou metáforas diversas que recheiem uma linha de raciocínio. Constar histórias ou storytelling não é assunto novo, pois ao longo da História da Humanidade, as histórias sempre estiveram à frente de todo processo civilizatório. O que difere é que usada de forma estratégica, com um protagonista, antagonista, conflito, decisões e desfecho; é uma das mais fascinantes maneiras de cativar e inspirar as pessoas em uma linha de pensamento, fazendo-as entender, com facilidade a proposta da apresentação.

MAIÊUTICA – É um método socrático que consiste na multiplicação de perguntas, induzindo a plateia na reflexão e descoberta das suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto. Podem ser as tradicionais perguntas da metodologia 5Ws e 2Hs, tradicionalmente conhecida por responderam às perguntas em inglês What?,  Why?, Who?, How Much? How?, When? e  Where?, que significam: O que?, Por que?, Quem?, Quanto?, Como?, Quando?  e, por último, Onde?. Ao se conduzir uma linha de apresentação respondendo a essas perguntas, tenho todo o conteúdo necessário para fazer uma excelente apresentação. Além disso, podem ser formuladas perguntas específicas conforme a linha de raciocínio que se deseja apresentar. Gosto de dizer que a inteligência não está nas respostas, mas nas perguntas certas.

BRAINSTORMING – Muito utilizada, eu mesmo gosto desse método, pois ajuda a preservar a essência do conteúdo e se preserva, com isso, somente o que é essencial e tem a ver com o objetivo da apresentação. Esse sistema nos ajuda a jogar o lixo na lata do lixo aquelas falas desnecessárias no contexto de uma palestra ou apresentação. Consiste em se levantar uma série de temas secundários, ideias complementares, sem restrições em uma fase divergente. Depois, na fase convergente, seleciona-se apenas aquilo que é útil e merece ser incorporado na apresentação.

O.F.P.I.S.A – Sistema criado por Alex Osborn para o solucionamento de problemas, mas adaptei para o desenvolvimento de uma apresentação, que em síntese também não deixa de ser resolver um problema ou uma “dor” das pessoas. Cada letra tem um significado e sua sequência é: O – Objetivo, que é o que se pretende, F – Fatos, ou seja, a dimensão da realidade do que está ocorrendo sobre aquele determinado ponto. P – Problema, que apresenta a dificuldade a ser enfrentada para, considerando os fatos, o objetivo possa ser atingido. Na sequência vem o I – Ideias, ou seja, as alternativas de solução viáveis para a solução do problema e, por último, o A – Aceitação, considerando a implementação da solução e suas respectivas consequências de curto, médio e longo prazo.

P.I.C.M.T.C. – P – Problema, I – Identificação, C – Consequência, M – Método, T – Transformação e C – Celebração. Muito utilizado em palestras persuasivas, de vendas, apresentação de projetos e temas diversos. Primeiro se apresenta o Problema de forma geral, depois se vincula as pessoas na Identificação com o problema, depois se faz uma abordagem sobre as Consequências de se ter aquele problema. Na sequência, apresenta-se a solução do problema com um Método, as etapas de implementação, culminando na Transformação esperada e respectivos benefícios, motivos para se partir para a última etapa que é a Celebração. Em uma palestra, principalmente motivacional é o momento no qual se levanta a energia, o som, o entusiasmo das pessoas para elas saírem felizes com a possibilidade de terem sua vida com aquele problema resolvido ou a ser resolvido.

Não nos iludamos achando que os grandes palestrantes fazem improvisos brilhantes e tem tantos conhecimentos e cultura a ponto de se darem ao luxo de falar a qualquer momento sobre qualquer assunto. Não, não é assim que acontece. Ressalvadas exceções, nas quais a cultura geral é farta, a fluência verbal é treinada, a memória é rápida e a linha de raciocínio afiada.

Voltando à questão inicial: quando uma pessoa sobe em um palco, tem à sua frente ser um palestrante e ganhar a vida com isso ou ser um motorista. Finalizo com a mesma pergunta: Ser palestrante é fácil?

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.