Não é curioso como o papel da liderança já foi (ou ainda é, por alguns?) visto como um conjunto de habilidades fixas e imutáveis? A realidade é que ser líder exige uma disposição constante para aprender, desaprender e reaprender. O aprendizado é e será contínuo para quem estiver aberto a novas perspectivas e disposto a mudanças – essa é a base do requisitado lifelong learning.

As organizações formatadas no estilo de gestão que perdurou pelas três primeiras revoluções industriais acabaram por criar o estigma do líder como aquele que chega ao topo e consegue galgar posições hierárquicas ao longo de sua vida profissional, por ter demonstrado comportamentos e entregue resultados que confirmassem sua autoridade em fornecer as respostas e entregar as soluções quando ninguém mais parecesse ter esse perfil extraordinário.

Hoje, já sabemos, o líder frequentemente se depara com a necessidade de agir sem ter todas as respostas ou o caminho claro. É nesse processo de navegação pelas incertezas que aprendemos a ser menos diretivo e mais intuitivo, permitindo que o feeling ou intuição guie a compreensão dos cenários e situações que surgem. Essa é a grande virada para o feelset que, como já disseram meus amigos Renan Hannouche e Dante Freitas, significa aprender a escutar o coração. Muito se tem falado de mindset, mas acredito que precisamos começar a trazer o feelset para dentro das organizações seja nas tomadas de decisões como nas relações.

Nessa jornada nos deparamos com um desafio significativo como líderes, que é o ato de desaprender. Muitas vezes, precisamos nos desapegar de práticas e certezas que não mais servem para o contexto atual. Faz parte desse processo e da evolução de um líder a capacidade de delegar e confiar no time, reconhecendo que o verdadeiro poder reside em dar autonomia aos outros e criar sucessores dentro da organização. A maturidade é demonstrada pela sua capacidade de aceitar que não precisa saber ou controlar tudo, e sim criar um ambiente onde as pessoas possam crescer e contribuir com suas perspectivas.

Nesse aspecto, a liderança colaborativa é fundamental em tempos onde as certezas são raras e a adaptabilidade é essencial. Delegar não é um sinal de fraqueza, mas uma demonstração de confiança no time e um passo crucial para a formação de futuros líderes. Quanto mais um líder delega, mais ele prepara a organização para a continuidade e o sucesso sustentável. Este processo não apenas nos alivia a carga, mas também fomenta um ambiente de aprendizado contínuo, onde todos têm a oportunidade de se desenvolver.

Talvez o maior desafio atual seja o de lidarmos com o ineditismo. Vivemos uma era de ineditismos onde o novo surge a cada instante e o desconhecido se torna a norma. Como líderes, é crucial aceitarmos que não há especialistas em situações inéditas. A nossa exigência deveria ser pela abertura ao aprendizado constante, a aceitação da impermanência das verdades e a disposição para adaptar rapidamente a novos contextos. O que funciona hoje pode não ter mais relevância em um futuro próximo, e é essa flexibilidade que define um líder eficaz.

Mais do que o cargo, ser líder é uma questão de atitude e se tivermos clareza de propósito e disposição para dialogar, faremos a diferença em nossas organizações – quer nosso crachá anuncie uma posição hierárquica ou não.

Reynaldo Gama, CEO da HSM, tem mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Esteve à frente de uma das primeiras iniciativas de fomento ao empreendedorismo no Brasil: o Cubo Itaú. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.