No mundo corporativo, a cultura de uma empresa é fundamental, mas a cultura nacional de seus colaboradores e parceiros é igualmente importante. Em um ambiente globalizado, líderes precisam ir além das políticas e processos internos e desenvolver sensibilidade para as diferenças culturais que moldam comportamentos e decisões.
Entender as culturas nacionais, tanto quanto as empresariais, é um desafio estratégico, especialmente para líderes de Recursos Humanos. Relações interpessoais e negociações eficazes dependem dessa compreensão. Isso exige mais do que conhecimento técnico — é preciso empatia, flexibilidade e a capacidade de enxergar o mundo por outras lentes.
A seguir, compartilho recomendações e experiências pessoais que me ajudaram a navegar por essas diferenças e desenvolver uma abordagem mais profunda.
1) Enxergue outras culturas sem as lentes da sua
Tive uma experiência marcante nesse sentido. Sempre acreditei no estilo da minha forma de gestão, moldada pela minha experiência. Certa vez, participei de um teste sobre a influência de origens culturais nos negócios. Preenchi tudo com convicção, acreditando que o resultado refletiria minha origem brasileira.
Para minha surpresa, o teste indicou que minha mentalidade era essencialmente anglo-saxônica. Refleti: sou filho de imigrantes lituanos, fiz MBA nos EUA e trabalhei apenas em multinacionais americanas. Aquilo me fez perceber que eu enxergava o mundo profissional por essa lente cultural.
Qualquer abordagem diferente parecia “errada” aos meus olhos. Foi um grande despertar em minha carreira, e percebi que mesmo em culturas opostas à minha, havia bons resultados.
2) Estude a história e a cultura do seu interlocutor
Antes de minha primeira viagem à China, li “Cisnes Selvagens”, uma biografia de Mao Tsé-Tung e um livro sobre a história chinesa. Mesmo assim, sentia insegurança, temendo que a falta de conhecimento da língua prejudicasse as negociações.
Para minha surpresa, as conversas informais fluíram bem em inglês. Falávamos por horas sobre aspectos culturais e históricos da China. A empatia e confiança construídas nesses momentos facilitaram enormemente as negociações. Entendi que conhecer o contexto cultural pode ser mais valioso do que apenas falar a língua local.
3) Adapte-se ao ritmo e ao estilo do interlocutor
Nem sempre é fácil alinhar expectativas culturais. Uma vez, levei um executivo de origem francesa para uma reunião com líderes americanos. Ele seguiu seu estilo lógico, guardando as conclusões para o final. No entanto, os americanos, acostumados a ouvir resultados logo no início, ficaram impacientes. O encontro terminou em grande frustração, muito maior para o apresentador.
Em outra ocasião, meu chefe americano participou de um almoço com um CEO brasileiro e um executivo francês. Enquanto o francês buscava criar um ambiente amigável antes de entrar nos negócios, meu chefe, impaciente, queria ir direto ao ponto. A ansiedade dele quase comprometeu a conversa. A parceria saiu, mas só após muito esforço para “juntar os cacos” daquele almoço.
Na dúvida, siga sempre o ritmo e padrões do outro lado.
4) Promova o entendimento intercultural em sua organização
Líderes de RH desempenham um papel vital na conscientização sobre culturas diferentes, especialmente em empresas internacionais. Promover treinamentos interculturais pode ajudar equipes a desenvolver empatia e a lidar melhor com colegas e clientes de diversas origens.
Entre as obras sobre o tema, recomendo “Riding the Waves of Culture”, de Fons Trompenaars. Tive o privilégio de participar de um seminário liderado pelo autor. Além de ler o livro, passei pelos testes apresentados no seminário, que abriram ainda mais minha mente para diferentes perspectivas culturais.
Outro livro relevante é “When Cultures Collide”, de Richard D. Lewis. Essas obras são essenciais para entender como as diferenças culturais afetam as dinâmicas de trabalho e como lidar com elas de forma eficaz.
Conclusão
Anos atrás, organizei e lecionei um curso de Negócios Internacionais no MBA da Escola Trevisan, em São Paulo. Ao final do curso, uma aluna comentou: "Professor, se eu tivesse feito este curso no início do meu casamento, muitas coisas teriam sido diferentes." Ela, de origem alemã, era casada com um descendente de japoneses. Sua fala mostrou como a compreensão das diferenças culturais poderia ter evitado conflitos.
Vivemos em um país multicultural. Desenvolver essa sensibilidade é essencial não apenas para os negócios, mas também para a vida pessoal. No mundo corporativo, entender e respeitar as diferenças culturais é fundamental para construir relações fortes, negociar com eficácia e liderar equipes diversificadas.
Danilo Talanskas foi o CEO no Brasil em três multinacionais: GE Health Care, Rockwell Automation e Elevadores Otis. Palestrante, consultor, conselheiro de empresas, professor e escritor. Autor do livro “Lições de Guerra – Vencendo as Batalhas de Sua Carreira”. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.