Pegue um copo! Coloque alguns gelos dentro. Observe. O que você vê? Certamente, reações naturais do contato da matéria gelada sobre outra de diferente temperatura, mais alta, neste caso. Gotículas aparecem, fora do copo, capazes de enfurecer aquele que acabou de limpar a mesa sobre a qual você esqueceu esse copo que torna-se gelado e o gelo mais aquecido. Coisas do dia a dia.

Mas, além do nosso cotidiano, está nossa competência de ver além. Olhe novamente este copo, mas não demore muito a ponto de todo o gelo virar líquido. Vê algo a mais? Perceba que esses lindos cubinhos que, para mentes férteis, remetem a cristais ou coisas semelhantes. Porém, há algo importante aí! Na verdade, este haver algo é um “não haver,” um não existir. Falo dos espaços. Sim, sei que eles existem, mas, como matéria, apenas abrem espaço para que mais possa adentrar, e adentrará, quando o estado daquele congelado se transformar para um liquefeito.

Um copo de água traz vida ao corpo e também vida à mente, à nossa capacidade reflexiva. Continue comigo, prometo que tem, sim, uma mensagem importante nisso tudo. Na verdade, talvez a mensagem mais importante, não porque eu a digo, mas porque eu também a digo e sobre ela tenho sido requisitado a falar bastante.

Ok, revelo do que se trata, mas prometa que vai comigo até o fim, até que todo gelo vire água e juntos possamos beber da sabedoria que está bem à frente de nossos olhos.

O gelo, nesta metáfora, remete a uma mentalidade “congelada”, fixa, inflexível, que nos impede de fluir com aquilo que nos cerca, que nos impede de nos adaptar. Isso! Este é nosso tema de hoje, adaptabilidade.

A mente gelada olha o mundo quadrado. Com arestas. Que não se encaixam se não estiverem em forminhas. O mundo, como você já percebeu, não é uma destas forminhas, mesmo das mais bacanas, aquelas com formatinhos bonitinhos. Essas deixam a mente apenas mais iludida, bonita, mas ainda congelada.

A nossa mente gelada não se derrete frente à febres e, sim, no calor da consciência. Na compreensão de que nossas arestas e nossos limites criam buracos no processo de integração, ou melhor, no processo de adaptação.

O calor da consciência vem do interesse que vai além da sobrevivência, vem do interesse de fazer do vivido algo que se sobressai, que significa algo, para você e para os outros. Este calor do olhar com curiosidade e abertura nos derrete para o mundo, nos flexibiliza e, assim, nos tornamos parte.

Que sofrimento para o pobre gelo que, de copo em copo, vai se perdendo, se batendo sem nunca de fato tocar o todo dos diferentes copos que visita até que suma. Mas, aquele que se liquefez, salta gracioso de um recipiente a outro que, com cuidado, pouco se perde e sempre se adapta, se faz inteiro e toca o todo de onde visita.

Que maravilha se desde cedo aprendêssemos a fazer isso. Opa! Espera aí! Nascemos com isso, mas somos colocados na geladeira dos preconceitos, no freezer das crenças limitantes, no abraço congelante do medo e nas forminhas das convenções que mantêm o status quo daqueles para os quais o que mais importa é um exército de congelados, de seres não pensantes e sem competência crítica.

Se sua espinha gelou, sensacional, isso é consciência, e dela partimos para o mundo líquido apregoado pelo aclamado Zygmunt Bauman, ou ainda visitamos as paredes do antifrágil do provocador Nassim Nicholas Taleb, aquele do cisne negro e, quem diria, estamos neste momento voando sobre as asas de um destes belos espécimes emplumados, que nos convida a rever nossas formas, nossa mente, nossa relação com o outro e com o mundo.

Triste apenas continuarmos “engelados”, enjaulados em nossa própria mente, essa ferramenta maravilhosa que nos permite, se assim quisermos, fluir neste mundão maluco e nele nos fazermos seres merecidamente adaptáveis, “aprendedores” constantes, evoluídos por vontade e não por pressão.

Olhe seu copo com gelo. O que você vê?

Pra você que chegou até aqui no texto, algumas dicas.

Dica de leitura: “Antifrágil, Coisas que se beneficiam com o caos!”, Nassim Nicholas Taleb.

Dica de série na Netflix: “Anne with an E”. Uma garota, adotada por um casal de irmãos, vai viver numa gelada Canadá do século 19, bucólica, ilhada. Sua paixão pelas palavras é apaixonante, mas não menos de como o tema do preconceito é tratado.

Dica de Músicas para aquecer: Visite a pasta “Músicas Integradoras” no Spotify:

Por fim, se você é atuante e deseja “descongelar” o mundo, venha para o canal Integradores.

Obs: Peguei emprestado o termo “descongelar” do Luciano Steffen, com quem tive o prazer de fazer uma live sobre este tema ao lado de Alessandra Frazão, outra descongelante neste mundão.

Sucesso na integração de sua Vida!!!!

Por Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.