Em um mundo corporativo cada vez mais acelerado, construir times de alta performance é o sonho de toda organização. Porém, como Patrick Lencioni nos ensina em seu clássico "As 5 Disfunções de uma Equipe", o caminho para alcançar esse objetivo está longe de ser simples. O segredo está em resolver as disfunções que minam a coesão da equipe, começando pela mais básica e essencial: a falta de confiança. E é aqui que o time de Recursos Humanos pode brilhar. O RH tem um papel estratégico e central na criação de uma cultura de confiança que transforma equipes comuns em super times.
Destrinchando as 5 Disfunções
Para entender como o RH pode liderar essa transformação, primeiro precisamos revisitar as disfunções apontadas por Lencioni:
- Falta de confiança: Quando os membros da equipe não se sentem seguros para ser vulneráveis.
- Medo de conflito: Equipes que evitam discussões e debates honestos.
- Falta de compromisso: Dificuldade em tomar decisões claras e assumir compromissos.
- Fuga de responsabilidade: Evitar responsabilidades, especialmente as difíceis.
- Desatenção aos resultados: Foco nas necessidades individuais ao invés de nos resultados do grupo.
Cada uma dessas disfunções está interligada, mas a base de tudo é a confiança. Sem confiança, o time não enfrenta conflitos construtivos, compromissos não são firmados, e a responsabilização coletiva se torna um sonho distante. Ou seja, sem confiança, o time nunca vai atingir sua performance máxima. Então, como o RH pode entrar em cena e virar o jogo?
O RH é, em essência, o guardião da cultura da empresa. Mas ser guardião não é suficiente. O RH precisa ser o 'arquiteto ativo' dessa cultura, criando ambientes onde a confiança floresça e as disfunções sejam desafiadas.
Aqui estão três passos ousados para que o RH construa uma cultura de confiança dentro da organização:
- Invista na Vulnerabilidade
Confiança não surge apenas de boas intenções ou políticas rígidas. Ela nasce da vulnerabilidade, quando os membros da equipe sentem que podem ser autênticos e falíveis sem medo de julgamento. O RH pode criar esse ambiente ao promover dinâmicas de confiança que incentivem os colaboradores a compartilhar suas fraquezas e incertezas. Isso pode ser feito através de workshops de feedback honesto, sessões de team building ou até encontros regulares onde os líderes compartilhem suas próprias vulnerabilidades. Quando os líderes são abertos, a equipe segue o exemplo.
- Seja o Catalisador do Conflito Saudável
O medo do conflito é uma das grandes barreiras para times de alta performance. Mas a solução não é evitar os conflitos, e sim abraçá-los de forma construtiva. O RH pode facilitar esse processo oferecendo treinamentos em mediação de conflitos e criando espaços seguros onde as equipes possam debater ideias de maneira produtiva. O RH deve educar as lideranças para que promovam diálogos francos e diretos, onde divergências sejam vistas como oportunidades de inovação e não como ameaças.
- Compromisso e Responsabilização Constante
O RH precisa garantir que cada colaborador entenda o seu papel dentro da equipe e que todos os compromissos sejam claros e assumidos coletivamente. Aqui entra a gestão transparente de metas e indicadores, garantindo que todos saibam o que está em jogo e assumam sua parte no sucesso ou fracasso. O RH também deve facilitar o estabelecimento de normas de responsabilidade, promovendo um ambiente onde erros são discutidos de forma aberta e construtiva, sem caça às bruxas.
Um grande exemplo de como o RH pode impactar a performance de uma equipe vem da Heineken, a qual exploramos o case em um dos episódios do podcast Ambidestra. A empresa criou uma diretoria de felicidade, dedicada a medir e promover o bem-estar dos colaboradores. A Heineken entendeu que colaboradores felizes e com um ambiente de segurança psicológica são mais propensos a inovar e colaborar, elementos essenciais para a alta performance. Eles utilizam dados para ajustar as práticas de gestão, criando um ambiente de confiança e responsabilidade compartilhada, resultando em times que superam expectativas e entregam resultados excepcionais. Esse movimento corrobora a ideia de que a confiança e a vulnerabilidade são combustíveis para a performance em níveis mais altos.
Times de alta performance não acontecem por acaso, nem são criados apenas pela contratação de grandes talentos. Eles são o resultado de um esforço consciente para construir a confiança, abraçar o conflito saudável e incentivar a responsabilidade mútua.
O RH tem, portanto, o poder de ser o designer da cultura organizacional. Quando o RH assume esse papel com ousadia e visão estratégica, transforma times e, consequentemente, o futuro da empresa.
Portanto, que tal parar de tratar a confiança como um conceito abstrato e começar a tratá-la como uma estratégia de negócio? O caminho é desafiador, mas é possível quebrar as disfunções e desbloquear o verdadeiro potencial das equipes.
Prepare-se para um RH que não apenas observa a cultura, mas a molda de forma ativa e inovadora. Porque no final, um time de alta performance começa com uma cultura de confiança. E essa cultura começa com o RH.
Andréa Dietrich, Cofundadora da Ambidestra, estrategista de transformação digital Linkedin Creator, podcaster e palestrante. Lilian Cruz, Cofundadora da Ambidestra, podcaster e speaker, consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação. São colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.