Falar sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes ainda parece ser proibido em nossa sociedade. Mesmo com dados alarmantes que comprovam o tamanho do problema no Brasil, existem poucas iniciativas para o combate a essa questão tão urgente.

Segundo os dados da Child Fund Brasil, o nosso país ocupa o 2º lugar no ranking de exploração sexual de crianças e adolescentes, estando atrás apenas da Tailândia.

O primeiro passo para combater esses abusos e a exploração sexual de crianças e adolescentes é falar sobre o assunto, conscientizar as pessoas sobre o que caracteriza a violência sexual e divulgar os canais de denúncia, como o Disque 100.

É importante esclarecermos a diferença entre abuso e exploração. O abuso se caracteriza quando um adulto, ou até um mesmo adolescente, pratica um ato de natureza sexual com uma criança. Já a exploração sexual, acontece quando existe uma relação mercantilista com o intuito de troca ou de obtenção de lucro financeiro (ou outros benefícios) e ocorre em situações como o turismo sexual, o tráfico de pessoas, a pornografia e em redes de prostituição.

Alguns pontos críticos no enfretamento do problema são a subnotificação de casos e a descentralização dos dados dessa violência, tornando mais difícil a formulação de políticas públicas para combater essa grave violação de direitos humanos. Sendo assim, a conscientização e a prevenção da violência sexual infantil ainda são as melhores formas de enfrentamento do problema.

Segundo dados da campanha Números, organizada pelo Instituto Liberta (em parceria e articulação com a Childhood Brasil, a Fundação Abrinq e o Ministério da Justiça por meio da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente), a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil, porém, esse número parece ser muito maior, pois estima-se que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. Anualmente, as vítimas chegam em torno de 500 mil. O estudo indica, ainda, que 75% dessas vítimas são meninas e, em sua maioria, negras.

Como apontam os dados da Childhood Brasil, quase 80% das denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes são de abuso sexual e esse tipo de violência tem uma característica assombrosa: um número significativo dos agressores é constituído por familiares da vítima, sendo, principalmente, pais, mães, padrastos, tios e avós.

Para lutar contra essa terrível realidade, no mês de maio, ocorre a campanha Maio Laranja, que visa o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. Entre os tópicos abordados durante a campanha estão a divulgação dos dados referentes às denúncias, as subnotificações de casos de abuso e de exploração sexual, a necessidade do apoio dos professores das escolas nesta luta, a implantação de centros integrados de atendimento às crianças vítimas de violência, ações de combate aos abusos na internet, entre outras ações.

A campanha culminará com um evento previsto para o dia 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual. A data foi escolhida em nome da memória da menina capixaba, Araceli Crespo, de apenas oito anos de idade, que foi sequestrada, drogada, espancada, estuprada e morta em 1973.

Muitas pessoas que foram abusadas na infância ou na adolescência não têm a real consciência do que ocorreu com elas, pois nem sempre estão cientes sobre o que configura o abuso.

Visando ampliar essa consciência, bem como romper o silêncio sobre o tema, o Instituto Liberta, criado pelo filantropo Elie Horn e por Luciana Temer (diretora presidente da organização), encabeça um levante inédito. Por meio do site e das redes sociais, o Instituto convida homens e mulheres que sofreram algum tipo de abuso antes dos 18 anos a gravar um vídeo falando a seguinte frase: “A violência contra crianças e adolescentes é uma realidade. Eu já fui vítima. E agora você sabe”.

Todos os vídeos gravados no site serão exibidos no formato de uma passeata on-line no Dia Nacional de Combate à Exploração de Crianças e Adolescentes, em 18 de maio. As gravações serão transmitidas de maneira simultânea, uma ao lado da outra, uma única vez, e divididas em subgrupos até que todas sejam mostradas, sendo que nenhum dos vídeos será exibido individualmente.

Se você já foi vítima desse tipo de violência ou conhece alguém que passou ou passa por essa situação, denuncie e participe do levante para acabar com o silêncio.

A Campanha #agoravcsabe pode ser acessada pelo site.

O combate à violência sexual contra crianças e adolescentes é responsabilidade de todos nós. Vamos dar um basta ao silêncio, denunciar os agressores e mudar essa triste realidade em nosso país!

Por Renata Meireles, Gerente Sênior de Pessoas & Performance da CyrelaÉ uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião da colunista. Foto: Divulgação.