Vivemos hoje um período de crises sem precedentes durante “tempos de paz”. Mas, o que isso tem a ver com o “Momento do Golfinho”?

O conflito entre Rússia e Ucrânia permanece sem solução à vista, com possíveis ramificações geopolíticas sérias. A escalada em Israel, envolvendo o Hamas e o Irã, afeta a estabilidade global e impacta diretamente negócios e cadeias logísticas. Tudo isso acontece na esteira de eventos como as tarifas impostas pelo governo Trump, que já haviam causado enorme reviravolta econômica e comercial.

No cenário local, enfrentamos inflação alta, juros elevados e um ambiente político delicado, entre os três poderes. Enquanto isso, a economia segue em frente, mas com tensões crescentes dentro das empresas. Muitas pessoas estão inseguras quanto a seus empregos, seu futuro e os impactos de tudo isso sobre suas companhias. Alguns mercados se retraem.

Os golfinhos são animais extremamente inteligentes, com comportamentos sociais complexos. Em cativeiro ou até durante perseguições de predadores, já se observou que eles sopravam bolhas em forma de anéis e brincavam com elas.

Também faziam acrobacias voluntárias, como saltos e rodopios, mesmo em situações de estresse (como após fugirem de redes ou predadores). Por quê? Estudos sugerem que esses comportamentos atuam como válvulas de escape para ansiedade: uma forma de “brincar para aliviar a tensão”.

Humanos reagem de forma parecida. Em meio a pressões extremas, o impulso por um alívio emocional é real e necessário.

Durante a Segunda Guerra Mundial, na véspera de Natal de 1944, os regimentos 4º e 29º dos EUA treinavam no Pacífico para a sangrenta batalha de Okinawa. Os dois regimentos reuniam muitos talentos do futebol americano. A rivalidade era tão forte, que decidiram resolver em campo: jogaram uma partida em plena ilha de Guadalcanal, em condições adversas. O jogo ficou conhecido como “The Mosquito Bowl”. Cerca de 1.500 soldados assistiram, e 65 jogaram sob o sol e a tensão da guerra.

Em outro cenário, no norte da África, em 1942, soldados britânicos improvisaram peças teatrais, partidas de futebol e competições de quem fazia o melhor chá, entre o cessar-fogo, durante os momentos mais críticos da guerra.

Esses eventos mostram algo essencial: mesmo no caos, as pessoas precisam de válvulas de escape. Precisam de sentido, de leveza, de humanidade.

Esse é o “Momento do Golfinho”. A hora de olhar para dentro, como nas trincheiras entre batalhas da Segunda Guerra e cuidar das pessoas com mais atenção, empatia e propósito.

É nessa hora que o RH pode fazer uma diferença gigantesca, voltando ao básico. Aqui vão algumas iniciativas, e a lista pode ser imensa:

  • Campanhas internas de reconhecimento, premiando conquistas pequenas e médias com visibilidade e calor humano.
  • Rituais de gratidão e apoio emocional, como círculos de escuta, murais de boas notícias ou mensagens positivas regulares.
  • Espaços de descompressão ativa, como cafés temáticos, sessões de alongamento, ou até momentos de pausa musical ou lúdica.
  • Séries de conversas com líderes, criando conexão, transparência e segurança psicológica.
  • Miniprojetos de propósito compartilhado, que tragam senso de utilidade e união em torno de causas reais.

O “Momento do Golfinho” mostra que, em momentos difíceis, o alívio vem do movimento, do salto, do respiro.

Não podemos mudar o mundo lá fora, mas podemos suavizar o mundo aqui dentro. Com leveza. Com humanidade. E com raízes fortes.

Danilo Talanskas foi o CEO no Brasil em três multinacionais: GE Health Care, Rockwell Automation e Elevadores Otis. Palestrante, consultor, conselheiro de empresas, professor e escritor. Autor do livro “Lições de Guerra – Vencendo as Batalhas de Sua Carreira”. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.