A Saúde Mental tem sido objeto de crescente preocupação em vários segmentos da sociedade. Embora seja um tema de grande relevância, muitas empresas ainda não compreenderam sua real importância e sofrem com os impactos negativos invisíveis do descaso com a Saúde Mental, como a elevação de custos com saúde, taxas elevadas de absenteísmo, presenteísmo, rotatividade, perda de talentos, entre outros. Problemas que não se vê, são problemas que crescem e se perpetuam.
O suicídio é uma das principais causas de morte entre trabalhadores globalmente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano. Embora a taxa mundial de suicídio tenha diminuído, regiões como as Américas experimentaram um aumento de 17% entre 2000 e 2019.
As empresas desempenham um papel fundamental em prevenir essas tragédias. A campanha Setembro Amarelo é importante para conscientizar sobre a prevenção, que deve passar pelo cuidado permanente com a Saúde Mental dos colaboradores. Ampliar o olhar e implementar práticas contínuas ao longo do ano é necessário e crucial.
Dados de Suicídio no Ambiente Corporativo
De acordo com o International Journal of Environmental Research and Public Health, fatores como sobrecarga de tarefas e falta de suporte emocional estão associados ao aumento das taxas de suicídio no ambiente de trabalho. Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 44 mil trabalhadores se suicidem anualmente, e muitos desses casos poderiam ser evitados com uma cultura de apoio e prevenção dentro das empresas. A pandemia de COVID-19 exacerbou os problemas de Saúde Mental, aumentando os níveis de ansiedade e depressão globalmente.
Um estudo publicado na Ciência & Saúde Coletiva aponta que ocupações com alta carga de estresse, insegurança no emprego e condições adversas estão associadas a maiores taxas de suicídio. Trabalhadores em setores como polícia, medicina e construção civil enfrentam riscos significativamente maiores devido à pressão constante e à falta de suporte emocional.
Impactos do Suicídio nas Empresas
O suicídio de um colega, seja dentro ou fora do ambiente de trabalho, pode ter um impacto profundo e duradouro sobre os demais colaboradores e sobre a própria empresa, em várias áreas:
- Emocional: O luto e o choque entre os colegas podem afetar a moral e a produtividade, levando a um ambiente de trabalho tenso e estressante. Os colegas podem sentir culpa por não terem percebido o sofrimento do colega, o que pode aumentar o estigma sobre Saúde Mental.
- Saúde Mental: A perda pode desencadear problemas de Saúde Mental, como ansiedade e depressão, resultando em aumento de afastamentos. Quando ocorre dentro da empresa, pessoas próximas ou que presenciaram podem desenvolver Transtorno do Estresse Pós-Traumático ou outros quadros.
- Produtividade e Presenteísmo: A distração emocional pode levar a uma queda na produtividade e eficiência.
- Rotatividade de Funcionários: A atmosfera negativa pode resultar em maior rotatividade, com colaboradores buscando novos ambientes de trabalho que priorizem a Saúde Mental.
- Custo Financeiro: A empresa pode enfrentar altos custos com cuidados de saúde, afastamentos e recrutamento de novos funcionários.
- Reputação: O suicídio de um funcionário pode afetar a imagem da empresa, impactando a retenção de talentos e a atração de novos colaboradores.
Investir em Saúde Mental pode ajudar a mitigar esses impactos.
Como Cuidar da Saúde Mental 365 Dias no Ano
.A Saúde Mental deve ser uma preocupação constante e fazer parte do planejamento estratégico das empresas. Segundo a OMS, ambientes de trabalho que promovem a Saúde Mental podem reduzir em até 30% os índices de problemas psicológicos graves.
Algumas práticas que podem fazer a diferença:
1. Treinamento Contínuo de Liderança
Líderes desempenham um papel crucial na criação de um ambiente de apoio. Treinamentos regulares sobre inteligência emocional, gerenciamento do estresse e de conflitos são essenciais. De acordo com a Deloitte, colaboradores que se sentem apoiados emocionalmente por seus líderes têm 30% menos probabilidade de desenvolver estresse crônico e ansiedade.
2. Programas Permanentes de Saúde Menta
Investir em programas contínuos, como sessões de terapia psicológica subsidiada, parcerias com plataformas de Saúde Mental e checkups emocionais regulares, é fundamental. Estudos mostram que mais de 80% das pessoas que cometem suicídio deram sinais prévios de sofrimento.
3. Check-Up Emocional e Monitoramento Contínuo
Assim como a saúde física é monitorada, a saúde emocional também deve ser acompanhada regularmente. O Check-Up Emocional é uma ferramenta eficaz para identificar precocemente sinais de esgotamento e outros problemas emocionais, permitindo intervenções rápidas e eficazes.
4. Cultura de Abertura e Diálogo
Empresas que promovem uma cultura de diálogo sobre Saúde Mental observam uma redução significativa nos problemas psicológicos. Espaços de escuta ativa e feedback construtivo normalizam o diálogo sobre Saúde Mental e incentivam os colaboradores a buscarem ajuda.
5. Políticas de Flexibilidade e Bem-Estar
Políticas de flexibilidade, como horários flexíveis e home office, podem reduzir significativamente os níveis de estresse. A Gallup aponta que colaboradores com maior autonomia sobre o tempo de trabalho relatam 43% menos estresse.
Conclusão
A campanha Setembro Amarelo é uma oportunidade crucial para iniciar conversas sobre prevenção ao suicídio e Saúde Mental no trabalho. No entanto, a verdadeira transformação ocorre quando as empresas adotam práticas contínuas e integram a Saúde Mental em sua cultura corporativa. Ao incluir a Saúde Mental no planejamento estratégico, as empresas demonstram um compromisso com o bem-estar de seus colaboradores, promovendo um ambiente mais saudável, maior engajamento, retenção de talentos e redução de custos associados a problemas de saúde.
Rosalina Moura é Psicóloga Clínica, Organizacional e Coach. Sócio fundadora da Rumo Saudável, empresa que atua no segmento de bem-estar, saúde mental e gerenciamento do estresse em Organizações. É um das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.
Referências Bibliográficas
- World Health Organization (WHO). Suicide worldwide in 2019: global health estimates. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240026643. Acesso em: 17 set. 2024.
- Harvard Business Review. Supporting Employee Mental Health When Returning to Work. Disponível em: https://hbr.org/. Acesso em: 17 set. 2024.
- Deloitte Insights. Mental health and employers: The case for investment. Disponível em: https://www2.deloitte.com/. Acesso em: 17 set. 2024.
- American Psychological Association (APA). How to Prioritize Employee Mental Health. Disponível em: https://www.apa.org/. Acesso em: 17 set. 2024.
- SANTOS, Maria Aparecida dos; PEREIRA, João da Silva. Quando a saída é a própria morte: suicídio entre trabalhadores e trabalhadoras no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, p. 2097-2106, jun. 2020. Disponível em: https://cienciaesaudecoletiva.com.br/. Acesso em: 17 set. 2024.
- Gallup. State of the Global Workplace. Disponível em: https://www.gallup.com/. Acesso em: 17 set. 2024.