Aprender é algo que não se limita aos ambientes formais, aprendemos o tempo todo a partir de nossas experiências. Há coisas que aprendemos com mais facilidade e outras que nos custam mais. Em geral aprendemos com mais facilidade aquilo que nos interessa, ou seja, aquilo que consideramos relevantes para nossa vida.
Você já reparou que as crianças parecem absorver tudo aquilo que está ao seu redor, aprendendo com muito mais velocidade e sem escolher o que aprender? É como se a memória delas fosse uma biblioteca com prateleiras vazias prontas para receber novos conhecimentos (livros). Com tanto espaço para ser preenchido, a criança vai acomodando os novos conhecimentos indiscriminadamente. Já os adultos parecem escolher melhor aquilo que vão colocar nas prateleiras de sua biblioteca, é como se elas já estivessem repletas de livros com apenas algumas lacunas a serem preenchidas levando-os a fazer uma seleção mais criteriosa.
Para entender o porquê isso acontece, precisamos pensar na andragogia, que é pensar em alguns princípios que são fundamentais para que um adulto consiga aprender. O primeiro deles é o princípio da disposição. O adulto aprende basicamente em duas situações na vida: quando ele quer, ou seja, quando ele deseja alguma coisa, ou quando sente a necessidade desse aprendizado. Prestamos atenção apenas naquilo que contribui diretamente com os papéis que desempenhamos. Por essa razão, se uma experiência de aprendizagem não estiver conectada com as atividades que os indivíduos precisam desempenhar as chances de aprendizado e transferência serão muito baixa. A função da metodologia de aprendizagem é transportar conhecimento e, para isso, ela precisa estar conectada com a realidade de quem vai aprender.
Quando se quer alguma coisa, é muito fácil aprender. Suponha, por exemplo, que você quer aprender a pular de paraquedas, mas você tem medo de altura. Se você realmente deseja saltar de paraquedas, você vai encontrar um mecanismo para superar esse medo e, então, conseguir realizar o seu desejo. Outras circunstâncias na vida do adulto também fazem com que seja necessário aprender alguma coisa.
A tecnologia invadiu (e continua invadindo) nossas vidas de maneira avassaladora. Estamos mergulhados na era digital e isso impõe necessidades de aprendizagem para todos. A grande diferença na orientação de aprendizagem para adultos x orientação para crianças, diz respeito ao quanto é importante para o adulto perceber a relevância daquilo que ele vai aprender para a sua vida. Seja pelo desejo ou pela necessidade.
Muitas vezes o adulto vem para a sala de aula um pouco resistente com relação com aquilo que ele vai encontrar e a responsabilidade do facilitador do processo de aprendizagem e da metodologia é mostrar que aquilo que vai ser apresentado para ele vai acrescentar uma camada de conhecimento na bagagem que ele já tem, sem desprezar tudo aquilo que o adulto construiu até o momento.
Lembrando que a aprendizagem não acontece somente no ambiente formal. 10% do que aprendemos é em ambientes formais, 20% em um bate-papo e 70% aprendemos fazendo. Hoje falamos em “learning ability”, que significa “como é que está a minha habilidade de aprendizagem nos dias de hoje, e talvez essa seja uma das competências mais essenciais. É preciso estar aberto para continuar aprendendo coisas novas a vida toda.
Aceitar que precisamos aprender às vezes nos leva a pensar como estávamos fazendo algo até então. E precisar aprender não quer dizer que aquilo que se fazia antes, não é bom. Significa apenas que é preciso um novo conhecimento. Como facilitadora, sinto muitas vezes a resistência de alguns adultos de aprender, até mesmo por uma dor emocional de perceber que aquilo que fazem, pode ser aprimorado. O segredo para seguirmos adiante quando isso acontece é separar a emoção do fato. O fato é: eu preciso aprender mais. A emoção só vai contribuir com o adulto se ela for impulsionadora, pois se ela for paralisante é preciso deixá-la de lado e analisar friamente aquilo que precisa ser aprendido, aceitando que nenhum de nós sabe tudo.
E para finalizar esse artigo, vou repetir algo que defendo com unhas e dentes: é preciso SEMPRE colocar no centro do processo quem vai aprender. Assim, uma metodologia de aprendizagem se torna muito mais uma troca de experiência entre o facilitador e o adulto onde se acrescenta coisas novas, ressignifica coisas antigas e permita então que ele perceba que aquilo que aprende tem aplicabilidade na vida real.
Por Flora Alves, CLO da SG – Aprendizagem Corporativa, idealizadora do Trahentem® e uma das maiores especialistas de aprendizagem no Brasil. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.