Do Super-Herói ao Burnout: A queda silenciosa causada pelo estresse crônico (parte 2)

Agenda Funcional vs. Agenda Emocional

Se você leu a primeira parte deste artigo, onde falamos sobre como identificar alguns sintomas que podem levar ao burnout, já deve ter notado que, muitas vezes, é o resultado direto de um ambiente de trabalho imerso no que chamo de “Agenda Emocional.”

Cultura Organizacional

Isto é, isso envolve tudo o que emana da cultura organizacional:

  • a maneira como nos relacionamos,
  • a forma como pensamos em grupo,
  • aquelas regras não escritas que todo mundo conhece, assim como todos os elementos que impactam diretamente nossa sensação de pertencimento,
  • identidade (quem somos no ambiente de trabalho) e, mais importante,
  • o sentido do que fazemos para o grupo.

Quando esses pilares estão abalados, a nossa resiliência começa a se esvair rapidamente, pois nos coloca na posição de “vítima” quando as coisas não saem como esperado. E, a partir daí, inegavelmente, é só ladeira abaixo: pensamentos negativos e comportamentos tóxicos começam a se multiplicar, drenando nossa energia mental e nos deixando ainda mais vulneráveis ao burnout.

Agenda funcional x agenda emocional: dinâmica do burnout

O problema é que, atualmente, a maioria das empresas está tão focada na “agenda funcional” – sabe, aquela que é visível: planilhas, reuniões, KPIs e todos os elementos mensuráveis do dia a dia – que mal prestam atenção à “agenda emocional.”

O ponto aqui não é desprezar a agenda funcional; afinal, ela é necessária. No entanto, é fundamental entender que essa agenda é diretamente impactada e potencializada pela emocional.

Quando compreendemos essa relação de forma profunda, somos capazes de desenvolver estilos de liderança e estratégias que considerem ambos os aspectos, gerando assim resultados mais sustentáveis e colaboradores menos propensos a problemas de saúde mental.

O que fazer para evitar o Burnout?

A boa notícia é que existem caminhos práticos para lidar com o burnout, e a recuperação envolve tanto ações pessoais quanto mudanças organizacionais. 

No ambiente de trabalho (organizacional)

O papel da empresa é crucial na prevenção do burnout. Não basta apenas esperar que os colaboradores se cuidem por conta própria. Aqui estão algumas mudanças que as empresas precisam implementar para evitar que o esgotamento tome conta:

Revisão das cargas de trabalho

Ao perceber que os colaboradores estão constantemente sobrecarregados, é hora de rever as responsabilidades de cada um. A sobrecarga é uma das causas principais de burnout, então a empresa precisa garantir que as tarefas sejam distribuídas de maneira justa, permitindo que todos tenham tempo para completar suas atividades sem precisar correr o tempo todo.

Estabelecer metas realistas

Muitas vezes, o problema não é apenas a quantidade de trabalho, mas as metas que são impostas. É importante garantir que as expectativas sejam claras e alcançáveis. Metas inatingíveis levam à frustração e ao esgotamento, já que o colaborador sente que nunca está fazendo o suficiente.

Promover uma cultura de reconhecimento

Quando o esforço dos colaboradores não é reconhecido, eles perdem a motivação e se sentem desvalorizados. Empresas que reconhecem o trabalho bem-feito – seja por meio de elogios, promoções ou recompensas financeiras – mantêm suas equipes motivadas e engajadas. Sentir-se valorizado é uma das melhores maneiras de prevenir o burnout.

Oferecer apoio e recursos de bem-estar

Promova um ambiente onde o bem-estar mental é priorizado. Programas de apoio psicológico, horários flexíveis e a criação de espaços de descanso no trabalho são medidas práticas que podem reduzir o estresse dos funcionários. Incentivar pausas regulares e oferecer um ambiente onde os colaboradores possam falar sobre suas preocupações sem medo de represálias também é essencial.

Criação de programas de Saúde Mental: mitigar o risco do burnout

Pensar em programas mais extensos e aprofundados sobre saúde mental ajuda a conscientizar as pessoas sobre como trabalhar de forma mais efetiva, levando em conta a nossa própria biologia.

Esses programas devem priorizar a criação de hábitos novos e saudáveis, baseados em ciência, e que além de promover a saúde mental também ajudarão as pessoas a melhorar a performance. 

No nível pessoal

Agora, o que você pode fazer no dia a dia para evitar que o burnout tome conta de vez?

Definir limites claros

Se o trabalho está invadindo todos os espaços da sua vida, é hora de desligar. Determine horários específicos para parar de checar e-mails ou atender ligações de trabalho. Não tenha medo de dizer “não” quando necessário. Isso protege seu tempo e sua energia.

Reequilibrar suas energias

Se você sente que só está investindo seu melhor no trabalho e deixando pouco para o que realmente te traz prazer, como tempo com a família, amigos ou hobbies, é hora de redistribuir esse esforço. Reserve tempo semanal para algo que te reenergiza, seja uma caminhada ao ar livre, tocar um instrumento ou simplesmente ler um bom livro.

Cuidar do corpo e da mente

O autocuidado é vital. Pequenas práticas diárias, como fazer exercícios físicos ou meditar, ajudam a manter o equilíbrio emocional. Mesmo que seja difícil encontrar tempo, pequenas pausas para alongar, respirar fundo ou caminhar podem ter um impacto enorme no seu bem-estar porque ajudam a reduzir o estresse e a dar mais clareza mental.

Reavaliar sua relação com o trabalho

Pare um momento e pense: o trabalho que você faz ainda te motiva? Se a resposta for “não”, talvez seja hora de pensar em ajustes. Pode ser algo simples como buscar novas responsabilidades, mudar de função, ou até mesmo considerar uma mudança maior de carreira, se possível. 

Práticas de Mindfulness – xô, burnout!

Essas práticas ajudam a treinar a mente para ter uma maior percepção do estado interno e do fluxo de pensamentos. Isso por si só já ajuda a criar um mecanismo de defesa para quando começamos a perceber que o estresse saudável está se tornando crônico, além de nos ajudar a programar pausas rápidas durante o dia que nos ajudam a manter a energia e a resiliência em alta.

Se você não começou ainda, comece: é fácil e demanda apenas um pouco de disciplina, mas os ganhos são enormes! Depois de já ter entregue inúmeros programas completos de mindfulness no mundo corporativo, com resultados impressionantes, resolvi lançar um canal de youtube somente com este objetivo. 

Afinal, é possível sair do burnout?

Sim, é possível sair do burnout. Mas não vou mentir: não é fácil e, definitivamente, não acontece da noite para o dia. O primeiro passo é reconhecer que você chegou lá, aceitar que você está nesse estado.

Muitas vezes, a negação só prolonga o sofrimento. E quando você finalmente se permite admitir isso, vem a segunda etapa, que é igualmente importante: entender que você não está sozinho. Isso não é uma fraqueza pessoal, não é um sinal de que você falhou.

É, na verdade, um reflexo de como nossa sociedade e os ambientes de trabalho têm sido estruturados, exigindo muito mais do que podemos oferecer de forma sustentável.

A chave para sair desse ciclo é…

A chave para sair desse ciclo é reconstruir sua relação com o trabalho. Repense como ele se encaixa na sua vida. Você precisa redefinir suas prioridades e começar a valorizar as outras partes da sua existência, aquelas que muitas vezes ficam em segundo plano.

E, acima de tudo, é essencial lembrar que você é muito mais do que o seu trabalho. Seus sonhos, medos, talentos e desejos – tudo isso faz parte de quem você é. E tudo isso importa.

Então, cuide de você. Valorize quem você é fora do ambiente profissional e, sem medo, aprenda a dizer “não” quando necessário. Seu valor não depende da quantidade de tarefas que você assume ou do quanto você se sacrifica pelo trabalho.

Porque, no fim das contas, nenhum emprego vale mais que sua saúde mental. E cuidar de você é o primeiro passo para recuperar não apenas seu bem-estar, mas também sua capacidade de encontrar alegria e propósito em outras áreas da vida.

Super-Heróis e Burnout_A queda silenciosa

Por Charles Betito, Especialista em Saúde Mental Corporativa | Consultor de Treinamento e Desenvolvimento. Com mais de 20 anos de experiência em meditação e práticas de atenção plena, adquiriu habilidades em tecnologia e inovação por meio de treinamento avançado em instituições de renome como o MIT, Singularity University e o Institute for The Future.

 

🎧 “Bem-Estar Corporativo em 2024: Desafios e Tendências”

No episódio 176 do RH Pra Você Cast, mergulhamos no universo do bem-estar corporativo e suas nuances. Embora o tema seja essencial, enfrentamos desafios e “incompatibilidades” que podem afetar a qualidade das estratégias implementadas nas organizações.

O Papel do Bem-Estar nas Empresas
  1. Complexidade do Bem-Estar: O bem-estar corporativo abrange diversas dimensões, e sua relevância não pode ser subestimada. Mas como equilibrar saúde física, mental e emocional no ambiente de trabalho?
  2. Incompatibilidades e Desafios: Ainda existem obstáculos a superar. Como garantir que as estratégias de bem-estar sejam eficazes e atendam às necessidades dos colaboradores?
Perspectivas para 2024
  1. Entrevista com Renato Basso: O VP de Pessoas Global do Gympass, Renato Basso, compartilha insights do estudo “Panorama do Bem-Estar Corporativo”. Quais são as tendências e expectativas para o futuro?

🎧 Confira o episódio completo e esteja preparado para as transformações no cenário do bem-estar corporativo!

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Capa: Depositphotos