Tentar equilibrar a maternidade e o trabalho continua sendo um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres brasileiras. Embora seja um tema discutido há décadas, os dados mais recentes mostram que pouco avançamos na garantia de que as mães possam retornar ao mercado de trabalho em condições justas e dignas.
Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) revela uma realidade alarmante: 24 meses após o retorno da licença-maternidade, quase metade das mães brasileiras está desempregada.
Este dado não só evidencia a dificuldade de reintegração dessas mulheres ao mercado de trabalho, como também reflete a discriminação estrutural que ainda permeia as relações de trabalho em nosso país.
É inaceitável que a maternidade, uma fase tão significativa na vida de uma mulher, resulte em desemprego e perda de autonomia.
Desafios do retorno ao trabalho após a licença-maternidade
O retorno ao trabalho após a licença-maternidade é, por si só, uma transição complexa e carregada de desafios emocionais. Muitas mães se deparam com sentimentos de culpa, ansiedade e a constante preocupação de como equilibrar as demandas profissionais e as responsabilidades familiares.
Esse período, que deveria ser marcado por apoio e compreensão, muitas vezes é obscurecido por um ambiente de trabalho pouco acolhedor e insensível às necessidades das mães.
Outro dado que corrobora a disparidade de gênero no mercado de trabalho é apresentado pelo “Child Penalty Atlas”, um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Princeton e da London School of Economics (LSE).
Segundo o levantamento, as mães brasileiras têm 37% menos chances de estarem empregadas nos dez anos seguintes ao nascimento do primeiro filho, em comparação aos pais. Esses números demonstram uma clara penalização das mulheres pela maternidade, enquanto os homens, em sua maioria, não sofrem impactos significativos em suas carreiras.
A discriminação estrutural e a perda da autonomia feminina
Infelizmente, o preconceito em torno da maternidade no ambiente de trabalho é um problema estrutural e historicamente enraizado.
Há uma tendência equivocada de associar o período de gestação a uma suposta fragilidade ou incapacidade feminina, sob o argumento de que a mulher, ao gestar ou parir, muda suas prioridades e deixará de se dedicar ao trabalho. Tal pensamento é não apenas falacioso, mas extremamente prejudicial.
Essa visão distorcida ignora a realidade das mães solo, que dependem do trabalho para sustentar suas famílias. Também desconsidera a autonomia feminina, que não deve ser limitada a tarefas domésticas e a maternidade, mas sim incluir o direito de perseguir aspirações profissionais, em igualdade de condições com os homens.
Além disso, é comum que mulheres sejam questionadas sobre maternidade ou intenção de ter filhos durante processos de recrutamento e seleção. Essa prática, que quase nunca se estende aos homens, evidencia um viés sexista e discriminatório que assume que os pais não precisam ser tão presentes na vida dos filhos e que o dever de cuidado cabe exclusivamente às mulheres.
Essa abordagem não só perpetua estereótipos ultrapassados como também contribui para a exclusão feminina do mercado de trabalho.
A necessidade de políticas públicas eficazes
Tais práticas levam à perda de autonomia das mulheres, pois atrasam seus planos e restringem seus direitos para atender às demandas de um mercado que se mostra particularmente violento com elas.
Por isso, é imperativo que sejam adotadas políticas públicas eficazes que protejam os direitos das mães trabalhadoras e promovam um ambiente de trabalho mais inclusivo e equitativo.
O papel das empresas na promoção da igualdade
O que está em jogo aqui não é apenas a estabilidade econômica das mulheres, mas a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a maternidade não seja vista como um obstáculo, mas como uma experiência que enriquece e fortalece tanto a vida pessoal quanto a profissional.
Por Amanda Ramalho, especialista em Direito Empresarial e Compliance. Com mestrado em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA), Doutoranda em Direito Comercial pela PUC/SP.
Ouça o Episódio 105 do Podcast RH Pra Você Cast:
Qual o Caminho para Naturalizar a Maternidade no Ambiente Corporativo?
Dados de uma pesquisa da FGV mostram que quase 50% das mulheres não retornam ou perdem seus empregos em até dois anos depois da licença-maternidade.
A Opinião de Marina Franciulli
Para Marina Franciulli, Head de Sustentabilidade Financeira e Projetos de Impacto da B2Mamy, isso acontece porque a maternidade ainda não é naturalizada por parte da gestão de muitas organizações.
Foi justamente para preencher essa lacuna que surgiu a B2Mamy, em 2016, um hub de inovação focado em tornar mães e mulheres líderes e livres economicamente por meio de educação, pesquisa e comunidade.
Participação Especial no Podcast
Para falar sobre sua relação com maternidade, carreira e envolvimento com projetos da B2Mamy, participa também do podcast, moderado pelo CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, Shirlei Lima, Gerente de Produto da DIMEP.
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