Competências e sentimentos no trabalho – parte 3 – Sentimentos Emocionais Produtivos

Agora que “arrancamos o band-aid” dos sentimentos emocionais destrutivos, passemos àqueles que todos esperavam… os sentimentos produtivos.

Se o sentimento negativo destrói energias, inteligências e riquezas, o produtivo nos traz valor, nos faz sentir bem, potencializa a eficácia de nossas competências no trabalho.

A construção dos sentimentos emocionais positivos é feita pela aprendizagem, educação e valores. Em síntese, são o resultado de nosso conhecimento em ação.

Nosso sentir precisa de um nome, de ser chamado e reconhecido para poder evoluir e tornar nossa profissionalidade fecunda.

Assim como no caso dos destrutivos, esses sentimentos também influenciam nossas capacidades e, quanto mais crescem, mais potencializam sua eficácia.

Vejamos alguns, procurando nos deixar levar por sua energia positiva e de bem-estar.

Amizade

Aristóteles considera a amizade uma virtude fundada não nas paixões, mas na livre escolha. Na etimologia da palavra latina, o significado de amigo (amicus) destaca a raiz do verbo amar, significando literalmente “aquele que se ama“.

A amizade é um elemento fundamental da vida relacional de cada um de nós; envolve aceitação e compreensão do outro pelo que ele é, sem entrar na idealização própria do amor.

Quando pensamos em amizade, imaginamos aquele espaço relacional onde compartilhamos experiências nos altos e baixos da vida, onde encontramos alguém que nos acolhe nos momentos serenos e alegres, mas também nos períodos críticos e difíceis.

Um amigo é um companheiro de viagem que aceita nossas imperfeições ou fraquezas. Em resumo, a amizade é um sentimento que nos tranquiliza, que não nos faz sentir sozinhos.

Seja que se trate apenas de simpatia, seja que se desenvolva em processos emocionais mais profundos e empáticos, esse sentimento desempenha um papel importante no campo de trabalho, aumentando a eficácia de todas as habilidades relacionais e, sobretudo, do trabalho em equipe.

Confiança

A confiança, no contexto de trabalho, é um sentimento fundamental que desempenha um papel crucial na construção de relacionamentos sólidos e duradouros dentro das organizações. É a convicção de que colegas, superiores e colaboradores agirão com integridade, confiabilidade e que serão competentes em suas tarefas.

A confiança baseia-se em uma série de aspectos-chave: a coerência das ações, a transparência na comunicação, a capacidade de manter promessas e a demonstração de respeito mútuo.

A confiança é uma lufada de otimismo que nos faz olhar para o amanhã, esperando que os eventos aguardados se concretizem; é o impulso que nos faz transformar sonhos em objetivos; é o motor de nossa proatividade; é o laço de nossas relações.

Os ingredientes fundamentais sobre os quais se constrói a confiança são: a confiabilidade, ou seja, a correspondência entre o que prometemos fazer e o que realmente fazemos; a lealdade, no seu significado de respeitar as promessas valorativas na prática; a transparência, entendida como a correspondência entre nossa declaração comunicativa e o que realmente pensamos.

Confiança é uma aposta interessante, que nos obriga a questionar como queremos viver no presente e como queremos construir nosso futuro. Grande moeda a confiança, capital produtivo para quem a possui. Seu contrário é apenas a aridez da desconfiança.

Coragem

A coragem é aquele sentimento que nos permite enfrentar o medo. Todos nós temos medo do desconhecido, das mudanças, das nuvens que avistamos no horizonte do amanhã. Mas é justamente a coragem que pode alimentar nossa capacidade de lidar com as incertezas, em vez de nos fazer encalhar nas rochas do medo.

A coragem é saber enfrentar situações difíceis, ou de resultado incerto, com força de espírito; é a vontade de superar situações arriscadas através da força física, espiritual e intelectual. É nossa vontade de olhar para o amanhã e planejá-lo, criando possibilidades e inovações.

Conhecimento e consciência levam à coragem. Um aliado precioso para sustentar a competência de decisão. A coragem, não interpretada como temeridade inconsciente, é favorecida por nossa responsabilidade e pela certeza de que o medo não pode ser eliminado.

Graças à “coragem”, podemos desenvolver modos de conviver com o medo, não como resignação passiva, mas considerando-o como um aporte da nossa força emocional e intelectual. A influência da relação entre coragem e decisão é evidente para todos.

Diligência

Um sentimento com sabor um pouco “antigo”, caracterizado pela precisão, exatidão e cuidado responsável com aquilo que nos foi confiado.

O termo diligência identifica o sentimento emocional que condiciona nossa abordagem ao fazer e que nos impulsiona a cuidar do nosso trabalho, a fim de buscar a melhor maneira de ter sucesso, no interesse não apenas nosso, mas sobretudo dos outros.

Mas quais são os ingredientes fundamentais da diligência?

. A precisão, ou seja, o grau de convergência para o objetivo esperado;

. A exatidão, que significa continuar sendo preciso ao longo do tempo, a constância com que praticamos com precisão;

. O cuidado, como efeito visível do senso de responsabilidade;

. A vontade, como um sentimento que deriva do nosso autocontrole, da consciência de que nossas energias, se não forem bem dosadas, podem se esgotar.

Coincidentemente, é justamente a diligência que desenvolve aquela força auto motivante definida como vontade. Organização, precisão, gestão de erros, perseverança em busca de resultados requerem a energia realizadora da diligência.

Empatia

Substrato fundamental de muitas competências, tanto que alguns economistas cunharam o termo homo empathicus para explicar a natureza humana na era da globalização.

A empatia é uma das propensões interpessoais que nos leva a compreender e nos colocar nos estados emocionais do outro através da força da comunicação não verbal, graças à ativação dos neurônios espelho.

Com a empatia, não somos apenas observadores, estamos com o outro, vestimos suas roupas, somos capazes de sentir o que ele sente; é nossa maneira de compreender o outro além dos sentimentos emocionais imediatos de simpatia e antipatia.

Definir a empatia requer, portanto, olhar além da simples compreensão ou compartilhamento das emoções dos outros; implica a capacidade de se aprofundar nas perspectivas e experiências dos outros para facilitar a comunicação e a colaboração.

Entusiasmo

O entusiasmo é um sentimento tão poderoso em sua força produtiva que, graças à sua função, podemos alcançar objetivos ambiciosos.

Entre os diferentes sentimentos, o entusiasmo é aquele que mais expressa seu conteúdo imaginativo porque, para se alimentar, precisa dos processos elaborativos de pensamento e de elaborar estratégias. O entusiasmo é energia cognitiva focada, que nos permite ver em perspectiva e visualizar a viabilidade do futuro.

Mas de quais ingredientes o entusiasmo se alimenta?

. Certamente a curiosidade, no seu significado de gosto e interesse em aumentar seu conhecimento;

. A confiança: se o entusiasmo é o carvão que permite à locomotiva se mover em direção ao amanhã, a confiança o alimenta, potencializando a esperança de sucesso;

. O compromisso, que nos leva com constância e tenacidade a perseguir os objetivos; a paixão: estar apaixonado pelo que fazemos;

. A generosidade, que permite compartilhar nosso entusiasmo e transferi-lo para os outros.

O entusiasmo é o sentimento fundamental para planejar o futuro, capaz de nos fazer superar dificuldades e esforços, mas, sobretudo, capaz de fazer crescer nosso pensamento antecipatório e prospectivo.

Generosidade

Generoso é aquele que não se poupa, mas sobretudo está pronto a doar. O significado de generosidade pode ser associado ao altruísmo, entendido como uma atitude voltada para o bem-estar dos semelhantes.

O termo gentileza também pode ser associado à generosidade, entendida como sentimento empático, derivado da capacidade de se identificar com os outros, de compartilhar suas alegrias e de respeitar seus sofrimentos. Finalmente, o termo generosidade pode ser associado à solidariedade.

O sentimento de generosidade se manifesta quando um indivíduo age com altruísmo, oferecendo tempo, recursos, conhecimento ou apoio aos outros sem esperar nada em troca. No contexto de trabalho, a generosidade transforma as dinâmicas interpessoais e contribui para criar um ambiente colaborativo e solidário.

Não se limita à mera partilha material, mas inclui a disposição para partilhar ideias, competências e o tempo dedicado a apoiar o sucesso alheio. O altruísmo de dar é de fato um processo de comunicação para com o outro.

A generosidade predispõe para a relação e o encontro com o outro, assim como a comunicação só é eficaz se o outro perceber sua eficácia.

Intuição

Estamos perfeitamente cientes de que alguém pode discordar ao considerar a intuição como um sentimento, mas nossa memória intuitiva é tão condicionada pelo fluxo de nossos sentimentos emocionais que não podemos deixar de considerar como eles podem atrapalhar ou favorecer nossas antenas cognitivas e emocionais.

A intuição é o resultado de uma visão sistêmica com a qual compreendemos e fornecemos respostas aos estímulos do nosso ambiente com base em nosso conhecimento e experiências anteriores. A intuição não é instinto, pois não se trata de uma resposta biológica e automática.

Na intuição podemos encontrar uma combinação característica entre ‘razão’, no sentido de raciocínio, e ‘emoção’, entendida como a influência de diferentes tipos de sentimentos.

A intuição, no contexto de trabalho, refere-se à capacidade de compreender instantaneamente e sem o auxílio de um raciocínio analítico explícito.

É um processo cognitivo que utiliza a experiência, o conhecimento tácito e as percepções imediatas para formular julgamentos e tomar decisões. A intuição muitas vezes se manifesta como uma “sensação visceral” ou um “raio de inspiração” que nos guia em uma certa direção na ausência de uma clara evidência racional.

A intuição é a essência da inteligência emocional, capaz de explicar o porquê e de acionar o pensamento racional. Os campos privilegiados da intuição são: a resolução de problemas, a tomada de decisões e a propensão ao novo.

Otimismo

O otimismo está ligado à nossa percepção de autoeficácia pessoal, mas sobretudo à nossa confiança em poder enfrentar e superar as pequenas e grandes dificuldades do nosso cotidiano. Ele entra em cena na presença de dificuldades; podemos defini-lo como o impulso emocional que nos faz enfrentar as adversidades. O otimismo realista é próprio de quem não subestima as dificuldades, mas adota uma atitude propositiva e possibilista de sucesso.

O otimismo, no contexto de trabalho, é caracterizado pela tendência de ver o lado positivo das situações, manter uma atitude positiva diante dos desafios e acreditar que o futuro trará resultados favoráveis. Os otimistas tendem a interpretar os fracassos como temporários e superáveis, vendo as dificuldades como oportunidades de aprendizagem e crescimento.

Os ingredientes do otimismo são: nutrir esperança para o futuro; evitar recriminações nostálgicas do passado; nossa percepção de autoeficácia pessoal, entendida como a habilidade de estabelecer expectativas alcançáveis e não superdimensionadas; considerar os problemas como eventos que têm solução; a proatividade.

Paciência

A paciência é o sentimento humano que nos permite adiar a “reação” às adversidades, mantendo em relação à situação uma atitude não passiva, mas reflexiva. A paciência é uma qualidade superior, que extrai vitalidade da sabedoria e nos permite não perder a perseverança em nossas ações.

É a calma necessária, constância, assiduidade, aplicação contínua, na realização de uma atividade, na concretização de um objetivo ou no enfrentamento das dificuldades do cotidiano. É a capacidade de suportar atrasos, contratempos e sofrimentos sem se irritar.

No contexto de trabalho, a paciência é um sentimento precioso que permite às pessoas navegar com serenidade em ambientes muitas vezes estressantes e acelerados. A paciência é o sentimento produtivo que alimenta e sustenta nossa habilidade de concretização.

É a constância e assiduidade necessárias que nos levam a aplicar-nos na ação, que apoia a proatividade e a gestão de mudanças.

Perdão

O perdão é o sentimento pelo qual somos levados a perdoar, desculpar as faltas, erros, defeitos dos outros, mas vale a pena enfatizar, também os nossos. Do ponto de vista etimológico, perdoar significa “conceder um presente”.

O perdão é o verdadeiro sentimento produtivo na gestão de conflitos interpessoais, pois permite renunciar a qualquer vingança e revanche; representa a capacidade humana de “olhar além” e fazer da experiência, mesmo que negativa, não a fonte para interromper sua evolução individual, mas a base para uma sábia maturidade.

É um sentimento que envolve a esfera afetiva, cognitiva e motivacional da pessoa.

Sabedoria

A sabedoria é uma qualidade positiva que abre as portas para o conceito de serenidade, o próprio fundamento da existência de todos nós. Pode ser considerada uma forma de consciência do que realmente somos ou temos, conseguindo colocar em prática um comportamento flexível e adaptativo à realidade que nos cerca.

Os requisitos contemporâneos da sabedoria são: senso de responsabilidade, habilidade prospectiva, entendida como a capacidade de olhar para as consequências e prever a evolução dos eventos, coragem decisional, consciência de nossos pontos fortes e fracos, elaboração da experiência passada com um justo equilíbrio entre valorização e espírito crítico.

Os efeitos da sabedoria se tornam nossa capacidade de viver relações positivas, dar às expectativas uma meta realista e alcançável em relação às nossas condições, enfrentar situações críticas sem se desanimar e abater.

A sabedoria é aprender a influência estratégica de nossos sentimentos emocionais positivos, treinando-nos a conhecê-los e a agir sobre eles, cada um no seu cotidiano, nas pequenas e grandes coisas da complexa realidade.

A sabedoria é uma chave preciosa com a qual abrimos as portas do mundo. Graças a esse sentimento, podemos compreender o que é certo ou errado, distinguir, de alguma forma, o bem do mal, a ética da astúcia dos desonestos. Nenhum líder é realmente tal se, antes de qualquer outro aspecto, não for sábio.

Conclusões

Chegamos ao fim desta jornada pelas emoções e sentimentos. Espero que este “mini-guia” possa ser útil para compreender o quanto a eficácia em ação de nossas capacidades está ligada aos nossos estados de ânimo e sentimentos.

O primeiro passo para potencializar essa eficácia é o conhecimento.

Reconhecer a condição de nosso estado de ânimo e saber sobre quais capacidades ele age nos permite desenvolver nossa Agilidade Emocional.

Sentimentos Emocionais_foto autora

Por Angela Gallo, Presidente de IdeaManagement. Artigo publicado originalmente em 2024 na HR ONLine da AIDP – ‘Associazione Italiana per la Direzione del Personale‘.

 

 

 


🎧 No episódio 168 do RHPraVocê Cast, mergulhamos na discussão sobre a presença das dos sentimentos emocionais no ambiente corporativo. Por que esse tema é tão espinhoso? E como as emoções afetam o engajamento, a produtividade e as finanças das empresas?

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Confira o episódio completo. Em suma, descubra como a gestão dos sentimentos emocionais pode ser um diferencial competitivo para as empresas!

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