Competências e sentimentos no trabalho – parte 2 – Sentimentos Emocionais Destrutivos

A seguir, apresentamos alguns sentimentos emocionais destrutivos, em rigorosa ordem alfabética, já que não pensamos que exista, entre os descritos, uma ordem de prioridade por importância e frequência.

São os eventos da vida que os trazem à tona e as histórias profissionais e pessoais de cada um de nós podem tornar mais evidente um em vez de outro. Os sentimentos destrutivos nos fazem sofrer e podem ser a causa de insucessos pessoais e empresariais.

Além disso, quando entram em jogo, reduzem significativamente a eficácia no exercício de nossas competências. Conhecê-los é importante, porque, em diferentes níveis de intensidade, todos nós os encontramos e também os experimentamos.

Nos sentimentos, a quantidade emocional pode fazer a diferença. Nos primeiros níveis do sentir, os sentimentos emocionais negativos não expressam toda a sua força destrutiva, mas podem ser interpretados como sinais premonitórios para implementar uma mudança ou nos fazer dar um salto evolutivo.

Mas, se não reconhecemos os sinais e não nos preocupamos em compreendê-los, os sentimentos destrutivos podem transbordar os limites da consciência e inundar nossa mente, nossa alma, nossa vida profissional e pessoal.

A seguir, alguns sentimentos emocionais que, infelizmente, encontramos presentes nos corredores e entre as mesas de escritórios empresariais.

Avareza

Nossa sociedade é bastante permissiva em relação a este sentimento, considerando-o também um sinal de poder e realização econômica para aqueles que são afetados por ele.

Infelizmente, competências importantes como a Inteligência Social e a comunicação sofrem os efeitos deletérios da avareza.

A avareza nos leva a nunca estarmos satisfeitos com o que temos: queremos sempre mais. A avareza é uma fome insaciável de posse. É um sentimento que tende a colocar a acumulação e a posse pessoal acima do bem-estar coletivo ou ético.

A avareza pode alimentar um ambiente de trabalho hipercompetitivo, onde a cooperação e o espírito de grupo são sacrificados para o ganho pessoal. A avareza nem sempre é óbvia; pode ser mascarada por ambição ou por uma forte motivação ao sucesso.

No entanto, uma vez que ultrapassa os limites da ética e do trabalho em equipe, torna-se prejudicial. O termo avareza é frequentemente associado ao de mesquinharia, mas avareza e mesquinharia são sinônimos? Quem é avarento quer sempre mais, quem é mesquinho não quer dar o que tem.

Diferença sutil, mas substancial. A avareza e a mesquinharia têm em comum o egoísmo.

Decepção

O sentimento de decepção surge quando nossas expectativas são frustradas: um objetivo, um desejo, um sonho, se quebram contra as rochas da realidade. A decepção é a consequência direta da ilusão.

Existem níveis crescentes de decepção destrutiva: pode-se ficar amargurado, diante de algo que não saiu como esperávamos, restando com um “gosto amargo na boca”.

Sucumbe-se à ira; nosso eu, para enfrentar a frustração, libera todo o seu ressentimento colérico. Torna-se rancoroso. Fica-se triste. Desespera-se e aqui a rendição se torna total.

A decepção é frequentemente acompanhada por tristeza, frustração e uma reconsideração de nossos objetivos ou expectativas. No contexto de trabalho, a decepção pode surgir de uma promoção perdida, de um projeto fracassado, de feedbacks negativos ou de não conseguir atingir os padrões pessoais ou empresariais estabelecidos.

A decepção pode diminuir temporariamente a motivação, e as pessoas decepcionadas podem se tornar menos produtivas, pois sua energia emocional é absorvida pela gestão da decepção. Um sentimento estranho que nos faz viver no arrependimento e nos leva gradualmente a secar.

Infelizmente, a decepção obscurece e, às vezes, apaga a chama do aprendizado. Suas consequências afetam habilidades como a iniciativa, mas também o pensamento antecipatório indispensável para construir o futuro.

Desconfiança

A desconfiança é o estado emocional que nos leva a não confiar e alimenta nosso medo. Em sua função de instinto protetor, uma certa dose de alerta ao farejar perigo tem essencialmente um valor adaptativo e nos permite avaliar estímulos nocivos, cumprindo um papel importante ao enfrentar situações desconhecidas.

A desconfiança como sentimento destrutivo vai além de sua função protetora, é um estado permanente com o qual enfrentamos não apenas situações novas, mas também nosso ambiente conhecido. O sentimento de desconfiança abre a porta para aquela devastadora experiência humana que chamamos de traição.

A traição decepciona a confiança, as expectativas, quebra um vínculo e, sobretudo, fragmenta uma continuidade, separando um antes e um depois da traição. A traição traz consigo sentimentos emocionais de raiva e vingança, não apenas a perda da confiança.

Com seu paradoxo existencial: se eu não confio em ninguém, como posso esperar que os outros confiem em mim? Os efeitos da desconfiança são sentidos na queda da eficácia de habilidades como decisão ou pensamento inovador.

Indiferença

Considera-se a indiferença como falta ou ausência de emoções. Mas também é um estado emocional, no qual prevalece um vazio de interesses e de participação no mundo exterior. Se procurarmos sinônimos de indiferente, encontraremos termos como impassível, cínico, imperturbável, apático, mas também niilista, termos longe de serem positivos.

A origem da indiferença é o medo. Sou indiferente porque tenho medo das consequências, tenho medo de sofrer, tenho medo de entrar no vórtice do envolvimento. A indiferença tem diferentes intensidades emocionais. Preguiça: a de não fazer e a de não ver. A preguiça se transforma no segundo estágio da indiferença: a distração.

A técnica usada para se distanciar emocionalmente de si mesmo e dos outros, neste caso, é justamente a da atenção. A indiferença continua seu percurso, levando-nos ao tédio. Nesse estágio, nossa preguiça se transformou em ausência de sentir, observar, agir. Um quarto estágio é o senso de vazio que beira a preguiça e a depressão.

Esse sentimento pode às vezes servir como mecanismo de defesa para se proteger de decepções ou como reação a sobrecargas emocionais. Esse sentimento não afeta apenas habilidades como a inteligência social, mas também arrisca tornar a competência de orientação ao cliente pouco produtiva.

Inveja

A inveja é um dos sentimentos emocionais mais difundidos, mas ao mesmo tempo um dos mais negados. Além disso, é interessante refletir sobre o fato de que geralmente somos inclinados a vê-la nos outros, mas somos totalmente incapazes de sentir a nossa, quando a experimentamos.

A força destrutiva da inveja consiste no fato de que a pessoa não vive mais para si, mas apenas em relação ao que o outro tem e que, em seu pensamento rancoroso, deveria pertencer a ela.

Outro elemento desse sentimento é a relação com o tempo: o invejoso passa a maior parte do tempo não tentando alcançar a mesma meta do invejado, mas fazendo o possível para que o outro perca o que possui.

 Queremos ainda enfatizar que um dos elementos centrais da inveja é o sentimento subjetivo de injustiça: o invejoso está realmente convencido de que sofreu uma injustiça.

Esse estado emocional é frequentemente censurado pela razão organizacional e pela moral social, mas, infelizmente, causa muitas vítimas e é a causa de alguns fracassos profissionais e de alguns reais obstáculos ao alcance dos resultados de negócios. O trabalho em equipe, por exemplo, sofre com isso, uma competência relacional privilegiada na atual economia do conhecimento.

Medo

Da raiz indo-europeia ″pat″, que significa percutir, incutir temor, derivam os termos latinos ″pavor″ e ″paveo″, que significam “sou percutido, sou abatido”. O medo é certamente uma emoção primária, que pode se transformar no sentimento penetrante da raiva agressiva, assim como pode assumir manifestações de resignação passiva.

O termo medo identifica estados de diferentes intensidades emocionais, que variam desde uma resposta fisiológica a um estímulo percebido como ameaçador, assumindo manifestações de temor, apreensão, preocupação, inquietação, até estados de elevado sofrimento emocional como ansiedade, terror, fobia ou pânico.

O medo é o elaborado dispositivo que nos permite ‘farejar’ e nos preparar para enfrentar o perigo. Essa nossa sensibilização, se prolongada no tempo, pode abaixar o limiar de ativação do medo, resultando em um verdadeiro mecanismo de habituação.

Esse sentimento não pode ser eliminado; ao contrário, sua função é saudável para a nossa proteção. Infelizmente, ao aumentar sua intensidade, pode se tornar um sentimento paralisante, capaz de inibir nossa esfera intelectual e gerencial.

Pessimismo

O pessimismo, em resumo, é a atitude constante e sistemática de desconfiança em relação à nossa vida cotidiana e ao nosso futuro. O pessimismo influencia negativamente alguns aspectos peculiares do nosso modo de ser e agir. Vejamos alguns:

Motivação: o pessimismo bloqueia qualquer energia motivacional, porque apaga a fagulha do entusiasmo.

Orientação para resultados: o pessimismo alimenta a preguiça. Qualquer esforço para alcançar um resultado é minado pela queda na confiança no sucesso. Um pessimista, geralmente, desanima ao enfrentar dificuldades.

Propensão ao novo: a visão negativa e bloqueadora em relação ao novo pertence ao pessimista. O novo é apenas um caminho cheio de armadilhas e ameaças. Muito melhor a imobilidade reconfortante do que conhecemos bem.

Autoestima: a autoimagem do pessimista reflete um profundo senso de inferioridade. Mas a baixa autoestima se transforma, ao longo do tempo, em queixas, rancor conflituoso e, principalmente, no poderoso sentimento da inveja.

O pessimismo é um sentimento destrutivo, com o qual os aspectos negativos da vida são enfatizados. Mas a verdadeira criticidade desse sentimento é que quem o vivencia emprega tal energia de sabotagem que, no final, consegue prejudicar a si mesmo. Sofrem não só a capacidade de resolver problemas, mas também a nossa habilidade de iniciativa.

Preguiça

Um sentimento destrutivo com um termo um pouco em desuso, mas cujos efeitos destrutivos são atuais: a falta de vontade ou o hiperativismo neurótico que destroem a energia motivacional na base de toda a nossa projeção e orientação para resultados.

Em termos gerais, a preguiça é o sentimento que nos bloqueia; uma espécie de indolência que se arrasta entre a inércia e a falta de interesse pelo que nos rodeia. Em resumo, o que entra em colapso é a operatividade, tornando-se um defeito de “fazer”.

Suas manifestações emocionais são: abatimento, desânimo, ausência de motivações e interesses. Não se é capaz de apreciar o que se tem, mas tende-se, apenas teoricamente, a desejar o que não se tem. A preguiça é a patologia da vontade, da motivação e da resiliência.

Rancor

O termo rancor deriva do latim “rancor”, que significa ranço. O rancor surge quando alguém não apenas nos impede, mas também nos ofende. O interlocutor ou a situação que nos humilhou é considerada responsável pelo comportamento que nos prejudicou, criando em nós uma frustração crescente.

É um estado de espírito corrosivo que pode se enraizar profundamente, muitas vezes em resposta a uma injustiça real ou percebida. Esse sentimento pode levar a manter vivo o recordo de uma ofensa e a nutrir um desejo de vingança ou justiça.

O elemento destrutivo do rancor é a força agressiva voltada para querer prejudicar o outro ou uma situação específica, para aplacar a ofensa ou a injustiça sofrida. No ressentimento, por outro lado, predomina nossa frustração paralisante, nosso senso de impotência.

Ressentimento significa “sentir de novo” e o que sentimos é o eco da nossa incapacidade de lidar com o dano sofrido. O ressentimento é como pressionar o acelerador de um carro preso na lama; quanto mais “pressionamos”, mais ele afunda.

O sentimento de rancor tem péssimos companheiros de viagem… a raiva, a necessidade de vingança e, às vezes, a vingança. O rancor tem suas raízes no sentimento “primo” da vergonha.

O ato sofrido é tanto mais doloroso quanto mais nos colocou em uma situação de humilhação. O campo de influência destrutiva vai desde a gestão de conflitos relacionais até a negociação, do trabalho em equipe até a gestão de pessoas.

Renúncia

Renunciar é abrir mão de algo que se possui ou, talvez, apenas se deseja. A renúncia aumenta sua força destrutiva quando nossa mente a liga a eventos externos que, do nosso ponto de vista, nos tiraram algo.

O termo renúncia pode ser visto em duas acepções: decisão ativa de abandono ou resignação passiva sob os efeitos de forças internas (agentes sabotadores) ou de pressões externas (agentes bloqueadores).

O sentimento de renúncia se torna destrutivo quando assume duas faces: para alguns, a aparência é de resignação e, para outros, de nostalgia. As razões podem ser diversas. Se empenho e motivação nos permitem alcançar nossos resultados e metas, o sentimento passivo de resignação nos impede de expressar nossas possibilidades por medo de falhar.

A resignação se torna a incapacidade de enfrentar dificuldades e obstáculos. A resignação destrutiva também é de quem se convence de que a existência é dominada pelo destino, como se houvesse pessoas destinadas a alcançar metas e outras às quais é negada essa possibilidade.

Essa mentalidade favorece frustrações e incapacidade de enfrentá-las. A renúncia se torna então motivo de resignação para evitar se comprometer. A resignação, em seu aspecto destrutivo, tira qualquer possibilidade de senso de autonomia e responsabilidade; ela se torna a passiva aceitação de ser incapaz, tirando o prazer da realização.

Torna-se evidente como o sentimento de renúncia atua negativamente na orientação para resultados, na resolução de problemas e no pensamento inovador.

Soberba

O sentido do significado é: aquele que tende a desprezar os outros. A soberba expressa a necessidade de querer se colocar acima dos outros, de não aceitar que alguém possa ser superior a nós.

Uma manifestação da soberba podemos definir como arrogância, atitude típica de quem não reconhece o limite de sua própria posição e vai além do que lhe seria permitido.

Outra expressão da soberba é a presunção típica de quem, com sua atitude desagradável, fala sem ouvir, sempre sabe tudo, tem a verdade no bolso. Uma forma adicional com que se expressa a soberba é a arrogância: a ilusão de se sentir poderoso, de dominar e “esmagar” os outros.

Mas a soberba pode crescer ainda mais em intensidade e se tornar delírio de onipotência, condição de quem se sente seguro de sempre vencer. E há um degrau superior em que a soberba se estrutura: o desprezo com suas manifestações de racismo, não apenas étnico.

Para concluir, a soberba pode se transformar em abuso, opressão, crueldade para com os outros. Com seus sinais deletérios de arrogância, prepotência, senso de superioridade e comportamento depreciativo em relação aos outros. Esse sentimento nos coloca uma pergunta chave: qual é sua influência no exercício da liderança?

Vergonha

Ao sentir vergonha, nosso ‘eu’ vive a realidade emocional de se sentir marginalizado em seu ambiente social porque não se sente digno de pertencer a ele. Sentir vergonha constitui uma das experiências emocionais mais dolorosas, pois permeia a identidade social.

A vergonha, entre todos os sentimentos emocionais, é aquele com maior conotação social, pois é gerada pelo medo, muitas vezes, pela certeza de que os outros pensam ou emitem julgamentos negativos sobre nós. É uma crença comum que quem sente vergonha tende a se isolar e a apresentar um comportamento de resignação passiva.

No entanto, esquecemos que quem sente vergonha pode desenvolver mecanismos compensatórios através de reações de raiva e sentimentos emocionais de vingança e retaliação contra quem, com seu comportamento, o ofendeu. Esse sentimento somos compassivamente dispostos a aceitá-lo nas crianças, mas não entre os executivos de colarinho branco. Infelizmente, esse estado emocional paralisante está tão presente que, para não senti-lo com sua força destrutiva, estamos dispostos a recorrer às piores audácias.

A vergonha não apenas impede a propensão ao novo, mas é uma barreira difícil de superar nos processos de aprendizagem.

Porque uma coisa é certa: os gestores, principalmente, têm vergonha de não saber e, como tal, alguns deles rejeitam qualquer programa de atualização.

Clique AQUI para acessar a parte 3 do artigo. Conheça os Sentimentos Emocionais produtivos no trabalho. 

Sentimentos Emocionais_foto autora

Por Angela Gallo, Presidente de IdeaManagement. Artigo publicado originalmente em 2024 na HR ONLine da AIDP – ‘Associazione Italiana per la Direzione del Personale‘.

 

 

 


🎧 No episódio 168 do RHPraVocê Cast, mergulhamos na discussão sobre a presença das dos sentimentos emocionais no ambiente corporativo. Por que esse tema é tão espinhoso? E como as emoções afetam o engajamento, a produtividade e as finanças das empresas?

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Falar sobre os sentimentos emocionais no escritório é como navegar por um território delicado. Afinal, a felicidade, a tristeza e outras emoções permeiam cada aspecto da jornada profissional. Mas como lidar com elas de forma construtiva?

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Nossa conversa destaca o papel crucial dos líderes e do departamento de Recursos Humanos. Certamente, eles têm a responsabilidade de criar um ambiente onde as emoções sejam reconhecidas, compreendidas e gerenciadas. Afinal, emoções impactam diretamente o desempenho e o bem-estar dos colaboradores.

Entrevista com Especialistas

Neste episódio, convidamos duas especialistas da Coppead/UFRJ: Paula Chimenti, Professora e Coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação, e Fernanda Souza, doutoranda e pesquisadora. Assim elas compartilham insights valiosos sobre como abordar o tema dos sentimentos emocionais nas organizações.

Confira o episódio completo. Em suma, descubra como a gestão emocional pode ser um diferencial competitivo para as empresas!

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