A pergunta certa não é apenas: "Por que estão saindo?" Mas sim: "O que impulsiona a retenção de talentos e mantém essas pessoas aqui?"

Já faz algum tempo que as empresas vivem uma verdadeira "dança das cadeiras" de talentos. Profissionais entrando e saindo, times se desestruturando, lideranças tentando apagar incêndios enquanto lutam para entregar resultados. O que a maioria das organizações faz diante desse cenário? Corre para entender por que as pessoas estão saindo.

E é claro, essa preocupação é legítima. Mas será que é a pergunta certa?

Hoje, quero te convidar a refletir comigo sobre um ângulo diferente — mais estratégico e muito mais humano:

A verdadeira questão não é apenas a respeito de saída, mas sobre retenção de talentos. Afinal, por que essas pessoas ainda estão aqui?

Virar a chave: da reação à ação estratégica

Quando alguém pede desligamento, é natural buscar as razões: salário, liderança, ambiente tóxico, falta de perspectiva. Mas se ficarmos apenas nesse ciclo reativo, nunca sairemos do lugar. É como tentar consertar um barco furado enquanto ainda estamos no meio do oceano.

Como mentora de RH, aprendi ao longo dos anos que a retenção de talentos não é conter saídas — é construir permanências conscientes.

É entender o que faz aquele colaborador que poderia estar em qualquer lugar do mundo, escolher estar aqui hoje, com você, com a sua empresa.

É descobrir quais vínculos emocionais, quais propósitos e quais pequenos (e grandes) gestos fortalecem a relação de confiança.

E mais do que isso: é reconhecer que ninguém é obrigado a ficar. Permanecer é um ato voluntário, que precisa ser cultivado todos os dias.

O que leva alguém a ficar?

Se quisermos fazer a pergunta certa, precisamos estar prontos para ouvir as respostas com maturidade.

E elas podem surpreender:

  • Reconhecimento verdadeiro: Não apenas bônus ou tapinhas nas costas. Falo de sentir que sua contribuição é vista, valorizada e importante.
  • Propósito: Trabalhar por algo que tenha significado, que vá além do lucro pelo lucro.
  • Desenvolvimento: Ter a oportunidade de crescer, aprender, assumir novos desafios.
  • Relacionamentos saudáveis: Viver em um ambiente seguro, onde há respeito, acolhimento e apoio.
  • Autonomia: Sentir que pode fazer seu trabalho com liberdade e confiança, sem microgerenciamento sufocante.
  • Qualidade de vida: Ter equilíbrio entre vida pessoal e profissional, sem ser engolido pela cultura do overwork.

Esses são apenas alguns fatores, mas que, juntos, constroem a resposta para a pergunta "Por que ainda estão aqui?".

RH, Liderança e Cultura: uma tríade indissociável

Se você trabalha com RH, como eu, sabe que a retenção de talentos não depende de uma fórmula mágica para engajar pessoas. Afinal, cada organização tem sua história, seus valores e suas próprias dores.

Mas existe um ponto comum: a cultura organizacional.

A cultura é esse "ar" que todos respiram — seja ele tóxico ou revigorante.

E a liderança é quem dá o tom dessa atmosfera.

RH sozinho não segura ninguém. É preciso trabalhar junto com os líderes para construir uma cultura que valorize pessoas, que celebre a diversidade, que incentive o diálogo e que permita que todos sejam quem são.

Não adianta campanhas bonitas de endomarketing se no dia a dia o colaborador sente medo, invisibilidade ou injustiça.

A verdadeira permanência acontece quando há coerência entre discurso e prática.

Perguntas poderosas para fortalecer a permanência

Se queremos mudar o foco da saída para a permanência, podemos começar hoje mesmo.

Aqui estão algumas perguntas que costumo orientar líderes e RHs a fazer:

  • O que faz você querer vir trabalhar aqui todos os dias?
  • Em que momentos você sente orgulho de pertencer a esta empresa?
  • O que poderíamos melhorar para tornar sua experiência aqui ainda mais significativa?
  • Quais projetos ou atividades te deixam mais motivado?
  • Como você gostaria de se desenvolver profissionalmente nos próximos meses?
  • Existe algo que esteja te incomodando e que ainda não tivemos a chance de conversar?

Perguntas abertas, sinceras e genuínas.

Não para "preencher formulário", mas para ouvir de verdade.

E atenção: fazer essas perguntas gera expectativas. Ou seja, precisamos estar preparados para agir com base nas respostas.

Permanência não é prisão: é escolha

Outro ponto essencial: permanência não é obrigatoriedade.

Nós não queremos pessoas que ficam por medo, por falta de opção ou por comodismo.

Queremos talentos que escolhem ficar, que sentem orgulho de fazer parte, que enxergam propósito na sua atuação.

Por isso, não tenha medo de fazer essas perguntas. Se alguém te disser que está aqui apenas porque "não encontrou coisa melhor", veja isso como uma oportunidade de evolução e não como uma derrota.

A cultura de permanência é construída no dia a dia, na escuta ativa, na coragem de mudar o que precisa ser mudado.

O papel da comunicação transparente

Uma das maiores causas de turnover hoje é a falta de comunicação transparente.

Afinal, a retenção de talentos depende de credibilidade. Prometer o que não se cumpre, esconder problemas e exagerar no marketing interno são atitudes que minam a confiança e afastam profissionais.

Por isso, mais do que perguntar, é fundamental comunicar com verdade:

  • Onde estamos bem e onde precisamos melhorar.
  • O que podemos oferecer e o que ainda estamos construindo.
  • Quais valores realmente nos movem.

A transparência cria um ambiente onde as pessoas sabem o que esperar — e podem decidir se querem ou não fazer parte dessa história.

Um RH humanizado faz as perguntas certas

Quando nos tornamos profissionais de RH (ou líderes de qualquer área), assumimos uma responsabilidade enorme: cuidar de pessoas, não apenas de processos.

Então, da próxima vez que sentir o impulso de perguntar "por que estão saindo?", respire fundo e mude a chave: pergunte por que ainda estão aqui.

Entenda, valorize, cultive.

Porque, no fim do dia, a retenção de talentos não é o objetivo principal — o essencial é construir relações de confiança, respeito e propósito.

E essas relações são o verdadeiro diferencial das empresas que querem não apenas sobreviver, mas prosperar em um mundo cada vez mais humano.

IA_foto da autoraPor Mirella Mentora, especialista em Gestão da Felicidade, Compensação e Benefícios e Liderança Humanizada. Objetiva criar ambientes de trabalho saudáveis, inclusivos e produtivos, onde cada indivíduo possa prosperar.



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