Retrocesso na Presença Feminina em Cargos de Liderança
Uma recente pesquisa chamada "Mulheres em Ações," da bolsa de valores brasileira (B3), trouxe à tona uma realidade preocupante. Com efeito, a presença de mulheres e pessoas negras em cargos de direção nas empresas listadas na bolsa brasileira regrediu em 2024, em comparação com o ano anterior.
Essa constatação nos convida a uma reflexão profunda sobre a importância da diversidade nos cargos de liderança. Bem como o impacto que a falta dela pode ter, não apenas no ambiente corporativo, mas também na conformidade regulatória e na governança das empresas.
Com nove anos de experiência em contratos, direito societário e compliance, além de uma sólida formação acadêmica com mestrado em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA) e atualmente doutoranda em Direito Comercial pela PUC/SP, venho acompanhando de perto as discussões sobre boas práticas de ESG (ambiental, social e governança). Do mesmo modo, o quanto essas pautas estão cada vez mais interligadas com o conceito de diversidade nas empresas.
Dados alarmantes sobre a liderança feminina
Os dados da pesquisa são alarmantes: 56% das 359 empresas avaliadas não possuem mulheres em seus cargos de direção estatutária, uma piora em relação aos 55% do ano anterior.
Além disso, apenas 6% das companhias possuem três ou mais mulheres na diretoria, contra 7% em 2023.
Quando olhamos o recorte racial, a situação é ainda mais grave: 98,6% das empresas não possuem diretores pretos e 87,7% não têm diretores pardos. Esses números mostram que ainda estamos longe de atingir um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo e diverso.
Diversidade e compliance: uma relação indissociável
Como especialista em compliance, posso afirmar que a promoção da diversidade nas empresas não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma exigência que fortalece a governança corporativa.
Um dos pilares do compliance é a criação de um ambiente de trabalho que respeite os direitos de todos, promovendo a igualdade de oportunidades e combatendo qualquer forma de discriminação.
Empresas que investem em diversidade, portanto, não só cumprem com suas obrigações legais e regulatórias, mas também melhoram sua imagem perante o mercado e os investidores.
Práticas de ESG
Sob a ótica das boas práticas de ESG, a diversidade nos quadros de liderança é fundamental para que as empresas sejam vistas como responsáveis e comprometidas com as questões sociais. Investidores estão cada vez mais atentos à forma como as companhias lidam com temas como igualdade de gênero e racial. Ignorar essa tendência pode levar à perda de investidores. Da mesma forma, possíveis implicações legais, uma vez que a pressão por uma maior representatividade nas empresas tem crescido em nível global.
Além disso, a implementação de políticas de diversidade e inclusão pode ser encarada como uma extensão natural das boas práticas de compliance. Ao implementar programas robustos de diversidade, as empresas minimizam riscos legais e regulatórios. Ao mesmo tempo em que criam um ambiente de trabalho mais colaborativo e inovador.
A diversidade é um dos componentes centrais para a criação de equipes multidisciplinares capazes de oferecer soluções mais criativas e inovadoras, o que gera benefícios diretos para o desempenho da empresa.
O papel do RH na transformação
Os dados da pesquisa mostram a necessidade de ação imediata, e o RH tem um papel crucial nesse processo. Em muitos casos, é o RH que lidera a implementação de políticas de diversidade e inclusão. Deve criar programas de conscientização, estabelecendo metas e métricas e monitorando o progresso ao longo do tempo.
A área de Recursos Humanos precisa estar alinhada com as diretrizes de compliance e governança corporativa, garantindo que a inclusão seja parte integral da cultura organizacional.
É importante que o RH promova um processo seletivo justo e transparente, que considere a diversidade de gênero e raça desde a base da contratação até os níveis mais altos de liderança. Um recrutamento inclusivo é o primeiro passo para que a empresa reflita a sociedade em que está inserida e, consequentemente, seja mais competitiva no mercado.
Garantir condições equitativas de crescimento
No entanto, não basta apenas contratar, é fundamental que as empresas garantam condições equitativas de crescimento e desenvolvimento para todos os colaboradores.
A regulação e o compliance não devem ser vistos como entraves para as empresas, mas sim como aliados no desenvolvimento de uma cultura mais inclusiva e inovadora. A pesquisa "Mulheres em Ações" nos alerta para a urgência de uma mudança estrutural no ambiente corporativo brasileiro.
A diversidade nas empresas não é apenas uma tendência passageira ou um conceito abstrato, mas sim uma necessidade para garantir a sustentabilidade dos negócios a longo prazo.
Acredito firmemente que as empresas que não investirem na promoção da diversidade e inclusão estarão mais suscetíveis a riscos legais e à perda de competitividade no futuro. É responsabilidade de todos nós, criar ambientes de trabalho mais justos e representativos.
E para que essa mudança ocorra de forma efetiva, é fundamental que o compromisso com a diversidade esteja enraizado na cultura corporativa e alinhado com as melhores práticas de compliance e governança.
Por Amanda Ramalho, especialista em Direito Empresarial e Compliance. Com mestrado em Direito pela Universidade da Amazônia (UNAMA), Doutoranda em Direito Comercial pela PUC/SP.
🎧 Podcast RH Pra Você Cast: A Evolução da Relação das Mulheres com o Mercado de Trabalho
No episódio 185 do Podcast RH Pra Você Cast, mergulhamos na fascinante evolução da relação das mulheres com o mercado de trabalho e a liderança feminina. Afinal, esse é um tema crucial e repleto de nuances. Assim, explorararemos os dados, desafios e oportunidades que moldam essa trajetória.
Responsabilidades e Desafios
Segundo um estudo realizado pela Think Olga, 86% das mulheres enfrentam uma carga de responsabilidade considerável. Além disso, quase 60% delas têm a incumbência de cuidar de alguém. Em suma, essa realidade persiste mesmo em um mercado de trabalho que, embora tenha avançado, ainda carrega tabus e desafios para o público feminino.
A Jornada Dupla de Trabalho
Profissionais brasileiras frequentemente enfrentam a chamada “jornada dupla”: equilibrar as demandas do trabalho com as responsabilidades domésticas e familiares. Afinal, esse malabarismo é uma realidade que merece atenção e soluções práticas.
Especialistas em Inclusão Compartilham Insights
Com o propósito de discutir como o setor de Recursos Humanos pode contribuir para o bem-estar das mulheres no ambiente de trabalho e a liderança feminina, o “RH Pra Você Cast” convidou duas especialistas em inclusão:
- Jorgete Lemos: Sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços, trazendo sua vasta experiência em análise de dados e tendências.
- Maíra Liguori: Diretora das organizações da Think Eva, com insights valiosos sobre as melhorias que podem ser promovidas para apoiar as profissionais.
Ouça o episódio completo e, dessa forma, descubra como podemos construir um ambiente de trabalho mais igualitário e portanto mais acolhedor para todas as mulheres, assim como para a liderança feminina! 🎧
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