Empresas precisam levar a sério a preocupação com Saúde Mental dos empregados
O tempo passa e as prioridades mudam. É isso o que vemos em relação à preocupação das empresas com a saúde mental dos empregados. Depois da pandemia de Covid-19, notou-se um grande movimento das organizações em investir e dar atenção ao bem-estar dos colaboradores.
O tema se tornou uma prioridade na pauta da agenda ESG, sigla em inglês que significa práticas ambientais, de responsabilidade social e de governança das empresas. A pandemia foi um ponto de inflexão, onde as organizações passaram, de fato, a investir e a declarar o que fazem em relação à saúde mental.
Mas o tempo passou e as prioridades parecem ter mudado
O Anuário Saúde Mental nas Empresas 2024, divulgado hoje, mostra redução no índice de promoção de bem-estar pelas grandes empresas brasileiras em relação ao ano anterior, passando de 5,40 pontos em 2023 para 5,05 neste ano.
Para chegar a essas conclusões, analisamos os relatos integrados, documentos elaborados pelas próprias organizações para prestar contas à sociedade e, consequentemente, gerar mais valor ao negócio.
Saúde mental com mais detalhes setoriais
Entre os oito setores analisados, o Financeiro aparece positivamente na liderança com um índice de 11,34. Com efeito, a preocupação não é à toa: é esse ramo da economia que apresenta o maior número de afastamento de empregados por transtornos mentais.
Na ponta oposta do ranking do Anuário, aparece negativamente o setor Agropecuário, com índice de 1,91. Esse número acende um alerta, pois as doenças mentais, comportamentais e nervosas foram a segunda maior causa de afastamentos não acidentários no Agro entre 2020-2022, de acordo com o Observatório de Saúde e Segurança no Trabalho.
O propósito do Anuário, divulgado no Dia Mundial da Saúde Mental (10 de outubro), é iluminar o que tem sido feito de melhor para inspirar e influenciar as demais organizações na adoção de uma estratégia verdadeira e efetiva para a saúde mental dos colaboradores.
A Lei nº 14.831
A metodologia cobre integralmente os pontos elencados na legislação recente que criou o Certificado de Empresa Promotora da Saúde Mental. Em março, a Lei nº 14.831 foi sancionada, mas muitas questões ainda precisam ser respondidas e não há prazo para que o Congresso aprove a regulamentação.
Certificar uma empresa que adote um conjunto de boas práticas é muito bem-vindo, mas isso, por si só, não resolve. Saúde mental não deve ser um tema sazonal e não vamos resolver esse desafio de forma isolada apenas por uma lei de incentivo. Vale lembrar que é um incentivo apenas de imagem, pois a empresa não recebe nenhum benefício fiscal ou ganho direto.
Algumas perguntas ainda estão em aberto:
- quem exatamente vai certificar essas empresas?
- Como será constituída a comissão certificadora a ser instituída pelo governo federal?
- A que órgão estará subordinada?
- E como vai certificar?
- Qual será o risco de o governo certificar organizações que dizem que estão fazendo, mas que, na prática, não estão realizando nada?
O que é greenwashing?
Dentro da agenda ESG o termo greenwashing ilustra quando uma organização implementa estratégias e propagandas enganosas sobre suas práticas ambientais.
O mundo cobra, cada vez mais, que as empresas observem princípios sociais e de governança, e a sensibilização das lideranças corporativas é determinante para alavancar esta pauta.
Precisamos cuidar do ambiente no qual o indivíduo está inserido, trabalhando o sentido existencial em uma atmosfera de acolhimento, escuta e segurança psicológica. No contexto empresarial, este é um papel a ser exercido por e para as lideranças corporativas pois, ao mesmo tempo que são agentes de promoção da saúde mental, são também indivíduos que precisam de cuidados.
Se isso não for adotado de forma séria, corremos o risco de ter uma espécie de mentalwashing: a declaração de ações muito bonitas no papel, inclusive seguindo a lei, mas que, no dia-a-dia, não são efetivas e não estão enraizadas na cultura e cotidiano da organização.
Por Carlos Assis, editor do Anuário Saúde Mental nas Empresas. Psicólogo clínico e executivo com mais de 35 anos de experiência internacional. É fundador do Instituto Philos Org e diretor da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABEPS).
🎧Ouça o episódio 191 do podcast RH Pra Você Cast, “Novo certificado de saúde mental: o que, afinal, é esperado das empresas?”
Em março, entrou em vigor a Lei 14.831, que estabelece um certificado reconhecendo empresas como promotoras do bem-estar e qualidade de vida de seus colaboradores.
Mas o que exatamente essa lei exige?
Analogamente, será que as práticas comuns são suficientes para obter a certificação?
A fim de explorar mais esse assunto, a advogada Maria Lucia Benhame, especialista em direito empresarial, nos orienta sobre essa nova legislação. Portanto, confira!
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