Depois de anos de terapia, aprendi que quando a gente rejeita muito uma coisa, acabamos atraindo-a, mantendo-a por perto de nós.

Já perdi as contas de quantas vezes ouvi “quero uma solução ‘fora da caixa’”. A frase sempre é emitida por uma pessoa e endereçada a outra, normalmente a um subordinado ou prestador de serviços.

Caixas são objetos de afeto. Nelas guardamos o que é importante pra gente. Quando gostamos de uma pessoa, queremos “guardá-la numa caixinha”. Muitos presentes afetivos vêm embalados em caixas. Quanto mais espessa é a caixa, maior é a proteção que ela traz, quase como um aviso de que o conteúdo é valoroso. Mesmo as caixas que ficam anos esquecidas no arquivo morto têm algo de relevante a contar. Viram história.

O que não é importante a gente não guarda – nem mesmo em caixas. A gente descarta.

Mas as caixas de nossas vidas vão além dos objetos em formatos diversos. Estão dentro de nós, na nossa cultura, na nossa rotina. Fazem parte das nossas crenças.

Sob o argumento de estar tudo organizado, crescemos moldados dentro de limites. Lembra como as casas eram divididas? Sala de estar, sala de jantar, cozinha, quartos, área de serviço, banheiros… Na escola, as disciplinas encaixotavam o conteúdo.

No universo corporativo, os organogramas são apresentados por caixas. Linhas horizontais e verticais delimitam responsabilidade e autoridade. É um símbolo que diz muito sobre a cultura e o modelo de poder de uma organização.

Quando muito se divide, pouco se conecta, pouco se cria e dificilmente se encontra sentido.

Normalmente quem discursa sobre “pensar fora da caixa”, na verdade, tende a estar se sentindo bem quentinho dentro dela. É inconsciente. Sair da caixa exige coragem, autoconhecimento. É dolorido, mas gratificante.

Da próxima vez que você for dizer a alguém que ela deve “pensar fora da caixa“, tente observar onde a SUA caixa está. Ou onde você está. Se puder, mentalmente, abra-a e a transforme em um tapete de papelão. Com ele, imagine-se criança escorregando na grama, protegendo-se da chuva ou mesmo fazendo uma cabana para brincar.

Depois de cuidar da sua caixa, certamente você terá a contribuir com quem está ao seu lado. E muito provavelmente com outra mensagem a transmitir, mais autêntica, propositiva e, claro, inspiradora.

Nunca mais diga ao outro para “pensar fora da caixa”.

Por favor.

Os desafios do mundo não cabem em caixas

Por Rafael Araújo, jornalista, empreendedor e líder. Autor do livro Tudo Comunica.

 

 

 

 

Ouça o PodCast RHPraVocê Cast, episódio 106, “Segundou” na “força do ódio”: o humor chega aos perfis corporativos” com Raphael Palazzo, criado e administrador da página Entrevistamento. Clique no app abaixo:

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