Lifelong learning, que ao pé da letra significa “aprendizado ao longo da vida”, não é um conceito novo. Nas décadas de 1970 e 1980, organizações como a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) passaram a reconhecer a educação contínua como fundamental para o bem-estar pessoal e social dos indivíduos.
Neste artigo eu gostaria justamente de refletir um pouco com vocês sobre esses benefícios nos dois níveis, pessoal e social. Recentemente o jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem com a seguinte manchete: “Produtividade trava crescimento e nível brasileiro é ¼ do americano”.¹ Grosso modo, significa que um trabalhador brasileiro leva 1 hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um americano entrega em 15 minutos. A matéria explica que, apesar do aumento da produtividade do setor agro e do aumento da escolaridade no Brasil, a situação é preocupante.
Agora você me pergunta o que a produtividade brasileira tem a ver com o lifelong learning? A produtividade resulta da eficiência na utilização do capital em uso (máquinas e equipamentos) e do capital humano (educação e experiência do trabalhador). Para sermos mais produtivos, precisamos de pessoas, instituições, empresas, gestores, estruturas trabalhistas e competitivas bem formadas, bem equipadas e, principalmente, atualizadas.
A competitividade do Brasil depende de incentivar a aprendizagem contínua, mas é impossível falar de educação sem uma visão complexa e crítica das disparidades no país. Barreiras econômicas impedem as pessoas de terem acesso a cursos formais e informais. Essas barreiras se refletem na falta de recursos para comprar materiais educativos e até em obstáculos primordiais de infraestrutura como uma internet de qualidade. Duplas, triplas jornadas, responsabilidades familiares e sociais também se apresentam como desafios reais ao lifelong learning.
Para completar, há pouco incentivo institucional, de empresas e organizações, no desenvolvimento permanente de seus funcionários. O foco sempre no curto prazo, tentando bater metas, matando um leão por dia, impede a capacitação e a criação estratégica de um projeto efetivo de treinamento de pessoal. No nível social, então, o lifelong learning depende de um esforço coordenado entre políticas públicas, incentivos empresariais e promoção de uma verdadeira cultura de educação continuada no Brasil.
Agora que já temos um panorama do cenário da educação no Brasil, vamos falar sobre os benefícios da aplicação do lifelong learning na vida de cada um. No passado, as pessoas acreditavam que bastava finalizar o ensino formal e trabalhar pelo resto da vida até a aposentadoria. Sabemos que hoje não é bem assim. As pessoas estão vivendo mais e melhor, trabalhando por muito tempo, buscando mais qualidade de vida, e tendo que se adaptar às novas tecnologias e tendências do mercado de trabalho.
Para seguir no jogo, os trabalhadores precisam investir em conhecimento digital, metodologias ágeis, ESG, criatividade, inovação, autoconhecimento e inteligência emocional. Parece muita coisa e é muita coisa. Por isso é importante incorporar uma mentalidade de aprendizagem constante. É igual treino de academia: você já viveu aquela experiência de voltar a treinar depois de um longo período parado? Nos primeiros treinos, a musculatura dói intensamente durante dois a três dias após o exercício. Você pode precisar de um analgésico e sentir vontade de desistir. No fundo, sabe que a culpa foi sua por ter interrompido a musculação e, com persistência, logo vai recuperar o ritmo. É a mesma coisa com os estudos.
Para você que está se sentindo motivado a voltar a estudar e não sabe por onde começar, eu deixo aqui abaixo algumas dicas. Se você tentar aplicar todas no seu dia a dia, estará incorporando o verdadeiro espírito do lifelong learning, mas adotar apenas uma das práticas já trará imensos benefícios:
1) Faça uma busca ativa por cursos e workshops: liste habilidades que gostaria de desenvolver ou áreas do seu interesse e, então, procure profissionais que são referência na área, cursos profissionalizantes, workshops e seminários. Faça bom proveito de plataformas de ensino virtual. Comece a estudar e não pare mais.
2) Leia muito: qual foi o último livro que você leu? E artigo científico da sua área? Quais são as publicações mais importantes para a sua profissão? Não gosta de ler ou está muito enferrujado para começar? Então entre e portais especializados ou vá até uma livraria física e procure por biografias de pessoas que você admira. Até mesmo livros de ficção podem despertar insights poderosos na sua vida. Com tanto audiolivro que existe hoje, falta de tempo não é desculpa.
3) Networking e mentoring: eu concordo que nem todo aprendizado está nos livros ou em uma sala de aula. Colegas de trabalho, gestores e até concorrentes podem nos ensinar lições valiosas. Por isso é importante conectar-se para trocar saberes e experiências. Vá a eventos focados em networking e procure saber se os profissionais que você admira prestam serviços de mentoria. Sua carreira pode estar estagnada por falta de novas perspectivas.
4) Coloque o aprendizado em prática: se você está fazendo um curso de marketing digital, pode aproveitar a oportunidade para renovar as suas redes sociais, criar um site com portfólio e transformar o e-commerce da marca de um amigo. Você pode achar interessante fazer voluntariado por um período até descobrir se uma nova formação é realmente para você. Aplique uma metodologia ágil na gestão das tarefas domésticas. Use o cotidiano para solidificar novos aprendizados.
Espero que eu tenha te convencido a investir em autoaperfeiçoamento contínuo e que você adquira novas habilidades para enfrentar um mercado de trabalho em constante evolução. O lifelong learning será um grande aliado para o seu desenvolvimento pessoal, vai aumentar sua empregabilidade e capacidade de inovação. Boa sorte nos estudos!
Por Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital.
Ouça o episódio 155 do RH Pra Você Cast, “O impacto da Geração Z nas relações de trabalho“. Pela primeira vez, quatro gerações dividem o mesmo ambiente de trabalho no mundo corporativo. Uma delas, a Geração Z, tem trazido diversas transformações e reflexões ao mercado de trabalho. Mas será que as empresas, líderes e RH conseguem entender o que esses jovens buscam e almejam para suas carreiras? O que tudo isso exige de revisão por parte da gestão de pessoas e como se tornar um “parceiro estratégico” desses profissionais? Neste episódio, conversamos com a doutora especialista em Geração Z, Thaís Giuliani, também consultora, mentora, escritora e criadora da Geração Zimago. Acompanhe:
Não se esqueça de seguir nosso podcast e interagir em nossas redes sociais:
Facebook
Instagram
LinkedIn
YouTube
Capa: Depositphotos