Resolvi escrever esse artigo porque acredito que ele pode ajudar muitas pessoas. Até porque muitos de nós se definem como perfeccionistas e acreditam que esse é inclusive, um defeito desejável.
Basta pensar por exemplo quando em alguma situação qualquer (nas entrevistas de emprego isso é bem comum), alguém lhe pergunta sobre um ponto de melhoria: “Sou ansioso e /ou perfeccionista”, são as duas respostas mais mencionadas.
Eu também me encaixo nessa lista. Sempre fui perfeccionista e demorei para perceber que isso é um problema. Por muito tempo, me torturei a cada erro cometido ou quando não atingia um ideal de perfeição que havia construído em meu imaginário.
Hoje, após estudar sobre o tema e compreender mais sobre saúde mental, percebo que esse comportamento contribui para o adoecimento físico e emocional, a insatisfação com a própria performance e se correlaciona diretamente com a Síndrome do Impostor.
E eu espero que esse report contribua para aumentarmos a nossa consciência sobre os perigos ocultos do perfeccionismo para nossos resultados e também para despertarmos sobre a forma que nos relacionamos com os outros.
Mirando na excelência, acertando na insatisfação
Eu acredito na boa intenção que o perfeccionista manifesta. Ele quer fazer um bom trabalho. Aliás , um ótimo trabalho e isso é legitimo.
Mas como brilhantemente o Dr. Thomas Curran , especialista no tema explica, o que o perfeccionista busca e muito provavelmente de forma inconsciente , é atingir a perfeição. E aí está o problema.
A perfeição não existe. E como esse ideal nunca é atingido, ao menor sinal de falha ou de falta de reconhecimento, pode se tornar um problemão para o “pobre” perfeccionista.
Como diz o Dr. Curran, por trás de uma fachada de excelência, o que se busca alcançar é um ideal inatingível, que gera insatisfação.
O objetivo é esconder qualquer possível erro, qualquer possível vulnerabilidade compreendida como sendo um obstáculo a ser evitado a todo custo.
Nas palavras de do Dr. Curran:
“ O perfeccionismo une não só a busca por um padrão alto, mas passar pela vida de uma forma defensiva, escondendo todos os defeitos, falhas e lacunas das pessoas ao redor”.
Percebem como é exaustivo e inútil tentar corresponder a esse padrão?
Não é incomum que após completar uma tarefa por exemplo, o perfeccionista se questione sobre seu desempenho e caso ele não seja considerado ideal, o efeito é no mínimo devastador.
Surgimento de transtornos emocionais
É aí que mora o perigo, porque esse padrão incessante de autocritica, pode contribuir para o surgimento de transtornos e emocionais como a depressão, ansiedade e burnout.
E a tal Síndrome do Impostor?
É bem importante dizer que essa “síndrome” não pertence a um diagnóstico formal reconhecido. Mas trata-se de um conjunto de comportamentos caracterizado pela sensação de ser uma “fraude” ao desempenhar tarefas ou assumir novas posições.
Eu relaciono esse comportamento também ao perfeccionismo.
Os estudos revelam que pessoas mais controladoras e mais autocríticas, tendem a desenvolver esse padrão de pensamento: questionam o próprio desempenho ao menor sinal de possibilidade de falha.
A procrastinação também pode ser entendida dentro dessa perspectiva. Afinal de contas, os procrastinadores podem adiar o que precisa ser feito, como medo de não estarem bem preparados ou correrem o risco de não atingirem resultados suficientes.
Tipos de Procrastinadores
O ciclo causado por essa constante insegurança funciona da seguinte forma: a pessoa tem uma expectativa muito alta em relação ao próprio desempenho, entretanto questiona quando recebe reconhecimento pelo que realizou, ou ainda, teme não conseguir repetir o mesmo resultado por outras vezes. Ou, caso não receba o devido reconhecimento, sente-se culpada e pode desanimar e desistir.
Em alguns casos, a insegurança pode de fato afetar o desempenho e trazer tudo aquilo que a pessoa mais teme: não conseguir demonstrar exatamente o que é capaz de fazer.
Os três tipos de perfeccionismo
O perfeccionismo não é somente direcionado ao perfeccionista. Ele pode ser direcionado aos outros e socialmente determinado.
- O perfeccionismos voltado a si: é aquele que estamos descrevendo nesse artigo. Caracterizado por um excesso de crítica e preocupação sobre o próprio desempenho e performance.
- O perfeccionismo voltado ao outro: esse tipo de comportamento projetivo acontece quando a pessoa ao invés de criticar a si, passa a ser crítico com os demais, criando um ambiente de toxicidade e de insegurança psicológica que impacta negativamente as relações pessoais e profissionais.
- O perfeccionismo socialmente determinado: muito presente atualmente, aparece nos padrões determinados pela sociedade como os ideais de beleza estilo de vida, por exemplo.
As redes sociais e a mídia impulsionadas pelas indústrias que lucram com nossa insatisfação, contribuem ainda mais para esse padrão, especialmente no público adolescente e pré-adolescente, graças a insegurança típica da idade.
Hoje tempos um padrão de como devemos ser e mais ainda: parecer. È preciso que o que somos e temos seja visto e validado pelo Outro, do contrário, é como se não existisse.
Isso explica o motivo do aumento das questões de saúde mental entre os jovens que passam horas conectados em redes sociais, onde cada like é sinônimo de aprovação social.
Como lidar com o perfeccionismo?
Vamos agora pensar em estratégias que podem nos auxiliar a reconhecer esse padrão disfuncional e gradualmente, abandoná-lo.
- Fortaleça seu autoconhecimento: Reconheça seus pensamentos e crenças sobre si mesmo e sobre suas realizações .
Observe se estas crenças estão baseadas em seus valores e se podem de fato serem alcançadas. Isso lhe ajudará a perceber se existem expectativas irreais sendo utilizadas como parâmetro. - Evite se comparar: Na raiz do perfeccionismo está sempre um padrão de comparação. Esse padrão aliás é totalmente injusto: primeiro porque desqualifica a nossa história, com toda a nossa jornada de crescimento, baseada em erros e acertos.
Quando a comparação é com o outro, ela é igualmente injusta, porque vemos apenas um resultado em desconhecemos igualmente como o mesmo foi construído. - Assuma uma posição “ bom o suficiente”: ao invés de buscar um padrão irreal , que tal realizar com competência e foco o que precisa ser feito?
Dentro dessa perspectiva, ainda que você não acerte, tenha a certeza de ter feito seu melhor.
Bom, por aqui, posso lhes dizer que desde que me conscientizei que o perfeccionismos é problemático, busco reconhecer suas manifestações e ter uma relação mais harmoniosa comigo mesma, inclusive com os meus erros.
E você? Reconhece esse padrão em seu dia- dia ou precisa discutir sobre esse tema com seu time?
Por Letícia Rodrigues, fundadora da Fiorire Consultoria. É psicóloga e atua com desenvolvimento de pessoas, ajudando empresas e profissionais em seus desafios corporativos. Desenvolve programas de gerenciamento emocional, desenvolvimento de habilidades e gestão de carreira. Já treinou colaboradores de empresas como SBT, MetLife , Nike, London Stock Exchange sobre temas como Inteligência Emocional, Motivação, Comunicação Assertiva e Saúde Mental Corporativa. Foi eleita Top Voice Linkedin e uma das 100 pessoas escolhidas como participante do Programa de Aceleração de criadores de conteúdo do LinkedIn, onde é LinkedIn Creator.
Ouça o episódio 176 do podcast RH Pra Você Cast, “O que esperar do bem-estar corporativo para 2024?“. Falar de bem-estar nas empresas envolve diferentes nuances e desafios. Fato é que o tema não pode perder a sua força dentro das organizações, especialmente por conta das “incompatibilidades” ainda existentes, o que pode comprometer a qualidade das estratégias de bem-estar e qualidade de vida desenvolvidas. Para entendermos melhor a dinâmica do que é esperado em relação ao assunto para 2024, convidamos Renato Basso, VP de Pessoas Global do Gympass, que compartilha os principais insigths mapeados no estudo “Panorama do Bem-Estar Corporativo”, que recém lançou sua segunda edição. Confira o papo clicando abaixo:
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