De tempos em tempos temos a ilusão e a arrogância de que conseguimos fazer o que planejamos sem sobressaltos, que nossos planejamentos serão executados em linhas retas e que o imponderável nunca acontecerá. É fácil ter este tipo de ilusão quando passamos por ciclos positivos, ainda que relativamente curtos, de cinco ou 10 anos.
Isto leva a uma errada sensação de certeza que destrói o espírito resiliente da sociedade e da capacidade do indivíduo de buscar a sua própria independência, gerando ilusão do fácil nas novas gerações e acomodação geral da sociedade.
A mais pura verdade é que não controlamos nada nesta vida. Cataclismas, inflação, câmbio, impostos, preços de commodities, trocas de poder entre outros, só nos fazem refletir sobre o que os estoicos já diziam há 2000 anos atrás, a vida é breve, trabalhe e foque no que você controla, seja virtuoso. Aceite o seu fardo com temperança e resolva o que você pode resolver.
A meritocracia e o papel do indivíduo se perderam nas discussões e narrativas ideológicas. Isto influencia a maneira como agem os governos e as companhias das quais consumimos produtos e serviços que tanto amamos.
A Geração X, sucessora dos baby boomers, focada na boa educação e desejo de produção, produziu, consumiu e transformou a sociedade que vivemos hoje de forma radical. Eles, bem verdade, passaram por momentos mais difíceis e socializaram muito mais.
A geração X está praticamente proibida de aposentar, dado o hiato de capacidade que vem das gerações mais novas, menos tolerantes ao esforço e ao trabalho duro.
O nível de risco que os mais velhos assumiram nas suas vidas pessoais e financeiras para fazer sonhos acontecerem foi raramente compensado e, apesar de tudo, seguiram em frente.
Como será que as novas gerações vão conviver com o empreendedorismo?
Será que elas terão o mesmo nível de apetite e resiliência?
O que acontecerá se o desinteresse coletivo predominar?
A obsessão do passado pela educação se esvaiu. Hoje inclusive o setor privado de educação está em declínio, com professores pouco exigentes e pais com pena de seus filhos. Nossos filhos têm muito conteúdo, mas são rasos em grande parte e não são estimulados ao pensamento crítico, dado que seus cérebros estão afeitos a recompensas rápidas. Isto é uma discussão bem séria e com impactos óbvios.
Na medida em que as pessoas aguentam menos sofrimento, isto impacta em tolerância a risco e na ambição por possíveis prêmios futuros de recompensa.
O “entitlement“, mal traduzido para o português como “eu mereço”, está coletivamente arraigado na sociedade e isto vai impactar na capacidade de empreender e transformar a sociedade no futuro.
Tempos difíceis fazem bons marinheiros. Cabe a sociedade e aos governos entenderem a bola de neve que está se formando antes de virar uma avalanche. Culpar um setor da sociedade por qualquer tipo de critério irrazoável nunca resolveu, só denunciou o fim de um ciclo econômico e troca de poder.
A educação de qualidade extensiva a todos e o incentivo à meritocracia tem mostrado resultados notáveis em vários países do Oriente como Cingapura e Coreia do Sul. Os exemplos estão aí e o abismo está logo ali. Hora de governos e sociedade se mexerem.
Por Marco França, Engenheiro pela PUC/Rio, fundador da Auddas, mentor no G4 e possui MBA pela Coppead/ UFRJ.
Ouça o episódio 155 do RH Pra Você Cast, “O impacto da Geração Z nas relações de trabalho“. Pela primeira vez, quatro gerações dividem o mesmo ambiente de trabalho no mundo corporativo. Uma delas, a Geração Z, tem trazido diversas transformações e reflexões ao mercado de trabalho. Mas será que as empresas, líderes e RH conseguem entender o que esses jovens buscam e almejam para suas carreiras? O que tudo isso exige de revisão por parte da gestão de pessoas e como se tornar um “parceiro estratégico” desses profissionais? Neste episódio, conversamos com a doutora especialista em Geração Z, Thaís Giuliani, também consultora, mentora, escritora e criadora da Geração Zimago. Acompanhe:
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