Crise cibernética?
A crise cibernética representa um desafio complexo que pode abalar os alicerces de qualquer organização. Ela transcende a esfera tecnológica, exigindo uma resposta que vá além da mera contenção de danos.
O Brasil sofreu 60 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos em 2023, de acordo com dados do FortiGuard Labs. Quando comparado a 2022, ano que registrou 103 bilhões de tentativas, mostra uma queda de 41,7%.
No total, a região da América Latina e o Caribe sofreu 200 bilhões de tentativas de ataques em 2023, 14,5% do total reportado globalmente no ano passado. Os países da região com maior atividade de ataques cibernéticos em 2023 foram México, Brasil e Colômbia.
Neste contexto, o papel do RH se destaca como uma área de importância, não apenas mitigando os impactos imediatos, mas também fortalecendo a resiliência organizacional a longo prazo. As empresas, ao se depararem com crises cibernéticas, enfrentam a necessidade de uma resposta coordenada que envolve todas as suas áreas estratégicas, e o RH emerge como uma peça central nessa complexa engrenagem.
Reputação e cultura: a interseção
Em um ambiente de negócios onde a reputação é tão valiosa quanto qualquer ativo tangível, o RH se posiciona como guardião da imagem corporativa durante crises. Nesse sentido, a comunicação cuidadosa, que equilibra transparência e segurança, se torna vital.
Pois, não se trata apenas de gerenciar a percepção externa, mas de assegurar que, internamente, os colaboradores compreendam a gravidade da situação e se sintam parte da solução.
Além disso, o RH deve agir como um elo entre a organização e os grupos externos, garantindo uma comunicação clara e transparente sobre as medidas adotadas para mitigar o impacto do ataque.
Isso inclui fornecer informações precisas e atualizadas, endereçando as preocupações da comunidade e dos sindicatos, ao mesmo tempo em que colabora com a imprensa para garantir que as informações divulgadas sejam consistentes e não causem pânico.
A cultura organizacional, muitas vezes vista como um conceito abstrato, assume um papel central no enfrentamento de crises. Dessa forma, empresas com culturas fortes e enraizadas são naturalmente mais resilientes, capazes de mobilizar esforços coletivos que superam os desafios impostos. O RH, como protagonista da cultura, precisa agir com presteza para canalizar o poder do coletivo em direção à superação.
Vale destacar que nenhuma organização é uma ilha. Durante uma crise cibernética, o benchmarking – o ato de aprender com as experiências de outras empresas – se torna uma prática essencial. Este processo não apenas fornece insights sobre melhores práticas, mas também facilita a antecipação de problemas que poderiam não ter sido previstos internamente.
A troca de experiências com outras organizações que já passaram por crises similares cria uma rede de conhecimento coletivo que pode ser o diferencial entre uma resposta bem-sucedida e uma falha catastrófica.
O elemento humano na resolução de crises
Em tempos de crise, o foco tende a se voltar para a tecnologia e as medidas de contenção, mas é o elemento humano que, frequentemente, define o sucesso ou o fracasso na recuperação.
O RH deve promover um ambiente onde os colaboradores tenham o suporte necessário, tanto psicológico quanto operacional, para enfrentar a tempestade. Isso significa não apenas fornecer os recursos necessários para que as equipes possam desempenhar suas funções, mas também assegurar que esses colaboradores sintam que fazem parte de uma estratégia coesa e bem-estruturada.
O bem-estar emocional dos colaboradores não pode ser negligenciado. Programas de saúde mental, assistência social e campanhas de mobilização interna são mais do que ações de suporte – são demonstrações tangíveis de que a empresa valoriza e protege seu capital humano.
Estes esforços não apenas mitigam os impactos imediatos, mas também reforçam a confiança e o comprometimento dos colaboradores com a organização a longo prazo. Organizações que implementam programas robustos de apoio emocional durante crises cibernéticas têm colhido benefícios significativos.
Comunicação transparente e resiliente
A comunicação durante uma crise cibernética deve ser tratada com destaque. Ela precisa ser realista, contínua e acolhedora, com o intuito de reduzir o clima de incerteza e medo que pode paralisar uma organização. O RH deve liderar essa comunicação, utilizando uma abordagem que promova a segurança psicológica e reforce os valores culturais que sustentam a empresa.
Outro ponto é a necessidade de capacitar as lideranças para conduzir conversas difíceis em momentos de crise é uma responsabilidade fundamental do RH.
Em situações delicadas, como um ataque cibernético ou uma mudança organizacional significativa, os líderes devem estar preparados para lidar com as preocupações e emoções dos colaboradores de maneira empática e assertiva.
Além disso, a importância de celebrar pequenas vitórias não pode ser subestimada. Essas celebrações mantêm o moral elevado e oferecem um alívio necessário em meio a um cenário de pressão constante.
O reconhecimento do progresso, por menor que seja, fortalece o espírito de equipe e reafirma a capacidade da organização de superar adversidades.
O caminho para a resiliência organizacional
A verdadeira lição que emerge das crises cibernéticas é a importância da cultura organizacional como um fator de combate à adversidade. A adaptabilidade, a flexibilidade e a resiliência não são apenas características desejáveis; elas são essenciais para a sobrevivência em um mundo onde as ameaças cibernéticas são uma constante.
A ação pós evento, reunindo as pessoas para fortalecer a cultura organizacional, com base nas lições aprendidas. Também é uma forma de agradecer a união das pessoas durante a crise e comunicar planos de ações posteriores ao evento.
Por fim, o papel do RH em crises cibernéticas vai muito além do gerenciamento de recursos humanos. Ele envolve a preservação do ativo mais valioso de qualquer organização: suas pessoas.
Ao fomentar uma cultura de resiliência, emerge uma empresa com pessoas mais fortes e unidas. Este é o legado que as crises cibernéticas deixam para o mercado: a importância de se investir no elemento humano como a verdadeira chave para a resiliência organizacional.
Por Juliana Dorigo, diretora de Recursos Humanos e administrativo da Paschoalotto.
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