A estratégia segue o sonho: o papel das visões ambiciosas para criação de valor.

Há quem acredite que a vida imita a arte e, no mundo corporativo, havia uma brincadeira de que a vida imitava o gráfico. Essa piada era comum em momentos de planejamento orçamentário, quando os planos pareciam demasiadamente otimistas.

A experiência me trouxe uma conclusão de que – quando se trata de negócios – as estratégias bem-sucedidas seguiram sonhos ambiciosos. Coloco dessa forma porque a quantidade de planos estratégicos que falham superam com larga distância os exitosos.

E quando analisado em perspectiva, o percentual de empresas que realmente entregam valor com consistência ao longo do tempo é bem baixo.

Fazendo referência a Silvio Meira, em um recente artigo publicado na MIT Sloan Review Brasil, pelo menos 50% dos planos não são executados e, daqueles que são, menos de 1/3 satisfazem os objetivos esperados.

Agora, se por um lado as estratégias mais falham do que sucedem, por outro, todos os anos as empresas seguem planejamentos que depositam altos níveis de confiança na construção de extensas planilhas e decks de powerpoint impecáveis.

Por isso afirmo: temos que falar mais abertamente sobre o fato de que estamos ano a ano repetindo processos ineficazes que possuem muita ancoragem no business as usual e potencial raso quando pensamos em discussões de premissas e recursos necessários para garantir a entrega dos planos.

Lembro sempre de George Brown, um dos meus primeiros gestores, que dizia: “Orçamento não é profecia auto-realizável”. O foco excessivo na construção de planilhas e desdobramentos de números ofusca a discussão mais importante que é sobre COMO vamos endereçar o plano.

Pensar uma estratégia é um ato criativo e que promove alinhamento entre aqueles responsáveis por garantir a sua execução. Qualquer planejamento que seja incapaz de endereçar visão, alinhamento e clareza é insuficiente para ambientes de crescimento acelerado ou que estejam em processo de transformação.

É com o pensamento estratégico que se pode formular novos caminhos, desconstruir vieses cognitivos, revisar crenças limitantes e estabelecer nortes ambiciosos, ousados e inovadores.

Não à toa o combo “criatividade + originalidade + iniciativa” está entre as top 5 competências destacadas como altamente relevantes para profissionais do futuro pelo fórum mundial.

Preciso destacar aqui o papel do líder visionário. Ao final do dia, a estratégia é storytelling: não existe fórmula mágica para construir planos que possuam colete a prova de falha e por isso a estratégia é, em primeiro lugar, um ato de fé.

O líder visionário é aquele que tem essa capacidade única de vislumbrar um futuro, acreditar nele e vender essa visão para que os demais não apenas acreditem que esse futuro é crível, mas que também se sintam engajados e comprometidos a trabalhar nele.

Em particular, empreendedores costumam ser verdadeiros vendedores de sonhos.

Vale destacar aqui que não é apenas no empreendedorismo que o líder visionário se faz necessário. Líderes em empresas tradicionais precisam estar preparados para estabelecer uma ambição de crescimento tão envolvente que seja capaz de impulsionar uma série de movimentações ousadas de forma fragmentada em todos os níveis da companhia.

Negócios tradicionais envolvem muitos processos e legados e, mesmo quando agendas de inovação são criadas, costumam ficar presos em inovações de produtos ao invés de explorar inovações que alterem de forma mais substancial os modelos de negócio.

Um vício que costuma se quebrar por esses líderes ousados e sedutores que em muitos casos acabam funcionando como re-founders.

Deixo aqui um conselho: seja você um founder ou um re-founder, é crucial compreender a importância de estabelecer ambições que conversem com as emoções, ainda que elas possuam base lógica e permitam às pessoas compreender com clareza qual o propósito maior da jornada.

O ideal de startup transada e dinâmica em que as pessoas trabalham sem hierarquias e com muita clareza do propósito é uma realidade difícil de manter ao longo do processo de escala.

A verdade é que à medida que a startup vai superando a marca dos 50 colaboradores, as políticas e as burocracias tão características da velha economia começam a fazer parte do cotidiano e, nesse momento, a frustração de founders é inevitável, e isso acontece por dois motivos:

  1. Deixam de reconhecer na empresa a cultura que construíram inicialmente;
  2. A empresa vai ficando lenta e pouco responsiva.

Isso costuma acontecer à medida que a startup se capitaliza e precisa acelerar seu capital humano, e começam a contratar os executivos de mercado.

A percepção de risco aumenta, o medo de não estar com o avião sob controle e as interferências de pessoas com pouco tempo de casa levam os empreendedores a buscar formas de controlar melhor a gestão do negócio com mais especializações de times, metas táticas e programas de remuneração variável.

Na minha visão, o alinhamento é a chave do jogo, times com muita autonomia que falham em alinhar dispersam energia e vão perdendo consistência ao longo do tempo.

Ao final do dia, seja em grandes empresas tradicionais, ou em startups de crescimento acelerado, são sonhos ambiciosos e amplamente comunicados a todos é que são capazes de tracionar estratégias vencedoras.

O papel das visões ambiciosas para criação de valor

Por Felipe Ladislau, sócio da Organica, aceleradora de pessoas e negócios que auxilia empresas em expansão a ganhar com as oportunidades proporcionadas pelas janelas do mercado.

 

 

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