Diversas pesquisas científicas já mostraram o quanto a mentira está incorporada à rotina das pessoas, e claro, também está presente no ambiente de trabalho.

Não é difícil achar quem tenha vivido situação em que o líder orientou a suavizar alguns termos, ocultar problemas ou até mesmo mentir para não perder um contrato, evitar um desgaste ou até para conquistar um cliente novo.

Em meus 10 anos de trabalho orientando empresas no desenvolvimento de programas de compliance, e investigando condutas ilegais no ambiente corporativo, percebi que essas mentiras eram recorrentes.

Contudo, a mentira nesses espaços pode resultar em processos cíveis, trabalhistas e até criminais, com implicações jurídicas sérias para as empresas.

Além disso, quando um líder orienta seu funcionário a mentir, ele compromete a cultura organizacional, estimula condutas desonestas e favorece casos de corrupção.


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Devemos ter em mente que toda conduta indevida estimulada ou tolerada transmite para os funcionários a mensagem de que ‘a desonestidade é válida’, isso abre margem para oferecimentos e recebimentos de suborno, manipulações de números e resultados, casos de assédio e todo tipo de não conformidade corporativa.

É um verdadeiro efeito dominó, que pode contaminar o ambiente de trabalho.

Crime

Outro cenário comum é empresas pedirem para funcionários mentirem em depoimentos na Justiça do Trabalho, como testemunhas em processos movidos por ex-colaboradores. O que ninguém fala é que mentir em audiência é crime de falso testemunho, artigo 342, e a pena é de 2 a 4 anos de prisão para o colaborador.

O líder, que obriga o funcionário a mentir, também comete crime, só que de constrangimento ilegal, que pune condutas para quem constrange alguém a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. A pena é de três meses a um ano de detenção.

Danos Morais

Infelizmente, esse tipo de situação não é rara. Uma breve consulta em nossa jurisprudência prova isso. É fácil encontrar casos de funcionários que obtiveram indenizações na Justiça depois de ficarem com a moral abalada por terem serem obrigados a mentir por um líder direto ou alto executivo.

Diante desses cenários, sempre oriento que os colaboradores se neguem a embarcar nas mentiras e reúnam provas, como conversas gravadas ou e-mail, para fazer uma denúncia interna.

Além disso, ele pode recorrer ao Judiciário pleiteando uma rescisão indireta, que é um mecanismo pelo qual o empregado ‘demite’ a empresa porque ela descumpriu o contrato de trabalho.

Na rescisão indireta o trabalhador recebe todas as verbas indenizatórias, como se tivesse sido demitido e com aviso prévio indenizado.

Sei que é delicado porque as pessoas precisam do emprego, mas se cederem às pressões e mentirem, elas irão piorar muito e rapidamente, até que comprometam sua imagem no mercado, sem contar o risco de responderem a processos.

Tem empresas que até desejam isso, porque uma vez com sua imagem comprometida, aquele funcionário se verá obrigado a permanecer ali, mentindo outras vezes para favorecer a empresa e sofrendo outros tipos de abusos internos.

Mentir no trabalho ou sobre ele pode até dar prisão

Por André Costa, sócio fundador da Shield Compliance, advogado especialista em Compliance, entrevistador forense, palestrante, Professor, membro Tribunal de Ética e Disciplina OAB/SP e autor do livro Entrevista Forense Corporativa.

 

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