Lugar (in)seguro: Empresas ainda são hostis aos profissionais LGBTI+, mas primeiro levantamento brasileiro dessa população pode levar a mudanças importantes

O primeiro levantamento sobre a população LGBTI+ brasileira, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é revelador da insegurança vivida por essa comunidade.

Feita com dados coletados em 2019 no contexto da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), a sondagem divulgada às vésperas do Mês do Orgulho LGBTI+ (junho) mostra que apenas 1,8% da população brasileira se declara abertamente gay, lésbica ou bissexual.


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O IBGE reconhece que o percentual deve ser amplamente subestimado, já que as respostas foram coletadas num modelo de pesquisa em que não foi possível garantir a privacidade dos respondentes, muitos deles a viver no interior do país, inclusive em regiões e comunidades de forte influência conservadora.

Tanto que o Instituto já dá por certo que a parcela da população abertamente homo ou bissexual identificada na pesquisa compreende, em maior prevalência, pessoas financeiramente independentes e em posição de discutir sua sexualidade sem medo de represálias, o que, evidentemente, se trata de uma fração mínima dos brasileiros.

Sem falar que, do total de respondentes, 3,6 milhões de participantes não responderam às perguntas sobre sexualidade e outro 1,8 milhão não soube dizer qual é a própria orientação sexual, indicando que o tema ainda é tabu para muitos.

Levantamento não pode ser usado para minorizar comunidade LGBTI+

Embora necessite de ajustes para fazer uma aferição mais precisa da população LGBTI+ brasileira, de suas questões e contemplar outras identidades de gênero dentro da sigla, a pesquisa, ao divulgar pela primeira vez esse tipo de dado, representa um avanço importante na luta da comunidade pelo direito de ser reconhecida, respeitada e ter suas necessidades contempladas por políticas públicas.

Também é fundamental que os dados do levantamento não sejam utilizados para minorizar ainda mais a população LGBTI+, no sentido de relativizar seu tamanho, importância e necessidades.

Empresas ainda são lugares inseguros para profissionais LGBTI+

Além disso, vale ressaltar que o ambiente de insegurança evidenciado na pesquisa do IBGE não é exclusivo dos rincões conservadores do país, como se pode pensar.

A mesma insegurança ainda se vê nas empresas brasileiras localizadas em centros urbanos plurais, não necessariamente conservadores, com maior escolarização e possibilidades econômicas.

Pesquisa feita pela Santo Caos em 14 estados mostra que 38% das empresas sondadas possuem alguma restrição velada ou explícita à contratação de homossexuais.

O mesmo estudo diz que 40% dos profissionais LGBTI+ já sofreram discriminação por sua orientação sexual no trabalho e que ainda é prevalente entre eles o sentimento de que é melhor não falar sobre a própria sexualidade no trabalho.

A razão desse cenário ainda é a baixa prevalência de empresas que se empenham no cultivo de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor a todos, que valorizem as diferenças, com ações de promoção de diversidade, equidade e inclusão a contemplar, também, a comunidade LGBTI+, ações que, segundo o Instituto Ethos, existem em apenas 19% das 500 maiores empresas brasileiras pesquisadas recentemente pela organização.

Mesmo nas empresas com ações afirmativas para pessoas LGBTI+, ainda se vêem erros básicos, como tratar os temas desta interseccionalidade somente no Mês do Orgulho LGBTI+ (como se não fossem relevantes o ano todo).

Também não é incomum ver empresas mais empenhadas na criação de produtos para o consumidor LGBTI+ do que na estruturação de políticas de tolerância zero contra LGBTIfobia em seus próprios ambientes.

Inclusão da pessoa trans ainda é tabu para algumas organizações

Outro problema recorrente é o tratamento de segundo plano dado à inclusão da população trans, entre as mais vulneráveis e marginalizadas do país, tema ainda visto como tabu na maioria das empresas, inclusive entre gestores de diversidade corporativa.

Valorizar diferença, priorizar acolhimento: caminhos para inclusão na organização

Transformar essa realidade nas empresas depende de um compromisso muito claro da alta liderança com a promoção da inclusão e da diversidade na organização e com a criação de um ambiente de trabalho seguro a todos, inclusive as pessoas LGBTI+.

Além de valorizar a diversidade e a diferença, o ambiente de trabalho tem de ter canais de denúncia efetivos e ações de inclusão de pessoas de todos os grupos minorizados, em todos os níveis organizacionais e em proporções próximas à demografia social.

Aliás, no caso da comunidade LGBTI+, é imprescindível que os próximos levantamentos do IBGE delineem seu tamanho no Brasil, não só para a elaboração de políticas públicas, mas para que as organizações definam, por exemplo, metas de inclusão de pessoas LGBTI+.

Sem falar que também vão poder contribuir com respostas mais efetivas às questões centrais dessa comunidade.

Lugar (in)seguro Empresas ainda são hostis aos profissionais LGBTI+

Por Letícia Rodrigues, colaboradora regular da Comunidade do RHPraVocê, mãe do Carlinhos e do João Pedro, consultora em diversidade, equidade e inclusão.

 

 

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