Mulheres na liderança: como a empatia redefine o poder no século XX

A empatia deixou de ser uma qualidade desejável para se tornar uma competência essencial de liderança — especialmente na liderança feminina. Em um mundo corporativo cada vez mais complexo, onde inovação e colaboração são decisivas, líderes empáticos se destacam por construir ambientes de confiança, engajamento e alto desempenho.

O psicólogo Daniel Goleman, referência mundial em inteligência emocional, define a empatia como base da comunicação e da liderança eficaz: a capacidade de estar plenamente atento ao outro, compreender suas perspectivas e responder com sensibilidade e respeito. Essa não é apenas uma virtude humana, mas uma vantagem competitiva.

Um estudo global da DDI revelou que líderes empáticos impulsionam significativamente os resultados de suas equipes. Colaboradores sob sua gestão reportam níveis 61% mais altos de criatividade e 76% mais altos de engajamento em comparação com aqueles liderados por gestores menos empáticos.

Empatia e liderança feminina: avanços e barreiras sutis

Mesmo assim, apenas cerca de 40% dos líderes de linha de frente demonstram proficiência nessa habilidade. Historicamente, a figura do chefe esteve associada à autoridade rígida e ao comando hierárquico. Esse modelo, no entanto, vem sendo substituído por uma liderança mais participativa e humana, que valoriza escuta ativa, colaboração e desenvolvimento genuíno das pessoas.

Nesse novo contexto, a empatia ganha protagonismo como motor da inovação e da produtividade, e as mulheres, com sua experiência e sensibilidade, estão na vanguarda dessa transformação.

A presença feminina em cargos de liderança cresce, mas ainda enfrenta desafios estruturais. No Brasil, apenas 35% dos cargos de alta liderança são ocupados por mulheres. Além disso, elas recebem, em média, 21% menos que seus pares masculinos e têm 20% menos chances de promoção.

RH TopTalks 2025

A jornada feminina rumo ao topo, descrita pelas pesquisadoras Alice Eagly e Linda Carli como um labirinto, está repleta de obstáculos sutis, desde vieses inconscientes até a exclusão de redes de influência e o acúmulo de responsabilidades familiares.

Essas barreiras são reforçadas por estereótipos que tentam enquadrar o comportamento das mulheres líderes em moldes contraditórios. Espera-se que sejam empáticas sem parecer frágeis e assertivas sem parecer agressivas, um equilíbrio delicado que raramente é cobrado dos homens. Ainda assim, muitas mulheres têm desenvolvido estilos de liderança próprios, sem abrir mão da autenticidade.

Mulheres lideram com empatia e visão sustentável

Durante a crise da Covid-19, avaliadores reconheceram mulheres em cargos de gestão como mais eficazes que seus colegas homens em 13 das 19 competências de liderança.
Elas se destacaram em colaboração, motivação das equipes e gestão de pessoas em contextos de alta pressão. Esses resultados reforçam que empatia e desempenho caminham lado a lado e que estilos de liderança mais humanizados podem ser decisivos em tempos de incerteza.

A influência feminina também vem moldando uma nova visão de negócios. Pesquisas acadêmicas recentes apontam que mulheres líderes tendem a adotar perspectivas mais amplas e de longo prazo, considerando o impacto social e ambiental das decisões corporativas.

Um estudo de 2022 revelou que companhias com maior presença feminina na alta gestão são mais propensas a implementar práticas sustentáveis e de responsabilidade social. Isso ocorre porque, ao valorizarem a escuta ativa e o diálogo com stakeholders, essas líderes colocam temas como bem-estar, equidade e sustentabilidade no centro da estratégia empresarial.

Um exemplo marcante pôde ser visto na Climate Week NYC, evento que reuniu lideranças globais em torno das agendas de sustentabilidade e transição energética. Entre as vozes femininas que se destacaram estavam Grazielle Parenti, vice-presidente executiva de Sustentabilidade da Vale, Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, e Lisa Sachs, diretora do Columbia Center on Sustainable Investment da Columbia Climate School. A atuação dessas executivas evidenciou o papel transformador das mulheres na promoção de modelos de negócios sustentáveis e inclusivos, que conciliam propósito e rentabilidade.

Diversidade e empatia fortalecem a liderança do futuro

Além do impacto cultural, há ganhos concretos de desempenho. Relatórios da Conference Board mostram que empresas com maior diversidade de gênero na liderança tendem a apresentar resultados financeiros superiores.

A FIA Business School, em pesquisa divulgada pela Forbes, constatou que gestoras são percebidas como mais confiáveis e inspiradoras, criando equipes mais engajadas e inovadoras. Essa combinação de empatia, colaboração e visão de longo prazo tem fortalecido a cultura organizacional e preparado as empresas para um futuro mais dinâmico e competitivo.

Para consolidar esse avanço, as organizações precisam ir além dos discursos e investir em ações estruturais. Isso passa por combater vieses inconscientes em processos seletivos e promoções, adotar transparência salarial e oferecer políticas de apoio à maternidade e à conciliação entre vida pessoal e profissional.

Programas de mentoria e redes de apoio são igualmente importantes para preparar novas líderes e ampliar o acesso feminino aos espaços de decisão.

Ao mesmo tempo, líderes devem incentivar habilidades socioemocionais em todos os níveis. Isso deve integrar a formação de futuros líderes, não apenas mulheres.

Cultivar empatia, saber ouvir sem julgar e compreender diferentes perspectivas amplia a capacidade de engajar equipes diversas e promover inovação.

Mulheres redefinem liderança com empatia e propósito

Em última análise, a liderança empática não é uma responsabilidade exclusiva das mulheres, mas elas têm mostrado caminhos valiosos para exercê-la. Líderes mulheres integram colaboração, escuta ativa e visão comunitária ao seu estilo de gestão. Com isso, transformam paradigmas corporativos e provam que resultado e humanidade caminham juntos.

Promover mais mulheres em posições de comando, em ambientes preparados para acolher diferentes estilos de liderança, é uma questão não apenas de justiça, mas de visão estratégica de futuro.

Líderes mulheres com empatia transformam negócios e impulsionam inovação. Além disso, promovem equidade e resultados sustentáveis em um mercado em constante mudança.

Liderança feminina_foto da autora

Por Daniela Kallas, advogada humanitária e empreendedora social com 20+ anos em missões e projetos de impacto global. Sócia da Avencis Capital e investidora em negócios socioambientais. Atua em conselhos, é professora e embaixadora de causas humanitárias. Especialista em Direito Internacional e Ciências Humanas, dedica-se ao desenvolvimento sustentável e à articulação entre saberes locais e políticas globais.



🎧 Podcast RH Pra Você Cast:

A Evolução da Relação das Mulheres com o Mercado de Trabalho

No episódio 185 do Podcast RH Pra Você Cast, mergulhamos na fascinante evolução da relação das mulheres com o mercado de trabalho, a equidade e a liderança feminina. Afinal, esse é um tema crucial e repleto de nuances. Assim, explorararemos os dados, desafios e oportunidades que moldam essa trajetória.

Responsabilidades e Desafios

Segundo um estudo realizado pela Think Olga, 86% das mulheres enfrentam uma carga de responsabilidade considerável. Além disso, quase 60% delas têm a incumbência de cuidar de alguém. Em suma, essa realidade persiste mesmo em um mercado de trabalho que, embora tenha avançado, ainda carrega tabus e desafios para o público feminino.

A Jornada Dupla de Trabalho

Profissionais brasileiras frequentemente enfrentam a chamada “jornada dupla”: equilibrar as demandas do trabalho com as responsabilidades domésticas e familiares. Afinal, esse malabarismo é uma realidade que merece atenção e soluções práticas.

Especialistas em Inclusão Compartilham Insights

Com o propósito de discutir como o setor de Recursos Humanos pode contribuir para o bem-estar das mulheres no ambiente de trabalho e a liderança feminina, o “RH Pra Você Cast” convidou duas especialistas em inclusão:

  1. Jorgete Lemos: Sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços, trazendo sua vasta experiência em análise de dados e tendências.
  2. Maíra Liguori: Diretora das organizações da Think Eva, com insights valiosos sobre as melhorias que podem ser promovidas para apoiar as profissionais.

Ouça o episódio completo e, dessa forma, descubra como podemos construir um ambiente de trabalho mais igualitário e portanto mais acolhedor para todas as mulheres, assim como para a liderança feminina! 🎧

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Capa: Depositphotos